Foi-se Joaquim Levy, exposto não só pelo presidente, mas também por um colega de doutorado. Do jeito que tudo se deu, gerou inclusive certa comoção — o agora ex-presidente do banco estatal, no fim das contas, colabora amiúde com o país. Empatia à parte, contudo, nada transcende o verdadeiro motivo por trás dessa mudança. Mais uma desnecessariamente turbulenta, em um governo vigente há apenas seis meses.
Segundo a narrativa oficial, Levy mostrou-se incapaz de abrir a “caixa-preta” do BNDES. Por caixa-preta, entenda-se trazer à tona a comprovação de irregularidades praticadas por funcionários do banco durante os governos do PT.
Acontece que não foram poucos os processos de investigação interna abertos desde que o Partido dos Trabalhadores deixou o poder. Houve precisamente cinco, envolvendo o Ministério Público, a Polícia Federal e auditorias. E nada que justificasse a sanha do presidente foi encontrado.
Sim, a forma utilizada para escantear Joaquim Levy — expiação pública, via imprensa — não surpreende. Entretanto, é outro o padrão que interessa para entender o funcionamento do governo Jair Bolsonaro. Cabe notar, isso sim, como a narrativa adotada agora remete à insistência para que seja revelada uma conspiração por trás do atentado à vida do presidente em Juiz de Fora, executado por Adélio Bispo durante a campanha eleitoral.
Adélio foi inocentado há coisa de poucos dias. O juiz Bruno Savino, da 3ª vara da Justiça Federal em Juiz de Fora, concluiu, após os pareceres de médicos apresentados pela defesa e de peritos indicados pela própria acusação, que o réu sofre de transtorno delirante persistente. Portanto, inimputável. Assim, o algoz do presidente ficará internado por tempo indeterminado.
Como era de se esperar, Bolsonaro não ficou satisfeito. Se antes o presidente interpelara o ministro Sérgio Moro no sentido de que as investigações fossem aprofundadas pela Polícia Federal — sendo que a própria PF já havia emitido dois relatórios indicando que Adélio agiu sozinho —, após a sentença ter sido proferida chegou até mesmo a questionar a OAB. Sua queixa era de que a Ordem dos Advogados do Brasil tinha protegido o sigilo telefônico de Adélio.
Pois, novamente, os fatos invalidaram o trololó presidencial: não houve qualquer sigilo telefônico protegido ou ação que tenha impedido as investigações.
Não é difícil entender a razão pela qual o governo, por meio do próprio presidente, busca com tanto afinco estabelecer teorias conspiratórias: só elas produzem fumaça suficiente para impedir o cidadão, inclusive aquele que apostou no bolsonarismo, de enxergar com clareza a sua dificuldade de fazer o país andar.
Na cabeça de Bolsonaro e de seus apoiadores mais próximos, se a parolagem que vendeu uma luta tão necessária quanto celestial para colocar o Brasil nos eixos foi decisiva para levá-los ao sucesso nas urnas, não faria sentido algum desistir da estratégia agora, quando a realidade se mostra muito mais desafiadora do que haviam imaginado.
Seguindo essa lógica, e as recorrentes evidências de que estamos mesmo diante de um dos piores governos em nossa história, o clima de antagonismo só tende a ser reforçado pelo Planalto.
Afinal, não existe melhor lugar para um governante se esconder do que na boa vontade de um povo para ser manipulado.
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