Enquanto escrevo estas linhas, as disputas pelo comando da Câmara e do Senado seguem indefinidas, com toda sorte de atos de campanha e articulações correndo soltas, da distribuição de santinhos a convites para trocas de partido. Contudo, é possível dizer que Rodrigo Maia desponta como favorito no primeiro caso e Renan Calheiros periga levar no segundo.
Periga entre aspas, deve pensar o governo.
Sejamos claros, Renan representa o que há de mais arcaico na nossa política. Interpreta aquele papel que o cidadão comum não concebe, difícil de digerir, do sujeito capaz de dançar conforme a música. De dar tapinhas nas costas e por trás das cortinas usar de lábia e até de estratégias pouco saudáveis para a democracia no intuito de defender seus interesses.
Entretanto, é exatamente de um líder assim no Senado que a nova gestão necessita.
Melhor dizendo: não se trata apenas de poder contar com alguém com cancha para fazer o jogo político. Isso também, mas, acima de tudo, de quem seja referência para os demais senadores. Que tenha demonstrado a esse universo em particular ser capaz de manter independência do Executivo e até mesmo de confrontá-lo se necessário for. E que seja reconhecido por cultivar um resiliente instinto de sobrevivência.
Não por acaso esta pode vir a ser a sua terceira campanha vitoriosa para comandar a Senado (descontando as reeleições). E nem é à toa que profere agora um discurso em favor da reforma da Previdência quando há coisa de meses, precisamente durante a eleição, desfilava ao lado de Fernando Haddad demonizando-a. O compromisso de Renan Calheiros não é com o Brasil, mas pode ser, desde que este convirja com o seu. É exatamente esse o caso no momento.
Renan não seria tolo de confrontar um governo recém-eleito. Ele precisa dessa costura. Precisa se sentir resguardado com tantos processos, denúncias e investigações nas costas. Chegou até mesmo a fazer cafuné em Flávio Bolsonaro recentemente, deixando claro o nível de relação que pretende estabelecer com o bolsonarismo.
A eleição de Renan Calheiros não chega a pôr em xeque a retórica de Jair Bolsonaro durante a campanha, mas é claro que respinga no alardeado purismo desta chamada “nova era”— graças também à infantilização do eleitor, sua incapacidade de enxergar a política para além da paixão clubística.
Ainda assim, tanto o resultado no Senado quanto na Câmara vão conformando um cenário alvissareiro para a administração recém-eleita e para o país, uma vez que a agenda de reformas deve encontrar um caminho menos tortuoso do que se previa.
E se a economia se ajustar, o eleitor não só esquecerá o mau cheiro da velha política quanto endossará sua continuidade.
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