Um dos responsáveis pela cerimônia de abertura da Olimpíada do Rio de Janeiro, Fernando Meirelles antecipou o que seria o tom da festa em seu perfil no Twitter: “Bolsonaro e Trump vão odiar a cerimônia. Nisso acertamos”, afirmou o diretor do clássico filme Cidade de Deus e antipetista declarado.
E o que se viu no imenso palco do Maracanã foi o retrato de um Brasil plural. Da elegância de Paulinho da Viola, ao violão, executando o hino nacional. E da audácia da MC Ludmilla, cantando o Rap da Felicidade, de Cidinho e Doca. Teve até os “comunistas” Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Sem elitismo, para agradar a todos os gostos.
A cerimônia foi bem além. Abriu espaço ainda para outras bandeiras que não as dos países. Diante do mundo todo, o país sede prestou reverência aos índios e negros, destacou uma transexual (Lea T) e exaltou o empoderamento das mulheres, com a rapper curitibana Karol Conka.
Tudo retratado dentro do espírito de “gambiarra”, outro ponto revelado por Meirelles antes do evento. Não no sentido de “jeitinho brasileiro”, de falcatrua. Mas do uso da criatividade para fazer muito com pouco. Quem projetava (ou torcia por) uma vergonha internacional, ficou quieto.
A diversidade e o engajamento serviram para quebrar a monotonia. Normalmente, cerimônias de abertura são chatíssimas. Marcadas por alegorias incompreensíveis e um desfile de delegações que parece não ter fim. Londres reverteu a lógica com música pop. E o Brasil manteve a festa interessante.
Espetáculo popular que contrastou com o público de elite da Olimpíada. Os ingressos para o show no Maracanã custaram ao menos R$ 200 e foram até R$ 4.600. Carga de bilhetes que normalmente é reduzida pela infinidade de convites e jabás para famosos, políticos e pessoas que poderiam pagar facilmente.
Um cenário burguês que o futebol experimenta cada vez mais. Em ritmo acelerado de elitização, tem ingressos cada vez mais caros e planos de sócios acessíveis só para quem pode se comprometer com lazer. Os pobres têm papel apenas no gramado, correndo atrás da bola.
Foi mais ou menos assim nesta sexta-feira (6) no estádio que já foi o mais popular do planeta e para a Copa do Mundo foi transformado em uma arena qualquer. Menos mal, a mensagem principal da abertura foi clara. De tolerância e igualdade. Como Meirelles planejou, para orgulhar o Brasil e apavorar os Bolsonaros e Trumps que surgem por aí.
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