(Arte: Felipe Lima)| Foto:

Como amigos que se reencontram depois de alguns anos distantes. É assim que me sinto ao escrever depois de duas semanas longe dos leitores. Duas semanas neste Brasil de 2017 são como anos em períodos de normalidade. Sim, eu sei que por aqui a normalidade é sempre relativa. Mas os últimos três anos estão acima da média para qualquer parâmetro! Aliás, permitam-me neste texto o uso de alguns pontos de exclamação, esse sinal de pontuação que andava esquecido e que foi recuperado pelas mídias sociais. (“Lindo!!!” – Não é assim que se escreve no Facebook?)

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Um dos resultados desse longo período de investigação da vida política brasileira é uma avalanche de notícias, todas elas relevantes e assustadoras. Diante dessas informações, o cidadão reage, comenta, vai às ruas protestar, certo? Era assim até alguns meses atrás. Agora sinto uma preguiça no ar, um acomodamento. O pior já passou? O pessoal da Lava Jato tem mais condições de responder do que eu, mas arrisco um “não!” com direito à exclamação. É verdade que para muita gente (talvez 50% dos brasileiros) o problema tinha nome e endereço. Era só afastar e enfraquecer o “lulopetismo” e tudo estaria resolvido. O que justificaria uma certa acomodação agora. Não é tão simples. A Lava Jato continua desencavando sujeira sobre sujeira e fica evidente que, se o processo não continuar, a corrupção sobreviverá impávida e valente, com ou sem Lula, com ou sem os “vermelhos”.

O problema é que, após fazer o impeachment de uma presidente, conviver com uma crise econômica braba, acompanhar – como quem assiste a um filme – a prisão de empresários e políticos que um dia pareceram intocáveis, ouvir gravações de conversas nojentas em que debochavam de nós… após tudo isso estamos cansados. Estamos como aquele sujeito que, ao escalar uma montanha, tem vontade de se sentar cinco metros antes de chegar ao cume e ficar por ali. A paisagem não vai ser a mesma lá em cima? Não dá para descansar um pouco?

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Não! Não dá mesmo. Se pararmos aqui, vamos rolar montanha abaixo mais cedo do que supomos. “O que se faz bem feito uma vez faz-se para sempre.”

Se alguém estiver em dúvida sobre a necessidade de continuar atento e reativo, sugiro reler ou ouvir a conversa gravada pela Polícia Federal entre Romero Jucá e Sergio Machado em março de 2016, em que os dois falam abertamente sobre a “necessidade” de barrar a Lava Jato. É aquele diálogo em que o atual líder do PMDB no Senado diz que eles precisam de um boi de piranha para depois “… a gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem”.

Tomara que do outro lado da margem ele dê de cara com o Sergio Moro.

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Como prova de que o que é bom resiste ao tempo, vamos ouvir falar de Henry David Thoreau nas próximas semanas. Em 12 de julho, celebram-se os 200 anos do nascimento do americano de olhos claríssimos que viveu dois anos em uma cabana às margens do Lago Walden, no estado de Massachusetts. Ele registrou suas reflexões no livro A vida nos bosques. Também é o autor do manifesto pela desobediência civil de onde tirei a frase entre aspas no fim do quarto parágrafo. Despeço-me com mais uma de Thoreau (a frase no título também é dele): “Comparada com a opinião que temos de nós mesmos, a opinião pública é uma débil tirana. O que um homem pensa de si, eis o que determina, ou pelo menos indica, o seu destino”.

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Confira o arquivo de colunas de Marleth Silva publicadas na Gazeta do Povo até maio de 2017.