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A demissão de Trajano da ESPN Brasil e o fim do jornalismo esportivo crítico

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A demissão de José Trajano da ESPN Brasil é mais um duro golpe num estilo de jornalismo que está minguando. O careca cabeludo, fanático pelo Ameriquinha, sempre foi um cara crítico. Fará falta.

A empresa não deu maiores explicações. Mas dá para supor. Trajano sempre foi um incômodo para todos, no bom e no mau sentido. Mas antes era chefe. Como funcionário, ficou pesado demais. E seja qual for a razão, a saída dele reforça uma tendência.

O tijucano nunca economizou nas caneladas, especialmente na cartolagem. Ao lado do amigo e colega Juca Kfouri, sempre foi linha de frente contra as federações, CBF, Fifa etc. Com a dupla nunca teve nada de Dr. Ricardo e Dr. Havelange.

É preciso ter coragem. Afinal, bater em técnico e boleiro é fácil. Muitas vezes, os torcedores já apontam quem deve apanhar. Agora, brigar com quem está nos bastidores é difícil. Custa caro, muitas vezes cobra o emprego.

Espero que o jornalista se “recoloque no mercado” rapidamente (não acredito). Sem o orgulhoso americano, sobram o já citado Juca e o Mauro Cézar Pereira. Lúcio de Castro, outro dos jornalistas mais combativos da imprensa brasileira, já tinha ido antes.

Da minha parte, não reconheço jornalismo sem posicionamento. Sempre quis saber os motivos, refletir. Desde quando sentava no meu quarto para ouvir o debate da Rádio Cidade, com Carneiro, Sicupira e Hidalgo, munido de uma Coca-Cola e um pacote de bolacha.

Felizmente, pude seguir assim como jornalista. Entrei na Gazeta do Povo em 2005 e participei, como repórter, de uma equipe que se alinhou com as melhores do país. Jornalismo esportivo com informação, dados, investigação, crítica. Erramos e acertamos, sem alisar.

Mas o preço de não ter medo de se indispor com clubes e torcidas, de revelar os problemas, está quase insuportável. Boa parte dos torcedores não se interessa pelos bastidores. Está preocupado com o placar. Não os julgo, é só uma constatação.

O problema é que tudo que acontece na sala da presidência, nos lobbys dos hotéis, nos vestiários, reflete no campo. É impossível dissociar o centroavante do cartola. E o futebol brasileiro segue, em 2016, refém dos Del Neros e Marins. Sem futuro.

Vivemos o réquiem do jornalismo esportivo crítico, enquanto o esporte assume caráter de puro entretenimento. Claro, divertir é da natureza do jogo, é parte importante, sem dúvida. Mas não me contento com uma cobertura apenas “boleirona”, “promocional”. Acho pouco.

Ao Trajano, minhas saudações.

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