Escondido atrás de um muro, um policial fardado espera sorrateiramente a passagem de jovens em fila indiana para acertá-los com uma barra. A cena aconteceu em Paraisópolis, cerca de um mês antes de outra investida da Polícia Militar de São Paulo na comunidade, desta vez provocando a morte de 9 pessoas que estavam em um baile funk. A cena foi filmada por moradores locais, provocou reação pública do governador João Dória e um breve comentário do presidente da República, mas a verdade é que ela transcende com folga o perímetro das favelas paulistanas.
Tijucano de alma, posso afirmar que não foi esse um caso isolado e muito menos inédito. Como bem expôs o filme “Tropa de Elite”, há policiais bons e ruins, entretanto aqueles que sobem o morro distribuindo cascudos estão longe de compor mero folclore. E isso por uma série de razões que variam de sua índole à falta de melhor preparo e remuneração justa ou adequada.
Há contudo um ambiente de raiva e psicopatia impetrado por políticos e endossado por boa parte da sociedade. Uma atmosfera que, se não pode ser responsabilizada por um problema atemporal, funciona como combustível para o seu acirramento. Quando não pela sua legitimação.
Não por acaso, mal a tragédia ganhou o noticiário e toda sorte de elucubrações logo ganhou espaço, sempre com o intuito de ponderar o imponderável.
Existe algo de muito errado com um grupo de pessoas quando, por conta de um debate político-ideológico, elas perdem a capacidade de se colocar no lugar do outro. Quando instintos que nos separam da maioria dos animais, como por exemplo a empatia, são sufocados pelo fanatismo.
Não hesito em afirmar: o antipetismo, reação em si compreensível, foi propositadamente amalgamado a agendas que nada têm a ver com o debate eleitoral. Tornou-se mola para discursos sinistros e válvula de escape para sentimentos ameaçadores à ordem democrática.
Da constatação à desesperança é um pulo. É duro admitir, mas, dado o cenário, fica difícil imaginar uma saída dessa arapuca em que nos metemos. Pelo menos em um curto espaço de tempo. A postura do governo Jair Bolsonaro e o inadmissível silêncio de seus apoiadores — incluindo aqueles que assim não se identificam, embora o sejam na prática ao se concentrar apenas na agenda econômica e ignorar todo o resto — não colaboram.
Assim como não colabora a esquerda, refém de um discurso unicamente interessado em polarizar o debate político, como já avisou o ex-presidente Lula.
Mais do que nunca, o futuro do Brasil, quiçá o resgate de sua sanidade, recai sobre os moderados. Ou o hospício nos transformará, a todos, em zumbis morais.
Já está acontecendo.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF
Deixe sua opinião