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O afastamento de Wilson Witzel (PSC) só pegou de surpresa quem ignora o declínio do Rio de Janeiro ou ainda não entendeu a escolha feita há dois anos pela sociedade. Desde 2016, Witzel é o 6° governador do estado na mira da Justiça. Cinco foram parar na cadeia.

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Investigações do Ministério Público estadual e da Procuradoria-Geral da República (PGR) indicam que Witzel se aproveitou da pandemia para viabilizar contratos sem licitação e desviar dinheiro público. Um escândalo. A sensação, todavia, é de dejà vu.

Como já havia acontecido em situações anteriores, o calvário de cariocas e fluminenses suscitou críticas, ironias e pena. Bobagem. Para o bem ou para o mal, o Rio é um retrato fiel do país. Em nenhuma outra parte do território nacional nossos pecados e virtudes ficam tão evidentes.

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A derrocada do governador alimenta a percepção popular de que servidores públicos não prestam, reforça o “eu já sabia” dos céticos e a demonização da política. A grande ironia é que este mesmo sentimento serviu para embalar sua inesperada vitória, na esteira da onda reacionária inaugurada por Jair Bolsonaro.

A história nos mostra que nem todo político é bandido, mas todo político que se vende como antissistema é populista e choca o ovo do autoritarismo com esmero.

Não há de ser por acaso que Wilson Witzel se aliou aos Bolsonaros. Faz todo sentido que o mito tenha endossado a candidatura de alguém que fantasia mestrados e saliva ao falar em “tiros na cabecinha”.

O mais novo episódio dessa interminável crise institucional no Rio de Janeiro não poderia ficar sem um representante da aliança que oferece a maior ameaça à democracia brasileira como ela deveria ser: política e fé.

Presidente do PSC, o pastor Everaldo Dias Pereira chegou a ser padrinho tanto de Wilson Witzel quanto de Jair Bolsonaro. Membro da Assembleia de Deus, desde 2016 defendeu a candidatura de Bolsonaro à presidência e ajudou a promover os primeiros contatos entre o mito e líderes evangélicos, como Silas Malafaia. Pastor Everaldo está preso.

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A debacle do Rio não tem apenas lugar de destaque na sequência de eventos desruptivos que assolam o Brasil desde 2013. É a prova definitiva de como um projeto de país deu errado. Mora nas alianças espúrias, na roubalheira, no desinteresse popular pela coisa pública, na elite ignorante e incapaz de nutrir empatia pelos mais pobres.

Witzel é Bolsonaro. Uma versão menos boçal, contudo equivalente no que a original conserva de pior: os traços de sociopatia e a gana pelo poder.

Cidade mais emblemática do país, faz sentido que o Rio seja tratado como a Geni. Suas mazelas dizem respeito a todos os brasileiros.