Eis que mais uma vez o ministro da Educação pisou na bola. Deu uma canelada, para utilizar aqui um termo adotado pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, ao estabelecer que crianças de todas as escolas do país fossem filmadas após serem perfiladas para cantar o Hino Nacional. Com um singelo detalhe: a inserção, no e-mail enviado a todos os estabelecimentos de ensino, públicos e privados, do slogan utilizado durante a campanha bolsonarista — “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”.
Ainda no final do dia de ontem, o ministro voltou atrás. Reconheceu o erro, retirou o jargão eleitoreiro do comunicado oficial e salientou que quaisquer veiculações de imagens só aconteceriam mediante prévia autorização dos pais.
Todavia, isso já não é suficiente.
Vale lembrar, Vélez é o mesmo que acusou a revista Veja de tirar do contexto a frase “O brasileiro viajando é um canibal. Rouba coisas dos hotéis, rouba assentos salva-vidas do avião; ele acha que sai de casa e pode carregar tudo”. Infelizmente para ele e felizmente para nós, ou pelo menos para a parte do corpo social ainda interessada na verdade, não foi difícil comprovar que ele de fato disse aquilo. Tentou jogar a culpa na publicação por sua frase destemperada, agressiva e generalista. Mentiu.
Garantir que o ministro repete a dose agora ao afirmar ter “percebido o erro” seria tão leviano quanto desnecessário. A questão relevante é constatar que Ricardo Vélez Rodríguez compõe um trio de ministros sem a mínima condição de liderar suas respectivas pastas.
Ainda assim, levando-se em conta a persona folclórica que é Damares Alves e sua real função no governo — tão somente a de provocar celeumas para desviar o foco de assuntos relevantes —, e o patente esvaziamento de Ernesto Araújo, o encarregado da Educação é quem reúne mais condições para provocar danos ao Brasil.
Vélez precisa cair. E não pode demorar. Seus faniquitos autoritários não devem ser justificados por uma suposta falta de traquejo. Inclusive pela razão de ter sido alardeado, quando foi anunciada a sua nomeação, como um dos ministros “tecnicamente capacitados”.
Ora, não é capacitado alguém que enxerga relevância em cantar o Hino quando as nossas escolas estão abandonadas, caindo as pedaços, sem professores e em alguns casos com crianças sendo alvejadas dentro da sala de aula.
Tampouco pode comandar a Educação quem agride deliberada e violentamente o povo de um país que o recebeu e hoje lhe confere um cargo tão fundamental e prestigioso.
Sinceramente, eu lamento. Lamento porque não faltam pautas mais importantes para o país do que este quiproquó, mais um, criado pelo ministro Vélez. Deveríamos estar tratando, isto sim, da reforma da Previdência e das enormes dificuldades que um governo cuja popularidade começa a se desidratar terá para aprová-la.
Espero que tudo isso valha de alguma coisa. Que, exposto ao ridículo em um momento da política brasileira particularmente fértil para situações vexatórias, o colombiano peça o boné.
E não por ser colombiano, por faltar com a verdade ou apenas por um e-mail mal redigido, mas porque não passa de uma invenção. Um espantalho que não assusta, mas que pode atrapalhar um bocado.