Para quem assiste de longe, o nível do devaneio coletivo no Brasil alcançou um patamar tão elevado que Donald Trump corre o risco de ser tachado de comunista. Quem sabe até de “esquerdopata”, termo comumente usado por adeptos do bolsonarismo e formadores de opinião incensados pelo zeitgeist. Tudo porque na última sexta-feira (1) o presidente americano ligou para o recém-eleito mandatário argentino, Alberto Fernández, no intuito de felicitá-lo pelo sucesso nas urnas.
“Parabéns pela grande vitória. Vimos pela televisão. Você vai fazer um trabalho fantástico. Espero conhecê-lo imediatamente. Sua vitória tem sido comentada em todo o mundo”, disse Trump. “Recebi um telefonema de Donald Trump, que me comunicou que instruiu o FMI para que trabalhemos juntos no sentido de resolver o problema da nossa dívida. Agradeci por seu importante gesto e transmiti a minha intenção de manter uma relação madura e cordial com os Estados Unidos”, publicou pouco depois o colega argentino em sua conta oficial no Twitter.
Percebam, não houve exatamente nada de fundamental em ambos os diálogos. Tudo se deu da maneira mais protocolar possível. Protocolar, madura e acima de tudo civilizada.
Tal padrão de comportamento pôde ser percebido inclusive entre os nossos vizinhos, com o contato feito pelo derrotado Mauricio Macri a Fernández e o convite para um papo em que o futuro da Argentina foi debatido de maneira franca.
Vale lembrar, Trump já havia demonstrado capacidade para separar a retórica político-eleitoral do seu dever como líder eleito quando, há coisa de semanas, questionado sobre qual seria o posicionamento de seu governo se Bibi Netanyahu perdesse as eleições em Israel, afirmou: “A relação dos Estados Unidos é com o Estado de Israel, não com Netanyahu”.
No afã de tentar ajustar algo irremediavelmente desajustado, não foram poucas as vezes em que analistas e mesmo a sociedade brasileira lançou mão do termo “adulto na sala”. Era como se, constatado o caos, precisássemos nos agarrar a alguém em condições de salvar a lavoura.
O vice, General Hamilton Mourão, já foi o adulto da vez. Durou pouco. E não apenas por ter sucumbido à fritura orquestrada pelo talibanismo virtual a serviço do governo, mas também pela postura inaceitável no episódio envolvendo a guinada profissional de seu filho no Banco do Brasil.
Paulo Guedes já foi o adulto. E para a parcela da sociedade exclusivamente interessada na agenda econômica ainda é, embora o temperamento irascível, a sanha por dar como resolvidas situações inexequíveise e o ataque grosseiro à primeira dama da França estraguem a narrativa.
Rodrigo Maia já foi o adulto e talvez ainda mereça ser, graças a seus comentários na maioria das vezes certeiros quando se contrapõe aos termos defendidos pela administração Federal e o próprio presidente da República.
Pois o mais novo adulto é Donald Trump. Em face a uma constrangedora relação de subserviência, e porque não dizer de idolatria, o pragmatismo adotado pelo presidente americano ilumina o encaminhamento adotado pelo Itamaraty sob o comando do Ministro Ernesto Araújo. E, claro, torna ainda mais constrangedora a atitude deseducada e indigna de um chefe do Executivo adotada por Jair Bolsonaro em face à vitória de Alberto Fernández na Argentina.
A nível pessoal, Bolsonaro tem todo o direito de preferir uma determinada visão de mundo. Como presidente brasileiro, porém, não pode arrastar o país a uma condição de pária diplomático. Ou pelo menos não deveria.
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF