O mês de julho foi marcado por demissão de técnicos nos três times da capital. Sim, em menos de 30 dias, acredite, rodaram os treinadores de Atlético e Coritiba, além do Paraná – Eduardo Baptista, Pachequinho e Cristian de Souza, pela ordem, foram degolados no “Black July”. Possivelmente, um recorde. Uma prova inconteste da indigência técnica do trio. Lamentavelmente.
O caso do Atlético é o mais grave. O Rubro-Negro demonstra, há pelo menos três anos, um futebol pálido. Com um detalhe que faz toda a diferença: não se trata de uma infelicidade ocasional, de um técnico ruim, um elenco fraco, mas, sim, de um “projeto”. Acompanhar velhinhos jogando bocha no Ambiental é mais emocionante do que seguir o Furacão em campo.
O Atlético tenta implantar um estilo semelhante ao do Barcelona, um clube que compra no cartão de débito os melhores jogadores do mundo. Que reuniu Xavi, Iniesta e Messi, três gênios. Uma esquadra que trocava bola até a bandeirinha de escanteio, com passes rápidos, curtos, rondando a área inimiga, até o argentino irromper entre os zagueiros, driblar o goleiro, a mãe do goleiro e… caixa.
A versão atleticana do jogo de posse de bola, ou “retenção”, para soar mais “acadêmico”, é bem menos sofisticada. Antes do meio-campo, Thiago Heleno toca para Paulo André, que toca para Jonathan, que toca para Paulo André, que toca para Thiago Heleno, que toca para Sidcley, que toca para Thiago Heleno, que lança Coutinho. A bola bate na canela de Coutinho e sai.
Para uma equipe que ficou conhecida como Furacão, por causa do ataque avassalador de Jackson e Cireno, que fabricou em série duplas de ataque formidáveis (Assis e Washington, Paulo Rink e Oséas, Lucas e Kléber, Kléber e Alex Mineiro, Washington e Dagoberto), a atual proposta rubro-negra é uma traição a si mesmo. Crime de lesa pátria.
E o Coritiba?
A crítica vale também para o Coritiba, de futebol e proposta igualmente pobre. Pachequinho deixou o clube ainda sem saber que time escalar. Acabou derrubado pela aposta no volante Edinho, um atleta de parcos recursos, já sem mercado. E sem Kléber, também limitado, mas extremamente eficiente, o Alviverde está órfão.
E pensar que o ídolo da década de 90 assumiu a casamata coxa-branca logo após um estágio na Europa, com passagem pela Alemanha etc. Mas voltou já dando entrevistas em que descartava boa parte do conhecimento adquirido, por serem dificilmente aplicáveis, não serem da “cultura” do futebol local. Viajou pra quê, então?
Em todo o caso, o outrora Formiga Atômica ainda é um novato e, como tal, vai aprender muito ainda. Mais preocupante é ver Paulo Autuori, um profissional rodado, de serviços importantes prestados e categoria reconhecida, entrar na onda do tiki-taka sem pilha do Atlético. Com o gestor técnico no comando, o Furacão chegou à Libertadores com a mesma bola curta.
Atlético e Coritiba, e (quase) todos os outros
Em todo o caso, os desempenho fracos da dupla Atletiba são apenas uma amostra da indigência técnica do futebol praticado no Brasil. Com exceção do Grêmio, que impõe um estilo, digamos, mais vistoso, não há nada que nos dê prazer em assistir um jogo. E olha que o Tricolor é liderado por Renato Gaúcho, um técnico que se orgulha de não estudar o esporte.
O cenário é tão carente que a última “revolução tática” em território nacional é o arremesso de lateral dentro da área, com o jogador assumindo a função de catapulta-humana. Um recurso meramente especulativo, que consiste em tentar a sorte numa casquinha, numa bola espirrada etc. Tosco demais, primitivo, varzeano até.
O fato é que a bola é um problema para os times brasileiros. Ninguém sabe exatamente o que fazer com a esfera. Não por acaso, há tantas vitórias de times visitantes que, fora de casa, sem a pressão da torcida, abrem mão da obrigação de ditar ações. Confortavelmente, esperam um vacilo qualquer. E normalmente aparece. É o que se convencionou chamar de “jogar no erro do adversário”.
E os técnicos aprenderam a justificar tudo isso com uma frase que já está virando clichê: “saber sofrer”. Apenas um eufemismo para aliviar a mediocridade geral. Para o torcedor entender, e aceitar, o seu time abandonar a bola, jogar acuado, sem estratégia alguma para mostrar futebol. Como desculpa, até aceitável, o calendário, a falta de estabilidade, a incompetência dos cartolas.
Uma pena que poucos torcedores se importam realmente com a qualidade do “espetáculo”. Se o time deles estiver ganhando, é o que basta. Jogar bem ou mal não possui tanta relevância. Entretanto, não percebem que aquilo que não evolui, que não se aperfeiçoa, que não encontra alternativas, logo fica previsível e descartável. Como no 7 a 1.