Samir Namur é o novo presidente do Coritiba. E entre as novíssimas determinações da renovada diretoria coxa-branca está uma mudança na relação com a imprensa que ocorrerá “radicalmente” (termo usado pela chapa vencedora). Ideia que, entretanto, é mais velha do que andar pra frente.
Está no plano da Coritiba do Futuro: “A comunicação pelos canais oficiais do Clube deve ser mais que prioridade, deve ser uma exclusividade. Por isso, o trabalho do restante da imprensa em dias de treinos e jogos deve ser regulamentado”, entre outros pontos que remetem ao passado.
O rival Atlético, por exemplo, há pelo menos dez anos tenta, para usar um termo do clube, “disciplinar” o trabalho dos jornalistas. A desculpa, lá atrás, era barrar o que o Furacão apontava como “abusos” no CT do Caju, como um determinado profissional que resolveu almoçar por lá.
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Se o tal repórter filava mesmo um rango no bunker atleticano, não tenho provas. O clube nunca citou o nome do “faminto”. Mas, também, pouco importa. As mudanças, lá há mais de década, do Rubro-Negro, ou as que virão, em se tratando do Coxa, têm outra intenção.
Que há erros de parte da imprensa, é óbvio. Como em qualquer setor. Eu mesmo cometo os meus. Agora, o que Atlético e Coritiba pretendem mesmo é criar uma barreira anticríticas e, especialmente, passar como os grandes donos da verdade, controlar, ser a própria e única voz confiável sobre os clubes.
Chega a ser ingênuo. Ou alguém crê que torcedores se contentam com os canais oficiais como fonte isolada sobre os clubes? Evidente que não. E por isso, veículos tradicionais, como esta Gazeta, e “modernos”, como as comunidades de times específicos nas redes, não param de ganhar audiência.
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Os canais oficiais não servem como fonte única e jamais servirão por uma questão de conceito. A questão morre logo de cara. Afinal, embora tenham ganho uma série de recursos, alguns interessantes, são estações institucionais. Por princípio, existem para promover as equipes.
Basta ver como costumam ser desastradas as tentativas que fogem disso. Tais como as rádios oficiais, reconhecidas pelos torcedores como transmissões que transbordam puxa-saquismo e que, vejam só, nelas os clubes sempre jogam melhor e, se perdem, é porque foram roubados. Não dá, né.
Ou alguém imagina que o site do Coritiba iria noticiar a polêmica transação da China com o apelidado Dion Careta que sacudiu o Conselhão? Questionar o desempenho de Marcelo Oliveira, que desembocou no descenso? Ou a busca do cartola Alceni Guerra por um novo estádio? Óbvio que não.
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Não bastasse, a tal “regulamentação” pouco muda. A presença da imprensa em treinos e nas entrevistas após os jogos é muitas vezes infrutífera. Quase nada se tira de 15 minutos de aquecimento nos CTs ou das coletivas engessadas de atletas e treinadores.
O que interessa, realmente, está nos bastidores. Daquilo que os boleiros só falam pelo WhatsApp, no confronto de fontes como empresários e diretores de menor escalão, com as outras pontas das negociações, enfim, há uma série de possibilidades. Que os clubes não têm como evitar.
Assim sendo, o melhor esquema é o de sempre. Os canais oficiais fazem seu trabalho, promovendo os times e, pra usar o termo da moda, “engajando” os fãs. E a imprensa faz o dela, cumprindo o dever de informar e, um diferencial absolutamente importante, criticar quando oportuno. Com isenção, claro.
Acreditar que os coxas-brancas vão dar trela só pros canais oficiais é bobagem. O Atlético já entrou nessa furada e o resultado é que nada mudou. Não boto fé que o Alviverde vai mesmo imitar o rival e o ideário de Mario Celso Petraglia. E ainda com dez anos de atraso.
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