Técnicos brasileiros fortalecem rivais estrangeiros no mercado do futebol no país

O nível assustador das atuações recentes dos principais times do futebol paulista coloca em xeque a capacidade de diferentes treinadores brasileiros. Da eliminação do São Paulo de Fernando Diniz para o remendado Mirassol à sofrida classificação do Palmeiras sobre o mutilado Santo André, passando pela pífia partida do Corinthians, dias antes, frente ao rebaixado Ituano. A pobreza técnico-tática foi tal, que nem a parada causada pela pandemia justifica.
Pois se os times mais caros e qualificados tecnicamente estão longe da melhores condições, o que dizer dos pequenos e com menores recursos? No tricolor paulista chama a atenção a posse de bola sem capacidade para transformá-la em gols, que soma-se à vulnerabilidade defensiva. Em dois jogos no Morumbi, Red Bull Bragantino e Mirassol finalizaram sete vezes na direção certa contra a meta são-paulina, fizeram nada menos do que seis gols!

Se os problemas de Fernando Diniz lembram suas passagens por Athletico e Fluminense, os do Palmeiras ficam claros ante a indecisão de Vanderlei Luxemburgo e sua busca frenética pela formação ideal. Que ele não encontra e busca de forma um tanto aleatória, como quem pega uma peça do quebra-cabeça dentro de uma sacola e tenta forçar o encaixe impossível. A velha sensação de que o elenco não é aproveitado em seu potencial segue muito viva.
No Corinthians, Tiago Nunes aderiu ao modelo de jogo que o clube assumiu querer abandonar quando o contratou. Mas, com o time ameaçado de nova vergonhosa eliminação, adotou estratégias que lembram Fábio Carille, demitido em 2019. Dispensa que parecia simbolizar uma mudança de perfil quando da imediata contratação do ex-treinador do Athletico. Mas o jovem técnico claramente prioriza a sobrevivência corintiana no certame e dele no cargo.
Com tamanha estagnação, os profissionais estrangeiros ganham mais e mais espaço por aqui. Melhor time do continente, campeão nacional, da Libertadores e bi do Rio de Janeiro, o Flamengo sequer cogitou um brasileiro para substituir o português Jorge Jesus. Internacional, Atlético e Santos têm seus gringos e o Red Bull pensou em trazer Carlos Carvalhal de Portugal no começo do ano. E esse movimento já ocorre no Athletico há algum tempo.
O Furacão teve o comando técnico dos uruguaios Felix Magno, nos anos 1950, Sérgio Ramirez, em 1992; e Juan Ramón Carrasco, mais recentemente, em 2012. Antes, treinou os rubro-negros o alemão Lothar Matthäus, em 2006. O espanhol Miguel Ángel Portugal esteve no clube em 2014 e o português Sérgio Vieira no ano seguinte. Já foram quatro estrangeiros no clube neste século e no início de 2020 o Athletico chegou a estudar o catalão Domènec Torrent, a caminho do Flamengo. Ramirez, por sinal também treinou Paraná e Coritiba.

Se nenhum deles explodiu no comando rubro-negro, a disposição do clube em encontrar um profissional de fora que acrescente é nítida. Com a nova onda estrangeira, fica claro que de iniciativas isoladas isso já se transformou em tendência nacional. E diante de tantos trabalhos questionáveis de alguns treinadores brasileiros que têm em mãos elencos muito superiores à maioria, a ideia de que tal intercâmbio seria modismo perde força. A transformação desse mercado está em pleno curso.