A primeira exposição de Jair Bolsonaro ao grande público estabeleceria um paradigma na campanha presidencial. Do ajuste fiscal às privatizações, o candidato do PSL seria encurralado por questionamentos certeiros sobre a economia. E isso apenas para ficar naquele que há tempos é apontando como sendo o ponto mais obscuro da sua candidatura. Bem, pelo menos era essa a previsão antes de começar a sabatina no Roda Viva de segunda-feira (30). No entanto, aconteceu exatamente o oposto.
O intrigante é que Bolsonaro tratou de usar a expressão “Brasil liberal” logo no início. E não só isso, mas, pouco depois, se viu obrigado a admitir a inexistência de um “plano B” caso Paulo Guedes o abandone. Dando todas as pistas, portanto, de que não seria necessária muita criatividade por parte dos entrevistadores se desejassem pressioná-lo. Contudo, durante a maior parte do tempo, a bancada de jornalistas preferiu deixar de lado desafios nacionais práticos para abordar temas sabidamente confortáveis para o candidato: cotas raciais, porões da ditadura, quilombolas e meninos brincando de boneca.
Se é razoável indignar-se com a miríade de pronunciamentos grotescos alardeados ao longo dos anos e inclusive recentemente? Claro, mas isso não deveria sobrepujar questionamentos precisos, e sobre assuntos prioritários, a alguém com a intenção de comandar o país.
Trocando em miúdos, fizeram o jogo do candidato. E o cenário foi tão constrangedor que ao longo do tempo o próprio se viu cada vez mais à vontade.
De todo modo, não, Bolsonaro não deixou os estúdios da TV Cultura maior do que quando entrou. Para que isso acontecesse, ele precisaria ter falado, e bem, a um público diferente daquele que compõe a sua claque. Jamais saberemos se essa oportunidade apareceria caso o ritmo e a qualidade das perguntas fossem diferentes, porém fato é que o roteiro foi outro.
Bem ao contrário, o “mito” decepcionou nos poucos instantes em que o ambiente deixou de se assemelhar a uma reunião de condomínio entre montéquios e capuletos. Usar de anedotas com um comercial de posto de gasolina para empanar a própria ignorância pode até funcionar quando se trata de matérias áridas, entretanto a mortalidade infantil e desemprego no campo não são realidades tão distantes assim do eleitor comum. E em ambos os momentos o candidato não soube fazer mais do que se esquivar e oferecer respostas pouco ortodoxas.
Ao final do programa, o semblante de Bolsonaro estampava alegria e alguma dose de alívio. Tinha motivo para os dois: novas sabatinas vem aí e debates com adversários que não hesitarão em expor as suas limitações, mas ele continua vivo no jogo. Saiu ileso daquele que imaginou ser o seu primeiro grande teste.
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