O cargo de presidente da República não permite aventuras. Nem aventuras, nem tampouco desinteresse para com a coisa pública ou incompetência administrativa. Bem ao contrário, impõe capacidades das mais variadas. É preciso ser um bom gerente, mas também saber dialogar. É fundamental saber reconhecer os anseios do povo, porém sem se deixar seduzir pelo caminho fácil e eleitoralmente lucrativo do populismo.
Tudo isso, é claro, se você não estiver falando do Brasil.
Por aqui, como gosta de dizer a garotada, a banda toca de maneira diferente. Por aqui, candidaturas que emitam sinais temerários do ponto de vista econômico, ou mesmo democrático, são vistas pela própria sociedade como oportunidades de mudanças alvissareiras. E o simples fato de o candidato não ter experiência, em vez de assustar, excita o eleitor.
No fim das contas, excetuando a eleição de Fernando Henrique Cardoso, e ainda assim somente pela percepção de que o País havia de fato deixado para trás uma ciranda econômica trágica, sempre nos deixamos levar pela conversa fiada. É como se de quatro em quatro anos assumíssemos o papel de juízes em um grande concurso para ver quem nos engana melhor. Uma gincana de “me engana que eu gosto”.
O nosso histórico em apostas enganosas vem desde a redemocratização. Fernando Collor de Mello, a primeira delas, fez questão de se colocar como o Caçador de Marajás. A sensação de que havíamos levado uma pernada veio logo nos primeiros momentos do seu governo, com o confisco da poupança. Lula, de tão pragmático e focado no seu plano de poder, abraçou os projetos assistenciais que antes criticava, uma vez que iniciados pelo PSDB, e foi acusado até de trair os compromissos desde sempre defendidos pela esquerda. Já Dilma, dispensa comentários. É incrível imaginar que tenha sido eleita presidente, porém nada supera o fato de ter sido reeleita quando o Brasil descia a ladeira, graças a toda sorte de pedaladas e mentiras regurgitadas por ela e pela sua campanha.
Como se vê, a habilidade de aprender com os erros não é uma das nossas maiores características. Tanto é assim que agora, após seis anos de Dilma Rousseff — o que desde o início se apresentava como uma aventura, posto se tratava de alguém inexperiente e com dificuldade para construir alianças —, estamos realmente considerando a hipótese de, parafraseando a própria defunta, dobrar a meta.
A campanha de Jair Bolsonaro não se assemelha aos grandes teatros eleitorais estabelecidos pelo petismo apenas na virulência, no divisionismo e na brutalidade apregoados pelo candidato, seus assessores mais próximos e a militância, mas também pelo estelionato que ensaia aplicar na sociedade.
É fascinante que o candidato alardeie aos quatro ventos a autonomia de Paulo Guedes para resolver os graves problemas econômicos do país e em seguida ponha em xeque publicamente as opiniões do próprio guru econômico sem que ninguém dê um pio. Ou, então, na melhor das hipóteses, que a reação não tenha sido proporcional à gravidade do fato.
Assim como é incrível a fé das pessoas de que o histórico de ambos, candidato e assessor econômico, vá de alguma maneira se equacionar graças a uma óbvia conveniência momentânea.
O mesmo vale para Fernando Haddad. Beira o absurdo que estejamos sinceramente considerando o retorno do Partido dos Trabalhadores ao poder após tudo o que aconteceu durante os últimos anos. E tão cedo. Tão em cima do laço. E não apenas pela corrupção desenfreada, ou pelas pedaladas de Dilma Rousseff, mas também pelo próprio Haddad, escorraçado da Prefeitura de São Paulo quando tentou se reeleger.
A impressão é de que pouco importa o plano de governo dos candidatos, suas experiências no executivo e os alicerces políticos que sustentem os seus projetos. O que nos basta mesmo é ir com a cara do sujeito. Somos especialistas em adotar candidatos como se fossem uma agremiação carnavalesca ou um time de futebol. E só.
Até quando?
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