A imagem de alguém com problemas de sobrepeso manifestando júbilo ao descer de um helicóptero é especialmente cara a fluminenses e cariocas de meia-idade. Remete a uma época em que o Maracanã ainda era o Maracanã; as crianças ainda acreditavam em Papai Noel; o Rio, apesar de perigoso, não era tão violento. Pois na manhã desta terça outro paralelo assaz deprimente com o passado se impôs.
A cena de Wilson Witzel celebrando com os punhos cerrados a morte do sequestrador que pôs em risco 37 vidas após desajeitadamente saltar do helicóptero em plena Ponte Rio-Niterói é sintomática. Não se trata apenas de um reflexo do atual momento em que vivemos, tendo em vista um presidente da República dedicado a estimular diariamente a polarização e o desdém para com os parâmetros mais básicos de civilidade. Trata-se de barbárie. Flerta com a psicopatia.
Sei bem, ao ler estas linhas muitos devem questionar se estou sugerindo que o desfecho do trágico episódio não foi razoável. Inclusive se busco defender o sequestrador. Sinal dos tempos. Hoje em dia o óbvio não apenas precisa ser dito como revelado às pressas, sob pena de logo escantearem o mensageiro para a arquibancada rival.
Não, não estou defendendo o criminoso que ameaçou a vida de quase meia centena de inocentes. Quanto ao desfecho, embora eu não seja especialista para avaliar situações do tipo, pareceu-me adequado. Ao contrário da matança desenfreada de jovens inocentes nas favelas do Rio pelas forças do Estado — matança, diga-se, rigorosamente menosprezada pelo governador, para não dizer estimulada —, desta vez não havia outro caminho.
A questão não passa por avaliar a atuação da Polícia Militar ou mesmo do Bope. O cidadão comum jamais terá condição de determinar qual seria a melhor conduta em operações de risco. Tanto no Rio e em São Paulo quanto nas capitais do Nordeste, onde o problema da violência consegue ser ainda pior, o cidadão já faz o possível: esconde-se. Evita saídas noturnas desnecessárias. Mora em condomínios gradeados e, quando não há outra alternativa, reza.
O ponto é que estamos sendo liderados por pessoas que claramente se regozijam com a atual situação. E tanto faz se a euforia tem fundo político ou psicológico, ainda que no caso do Rio as duas hipóteses não sejam excludentes.
No fim das contas, se Witzel demonstra total falta de empatia, e, mais do que isso, se celebra corpos que caem, isso diz mais sobre nós do que sobre ele.
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