Primeiro foi Luciano Huck, tachado de estar à direita no espectro político em artigo do Intercept Brasil. Gleisi Hoffmann contribuiu em seguida, ao declarar que o apresentador é “a cara nova da velha elite”. Já ontem (15/10) foi a vez de Tábata Amaral, de saída do PDT, receber toda sorte de críticas por sua participação no programa Roda Viva. Não foram as primeiras. A jovem deputada apanhou da direita quando se elegeu e da esquerda por ter votado a favor da reforma da Previdência. Tudo indica que não terão sido as últimas críticas que sofrerá.
“No Brasil, até o passado é incerto”, disse o ex-ministro Pedro Malan. Muita coisa ainda pode acontecer até 2022, porém é inegável que Tábata e Huck já têm o que comemorar. Ou poder contar com o repúdio de ambos os extremos que tomaram de assalto o debate político não é motivo para celebração?
Para desgraça do país, os radicais sufocaram a nossa vocação para o debate. Vale dizer, não se trata de um evento recente este que vivemos agora. Coube ao PT, acima de todos ao ex-presidente Lula, a tarefa de semear divisões entre os brasileiros. Durante décadas, antes mesmo de assumir o poder, o líder petista usou de astúcia e perseverança para instigar antagonismos. Inclusive depois, quando finalmente empunhou a caneta, Luiz Inácio e seus comandados — a esquerda de maneira geral — não deixaram de manter tesa a rédea que separava as pessoas entre os bons e os fascistas; entre quem era cool e quem era “coxinha”.
Abro mão de participar da discussão indigesta que pretende estabelecer comparações entre o grau de perversidade usado antes e agora. Não por temor ou preguiça, mas porque a simples tentativa de outorgar o selo de “menos pior” acaba endossando um dos extremos. Contudo, à guisa de melhor maneira para entender o presente que não seja verificando o passado, vale confirmar: a dicotomia gerada pela esquerda de modo a levá-la ao poder foi fundamental para o surgimento do bolsonarismo.
Dói admitir, mas, respondendo à pergunta do início do texto, o fato de ser repudiado pelas duas pontas da política nacional talvez ainda não seja motivo para celebração. Tanto o trauma causado por anos de petismo, a habilidade de quem está no poder para replicar a receita inaugurada desde 2002 quanto nossa predileção pelo populismo impedem que posicionamentos de centro sejam bem vistos.
Todavia nada é para sempre. Nem o PT foi. Basta lembrar que vários dos milhões que hoje o rechaçam já foram seus devotos.
Resta saber se personagens como Tábata Amaral e Luciano Huck terão paciência e retidão para se posicionarem com o mesmo equilíbrio que têm demonstrado. Por ora, estão no caminho certo.
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