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Faltando menos de uma semana para os primeiros debates entre pré-candidatos democratas — serão dois, nos dias 26 e 27, com dez participantes em cada, recorde na história do Partido Democrata —, parece existir um sentimento que une a maioria dos postulantes ao papel de rival de Donald Trump na sua corrida pela reeleição: atacar o ex-vice-presidente Joe Biden, líder disparado nas pesquisas até aqui.

Claro, trata-se de um movimento legítimo, mas nem por isso deixa de preocupar aqueles que, acima de preferências por este ou aquele candidato, sonham mesmo é com a derrota do presidente americano.

Parte das pessoas de tendência progressista com as quais conversei demonstram inclusive um certo amargor ao lembrar do divisionismo gerado pelos apoiadores de Bernie Sanders na última eleição — embora Hillary Clinton tenha vencido Trump no voto popular.

Todavia, não é só a disputa política que compõe uma parte essencial do processo eleitoral. O próprio Biden alimenta seus adversários com munições, por meio de comentários incompreensíveis até para os seus eleitores.

Há coisa de poucos dias, o pré-candidato, que em algumas pesquisas aparece com o dobro das intenções de voto do segundo colocado, o senador Bernie Sanders, precisou voltar atrás em um posicionamento histórico: negar a Hyde Amendment (Emenda Hyde, em tradução livre), um trecho inserido em uma lei orçamentária de 1976 impedindo que recursos federais fossem destinados a abortos, “a não ser que a mãe corra risco de morte no parto”.

O detalhe é que, apesar de ser democrata, Biden também é um cristão devoto. Senador desde 1973, por mais de uma vez declarou que não tentaria impor aos americanos os preceitos da sua Igreja — os quais, faz questão de dizer, sustenta em sua vida privada.

Em outro episódio recente, o ex-vice do primeiro presidente negro na história dos Estados Unidos recebeu duras críticas quando, no afã de defender a sua capacidade de dialogar e resolver problemas, durante evento para arrecadar recursos, usou como exemplo o seu relacionamento no Congresso com o falecido senador James Eastland, notório segregacionista e racista: “Existia uma espécie de civilidade. A gente não concordava em quase nada, mas você não precisa concordar com tudo. Hoje em dia você olha para o outro lado e vê o inimigo”.

Foram vários os ataques que se seguiram da parte de seus concorrentes à Casa Branca. Alguns, como o senador Cory Booker (New Jersey), exigiram que Biden pedisse desculpas. Dessa vez, porém, o candidato visto por muitos como o adversário mais complicado que Trump poderia ser obrigado a enfrentar não recuou: “Pedir desculpas? Por quê? Não há um só traço de racismo em mim. Estive envolvido com a causa dos direitos civis durante toda a minha carreira. Ponto final.”

Seus assessores diretos comentam em conversas privadas que ele poderia ter usado um exemplo melhor, mas reconhecem que é difícil domar alguém que, há tanto tempo na política, foi capaz de construir uma carreira de sucesso.

Durante os oito anos em que Barack Obama comandou o país, a profusão de falas controversas ajudou a consolidar o entendimento de que Joe Biden seria um político exótico. Por vezes até cômico. Entretanto, a amizade com o presidente mais popular na história recente dos Estados Unidos desencorajava as críticas.

Talvez caiba agora, às vésperas de uma corrida eleitoral decisiva em que lidera com folga, um certo comedimento. Afinal, Obama não está mais por perto para funcionar como amortecedor. E os demais concorrentes não parecem dispostos a desistir tão fácil.

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