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Na semana passada, a torcida do Belgrano impressionou a todos ao lotar o espaço reservado aos visitantes no Couto Pereira. Foram cerca de 4 mil piratas, a maioria vindos de Córdoba, de ônibus, carro, avião etc.

Agora é a vez da torcida do Coritiba se mandar para a Argentina, para acompanhar o Coxa no duelo de volta, na quarta-feira (28). Por terra, são aproximadamente 1.945 km de Curitiba a Córdoba. É chão que não acaba mais.

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Fiz trajeto semelhante em 2006. Fui de Curitiba a Buenos Aires junto com a torcida do Atlético, para acompanhar a jornada do Rubro-Negro diante do River Plate, no Monumental de Nuñez. Foram cerca de 1815 km e 36 horas de viagem para produzir um relato para a Gazeta do Povo.

Reproduzo a matéria principal mais abaixo. E logo abaixo está a página completa, com outros dois textos. Clicando nela você vê em tamanho grande.  

UMA JORNADA DE AMOR AO FURACÃO

Gazeta do Povo acompanha viagem de 36 horas da torcida para ver o Atlético em Buenos Aires

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Buenos Aires – Foram 36 horas seguidas de viagem dentro de um ônibus apertado, mais de 2 mil quilômetros rodados, um sem fim de paradas estratégicas, dezenas de caixas de cerveja – mais os “aperitivos” –, quatro horas de burocracia para atravessar a fronteira e incontáveis gritos de “ô, jardineiro!” e tentativas de utilizar o aparelho de DVD. Tudo isso no embalo pela paixão pelo Atlético. Empurrão que, aditivado por uma boa dose de loucura, levou 33 rubro-negros até Buenos Aires, na Argentina, para acompanhar o Furacão contra o River Plate, ontem, pela Sul-Americana.

O voo rasteiro começou em frente à sede da torcida organizada Os Fanáticos, próxima da Arena, às duas horas da manhã de terça-feira – uma hora depois do previsto e um dia e meio antes do horário da primeira partida do Atlético contra uma equipe argentina.

Dirigido em sistema de revezamento pelos motoristas Osmar “Barney” Lubaski, 42 anos; e Paulo Roberto Sardinha (este sem aspas, pois é sobrenome), 38, o bonde internacional largou castigado pelo forte frio da madrugada curitibana. Porém, antes que pegasse a banguela rumo à capital portenha, já veio o primeiro pit stop: “Moçada, um real de cada para comprar gelo para a ‘golaiada’, disparou o passageiro responsável pelo combustível alcoólico da empreitada.

Na empolgação da partida – e ainda sem cair na real da distância a ser percorrida – o expresso atleticano mergulhou na noite. Tudo era festa. O DVD funcionava numa boa, e um musical do rapper americano Snoopy Doggy bombava no coletivo em duas pequenas televisões – depois de uma rápida exibição das rimas do grupo J.A.C (Júri de Atitude Consciente), da Cidade Industrial.

Quando o sol raiou, e um lindo dia se anunciou, foi feita a segunda parada, esta de caráter estratégico, já em União da Vitória, no interior do Paraná. Café da manhã degustado, veio a tradicional pergunta de “tá todo mundo aí?” entoada e mais chão pela frente.

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E dá-lhe chão. Menos mal que, atingindo a velocidade de cruzeiro, o “busão” do Furacão foi papando trechos com facilidade aproveitando os retões: às 10 horas da manhã, ultrapassava Erechim e uma hora mais tarde aportava em Passo Fundo, ambas cidades gaúchas, para mais uma refeição.

Foi a partir daí que surgiu o que se tornaria a principal celeuma da viagem. O aparelho de DVD – único passatempo que não os tradicionais beber e conversar – se mostrava pouco cooperador com os discos da galera, na maioria piratas. Entre os muitos que tentaram, em vão, reanimar o polêmico eletrodoméstico, um exaltado ordenou: “Pô, motoca (o motorista Sardinha), só você para fazer funcionar essa ximbica!”.

E veio São Luiz Gonzaga, São Borja e o mapa do Rio Grande do Sul ficou na poeira. Até que, às 22 horas, foi avistada a fronteira Brasil-Argentina, entre Uruguaiana e Paso de los Libres. Começava então uma dolorosa espera para vencer a principal barreira do percurso.

Somente depois de um entra-e-sai, um vaivém frenético do ônibus protagonizado por Weverson “Preto” Pontes, 28, líder da turma, vagarosamente os procedimentos iam sendo todos cumpridos. “É um empenho muito grande. Mas a minha vida é isso aí, viajar com o Atlético até o inferno”, disse o torcedor, que tem milhagem de veterano ao lado do clube, com excursões até Fortaleza, Goiânia e Recife, apenas em 2006.

Depois de longuíssimas quatro horas, e muita informação desencontrada, eis que a rodonave da caveira comeu o solo argentino. O chá de aduaneira – a fim de conseguir “la permición” – derrubou os atleticanos, que mal conseguiram ensaiar um portunhol de lascar, ficando apenas no “maricón” dirigido pelos brasileiros aos hermanos.

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Mais de 24 horas de estrada e ainda faltavam 671 quilômetros, o sono se tornou o principal aliado para vencer a etapa derradeira. Depois das primeiras boas horas dormidas, às 7h30 nova parada, a 300 km do destino final.

Na lanchonete do posto de gasolina, a atendente mandou: “Solo pesos”, recusando o pagamento em real ou dólar. E foi prontamente respondida: “Peso? 90 kg”. Num clima de acentuado bom humor – que marcou toda a ida – foram percorridos os últimos metros até a casa do River Plate.

Entretanto, mais algumas horas de espera estavam no programa, enfurnados no ônibus, protegidos dos barrabravas do River dentro do pátio de uma universidade ao lado do estádio. Mas agora, apenas uma contagem regressiva para o término das horas necessárias para assistir in loco ao Atlético na Argentina.

E se, mesmo depois de ler esse longo relato você tem dúvida da grandeza do feito, atente para o seguinte: Atlético e River Plate foi ontem no começo da noite, a quinta-feira já nasceu, sexta vem aí e, enquanto isso, o ônibus atleticano deve estar em algum ponto longínquo de Curitiba. A previsão de chegada? Só no sábado. Mas saboreando a vitória sobre o River.