Lá fora há uma chuva lilás e perfumada. Impetuosa, escandalosa, a glicínia tomou conta da velha árvore e chegou bem alto. Suas flores caem, uma garoa ininterrupta e colorida que salpica a grama com tons que vão do roxo ao lilás clarinho. É assim na minha casa e em várias outras de Curitiba. O perfume adocicado concorre com o odor que vem do jasmim, aquela trepadeira de florzinhas brancas que se agarra nos muros, na cerca elétrica e cobre por algumas semanas a feiura que, amedrontados, instalamos em volta de nossas casas e que lhes dá ares de fortaleza. Tem ainda as orquídeas – setembro é o mês delas em Curitiba, ainda que quem as conhece bem garanta que algumas espécies florescem ao longo do ano – não é mesmo, dona Rosita? O que vemos agora em quase todo jardinzinho curitibano, daqueles que refrescam a fachada das casas “de rua” que resistem entre prédios e condomínios, é a orquídea popular e rústica, pequena, lilás na borda das pétalas e roxa perto do pistilo, a “olho de boneca” ou dendróbio. Quando sair para a rua, olhe em volta e vai encontrá-la.
Enfim, é setembro no Sul do Brasil. É isso que as glicínias, os jasmins e as orquídeas comunicam: que é setembro. Um setembro seco e morno, bom para os parreirais e ruim para os reservatórios.
Vejo na tevê que em certa área do Nordeste chove e que a chuva traz ânimo para os pequenos agricultores. É uma chuva localizada, que cria um oásis em meio à secura que se espalha até Brasília. Diríamos que é uma chuva milagrosa se não fôssemos hoje todos familiarizados com os fenômenos meteorológicos, que moças bonitas nos explicam diariamente usando os gráficos mais modernos. A previsão do tempo é um sucesso na tevê brasileira – ou o sucesso seria dos sorrisos e vestidos justos das “moças do tempo”? As duas coisas, creio eu. Ouvir sobre massas de ar quente e frentes frias tornou-se um momento de descontração em meio à aridez do noticiário. Os apresentadores dos telejornais parecem aliviados quando anunciam a previsão do tempo. Até a falta de chuva tornou-se “notícia leve” em meio às barbaridades que o mundo vem nos proporcionando.
A meteorologia de tevê tende a criar expectativas. Uma semana chuvosa chega aos ouvidos do telespectador como o prenúncio de um dilúvio. Uma frente fria é entendida como a nova era do gelo. As esperas têm se frustrado, uma após a outra. A semana chuvosa se limitou a dois dias; o frio foi forte, mas não durou. Vivemos na capital mais fria de um país tropical. Nossas baixas temperaturas podem assustar as moças do tempo e os nossos amigos que moram em latitudes mais elevadas. Mas nós aqui sabemos bem que setembro está ficando mais longo que seus 30 dias e que janeiro já dura um trimestre. Resta a pontual floração das glicínias, jasmins e orquídeas para nos lembrar dos ciclos, das estações, da natureza em torno de nós.
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