Há um equívoco recorrente quando se aborda a violência relacionada ao futebol. De que as pessoas que praticam tais atos não pertencem ao esporte, são “vândalos travestidos de torcedores” – ou “marginais”, “facínoras”, como queiram.
Entendo a força de expressão. Mas o clichêzaço, como sempre, enfraquece o debate. E faz com que a procura por soluções se torne mais difícil. Antes de tudo, é preciso encarar o problema de forma mais direta.
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Que são criminosos, é somente o óbvio. Que fazem mal ao futebol, é igualmente evidente. Agora, é claro também que são figuras, sim, do futebol. Não estão “travestidos”, infiltrados. O esporte e a violência se misturam desde sempre, e não há indícios que um dia vão se separar.
Basta observar o incidente nos arredores do Couto Pereira. A maioria dos envolvidos vestia as cores de seus clubes e estavam ali para ir ao jogo. Os corintianos viajaram centenas de quilômetros para acompanhar o clube do coração. Estão acostumados a frequentar o futebol.
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Logo, por que não seriam torcedores do clube? Cantam, vibram, usam as cores das equipes, assistem aos jogos na tevê, acessam os estádios pelo Brasil. Por que seriam “vândalos travestidos de torcedores”?
É fácil entender. Trata-los apenas como criminosos, como “intrusos” no esporte, facilita tremendamente as coisas. Fica parecendo que extinguir as torcidas organizadas, por exemplo, resolve a questão. Que a “volta das famílias” elimina o problema.
Claro que não é assim. É bem mais complexo. O futebol também inspira e provoca violência e, uma parte considerável de seus adeptos, está próxima de praticar ações repulsivas de toda sorte, especialmente em grupo. A sociedade brasileira é extremamente violenta, logo, o futebol também é.
Entender o aspecto doentio do esporte é o caminho para melhorar as coisas.