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Apagar a tocha é sinal de que você entende que o espírito olímpico virou bobagem

BRADESCO/William Lucas (Foto: )
BRADESCO/William Lucas

BRADESCO/William Lucas

Não entendo porque tanta preocupação com as tentativas de apagar a tocha olímpica. É quase um isqueiro gigante com design modernoso. Preservar o símbolo do “espírito olímpico”? Ah, por favor, sem ingenuidade.

A tocha representa tanto o espírito olímpico que é curioso notar que tão nobre sentimento tem até preço tabelado. Por R$ 2 mil os condutores podem pendurar em casa, na sala ou na churrasqueira, o ícone do “congraçamento entre os povos”.

Apenas uma amostra da mercantilização absoluta dos Jogos, fenômeno de décadas. Trata-se de uma empresa transnacional que movimenta bilhões para encher o bolso de cartolas corruptos, gerar audiência monstro para as televisões e levar ao delírio os patrocinadores.

Evento que consumiu no Rio de Janeiro, por enquanto, R$ 39 bilhões. Boa parte paga com dinheiro público, do meu bolso, do seu (alguém falou em crise?). Para ter noção da gastança, a Copa do Mundo de 2014, realizada em 12 estados brasileiros, custou R$ 25,6 bilhões.

Não por acaso, países que não topam tudo por dinheiro fogem dos grandes eventos esportivos, caso da Suécia, que salvou Estocolmo da Olimpíada de 2022. Outros, mais fortes e organizados, promovem a competição como querem, longe das exigências absurdas, como a Alemanha fez no Mundial de 2006.

É natural. Por onde passam, o Comitê Olímpico Internacional e a Fifa deixam um rastro de contas suspeitas, obras desnecessárias e legado questionável. São raras as cidades que se beneficiam com os Jogos, como Los Angeles (84) e Barcelona (92). Os estudos comprovam.

Do ponto de vista esportivo, o tal “espírito olímpico” também é uma balela. Existe, sem dúvida, mas é como um cometa, quando aparece ninguém esquece. Atletas participam dos Jogos movidos pela grana. Lógico, são profissionais do esporte, compram comida com isso. Estão certos.

Alcançar a classificação para o evento representa, já de cara, faturar com patrocínios – dinheiro que alguns utilizam para sobreviver e outros compram novos carros importados. E meter uma medalha no peito faz explodir os rendimentos. Quem administra bem, garante uma “aposentadoria” como medalhista.

A chance de ganho econômico é tão sedutora e perigosa que atrai competidores para o doping. Há uma indústria de drogas para turbinar o rendimento que assombra as olimpíadas há décadas. Sempre anos à frente dos testes, quase incontrolável, trunfo para corromper os resultados.

Para se ter uma ideia, a Rússia foi banida por doping do atletismo na Rio 2016. Você não leu errado: a delegação russa inteira está fora. No Brasil, ao menos dez atletas foram pegos com substâncias proibidas e toparam um esquema de “delação premiada” (não é política) em troca de penas reduzidas.

Como se vê facilmente, é realmente tocante o “espírito olímpico”. Tanto que até hoje eu choro quando lembro da lágrima derramada pelo ursinho Misha, o mascote mais querido de todos os tempos dos Jogos.

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