Após a 11ª colocação no Brasileiro, e a proeza de ficar fora da Libertadores mais mole de classificar da história, o Atlético decidiu terminar a temporada confrontando seu torcedor. Em nota no site oficial, o clube encontrou no Flamengo um motivo para provocar os atleticanos.
Em texto curto, o Furacão exalta os preços adotados pelo Rubro-Negro carioca para a decisão da Copa Sul-Americana. Diante do Independiente-ARG, o Fla vai cobrar de R$ 80 até R$ 645, para diversas modalidades de sócio-torcedor e setores do Maracanã.
A ideia da diretoria atleticana é usar a comparação para amenizar os preços que pratica normalmente. Os valores para os sócios são de R$ 75 a R$ 350. E na bilheteria da Arena, o Furacão oferece bilhetes a R$ 100 (antecipado) e R$ 150 (no dia), com meia-entrada.
A comparação, entretanto, não se sustenta em nada, e fica mesmo só em mais uma das inúmeras provocações do clube a seu torcedor. Em suma, o Atlético só consegue mostrar como há planos e esquemas bem piores que o seu, que é ruim. No caso específico, o do Flamengo.
Ruim por que? É fácil demonstrar. Há anos o Atlético está empacado com seu plano de sócios. Lançado em 2008, já teve fases melhores, piores, alcançou 25 mil associados este ano com a Libertadores e, com a implementação da biometria, despencou.
O clube não informa quantos sócios tem, muito menos quantos perdeu com o novo sistema de acesso à Arena. Mas a média de comparecimento ao estádio dos associados, que já era baixa, fechou o Brasileiro na faixa dos 10 mil. Para um estádio com capacidade de 40 mil…
Há tempos também o Furacão tem como política encarecer os valores do ingresso avulso para “forçar” a associação. É uma lógica um tanto quanto curiosa: se você tem um produto que não é atraente, você piora a outra alternativa para ver se emplaca. Estranho, né?
Naturalmente, não está funcionando. A carta de sócios não cresce e as vendas de bilheteria do Atlético, com os valores mais altos do país, são insignificantes, ficam na casa de 1.500 por partida. Ou seja, o clube está perdendo nas duas frentes.
O clube faz ainda uma conta tosca, dividindo o valor dos sócios pelo número de jogos no mês, o que resulta num valor pequeno. A questão não é essa, mas outra. Quantas pessoas, na atual situação do país, podem comprometer R$ 1800 de sua renda com futebol por ano?
O resultado disso tudo é uma média de público pequena do Atlético, que caiu de 15.751 em 2016 para 13.779 em 2017 e uma ocupação média da Arena de 34%, o que significa que, normalmente, os jogos do Furacão não enchem nem 1/3 de seu estádio.
Apesar do cenário horroroso, o Rubro-Negro acha que está fazendo tudo certo. E que o Flamengo faz mais certo ainda. E a culpa, evidentemente, é do torcedor. Claro, afinal, se um produto não vende, não é bem sucedido, o responsável é o consumidor.
O que os clubes não gostam de falar é que possuem uma série de alternativas para incrementar suas finanças, algumas bem mais poderosas que bilheteria e sócios. Recebem caminhões de dinheiro da TV, por exemplo. Só de luvas do Esporte Interativo, o Furacão meteu R$ 40 milhões no cofre recentemente.
Outra fonte importante de receita é a venda de jogadores. E, normalmente, as equipes formam mal na base e negociam pior ainda. Não é o caso do Atlético, que costuma vender bem. Mas que ainda possui um potencial inexplorado na formação, considerando a estrutura que detém.
Fica mais fácil mesmo jogar nas costas do torcedor. Que não apoia, que não “consome” o seu time, que não “encampa” o “projeto”. No caso do Furacão, sócios e bilheterias representam somente 20% das receitas do clube. É óbvio que quanto mais crescer, melhor, mas…
Só interessam as rendas dos jogos? É melhor ter um estádio vazio, e alguma renda, do que um campo cheio e com um pouco mais de grana? E o naming rights? E os patrocínios? E a Arena como palco para eventos? É só o torcedor que tem que bancar a conta?
O texto do Atlético termina com uma declaração de Mario Celso Petraglia, presidente do Conselho Deliberativo: “Nossa torcida exige times competitivos sem receitas! A direção do Furacão precisa aprender a fazer milagres!”, exclama o dirigente.
Antes de qualquer coisa, o Furacão precisa aprender a encher o seu estádio. E se quiser fazer “milagre”, basta copiar a Chapecoense. Após perder time, reservas, técnico, preparadores e dirigentes num desastre de avião, os catarinenses, com receitas menores que o Atlético, estão na Libertadores.