Bolsonaro é como um parasita que trabalha para impor ao corpo hospedeiro condições específicas sem as quais não pode sobreviver. Desde o início do mandato — seja para manter a claque entusiasmada, seja para escamotear sua própria incompetência, ou simplesmente para ganhar tempo até a próxima eleição —, está claro o único tipo de ambiente em que Jair almeja prosperar: um com bastante ruído.
O problema não está em termos um canalha na presidência da República. Já tivemos presidentes pouco virtuosos antes. O problema está na canseira provocada por essas tentativas de intimidar a democracia. Bravatas que já não assustam ninguém.
O disco arranhado de Bolsonaro não aborrece apenas pela repetição de groselhas — ainda esta semana o mentecapto em Chefe voltou a falar em voto impresso —, mas também pela estratégia em que ele se apoia ao ser utilizado.
Chega a ofender a inteligência que o presidente apele para grosserias e faniquitos autoritários sempre que se sente acuado. É verdade, boa parte dos 57 milhões de brasileiros que o elegeram foi suficientemente ingênua para acreditar nas suas promessas. Também é verdade que ainda hoje há quem acredite no que ele diz. A maioria, entretanto, está farta desses rompantes típicos de um ditador de republiqueta.
Com frequência, Bolsonaro ofende quem ousa não aprovar sua conduta amoral. Só por isso, e para além das evidências, já poderia ser rotulado de várias formas. Acima de tudo, porém, Bolsonaro é um sobrevivente. Há décadas faz o jogo que conhece, o da política mais rasteira possível. Nisso não está errado. Errado está quem ainda o compra.
A CPI não vai parar ou acomodar os fatos por causa dos chiliques do presidente. Tampouco a atuação criminosa do seu governo e a sua postura negacionista tampouco deixarão de ser punidas no futuro.E aqui não falo apenas do julgamento do povo nas urnas. Falo de um julgamento propriamente dito. Um que não deixe passar em branco centenas de milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas.
Enquanto isso, claro, o jogo é jogado: Bolsonaro continuará arrancando os cabelos e vociferando contra tudo e contra todos. Postura comum aos inseguros, diga-se, que a cada momento precisam reafirmar que mandam.
Caberá à sociedade — fundamentalmente à imprensa e às instituições — não morder a isca. Tivemos um bom exemplo disso durante o depoimento à CPI do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, quando conseguiram ressuscitar o debate sobre a eficácia da cloroquina. Já outro ministro, no caso do Supremo, Luís Roberto Barroso, veio a público contestar, e desse modo validar, a patacoada do presidente sobre o voto impresso.
Foi-se o tempo em que as pessoas ficavam escandalizadas com os rompantes de Bolsonaro. Cabe agora deixar de dar oxigênio para seus achaques. Parar de levá-los a sério.
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