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Alienação, Fanatismo e Elitismo. Sobre as suscetibilidades humanas na política.

Vamos celebrar a estupidez do povo

Nossa polícia e televisão

Vamos celebrar nosso governo

E nosso estado que não é nação

(…)

Vamos alimentar o que é maldade

Vamos machucar um coração

Vamos celebrar nossa bandeira

(…)

Vamos cantar juntos o hino nacional

A lágrima é verdadeira(…)

Vamos celebrar a aberração

De toda a nossa falta de bom senso

(Legião Urbana)

Nas acaloradas discussões sobre a crise política, os vários lados desqualificam-se reciprocamente. Tal desqualificação implica não ouvir o opositor. Com isso, amplifica-se a própria perspectiva, ao ponto de torná-la absoluta, imponível pela força.

Não chegamos, ainda, a esse momento extremo. Ainda há tempo para refletir sobre tais desqualificações e orientar o comportamento para o respeito às instituições e às pessoas.

Alienados são os que repetem algo como se fosse verdade, sem verificar a idoneidade da informação, sem submetê-la ao crivo da razão. São os que pregam o fim da corrupção de maneira seletiva, os que querem um novo Governo de direita, mas, que precisam do Estado para (temporariamente) livrarem-se das mazelas da vida. São os que pregam austeridade fiscal e redução de gastos do Estado, mas, ao mesmo tempo, querem manter auxílios, benefícios e isenções tributárias para apenas alguns setores da sociedade. São os que querem cortar na carne, desde que seja a alheia.

Fanáticos são os que acreditam numa verdade absoluta e irrefutável, e, apesar de estarem cientes de fatos que contrariam o bom-senso, insistem em defender irrestritamente o próprio ponto de vista. Estes votarão em pessoas envolvidas em escândalos públicos porque colocam sua ideologia (de direita ou de esquerda) acima de qualquer suspeita. São os que o defendem o Estado Democrático de Direito somente na parte que lhes interessa.

Elitistas são os que creem ter melhor preparação intelectual, moral e política para governar, porque produzem a única verdade possível. Estes (de esquerda ou de direita) se põem acima do povo. Os elitistas, por herança, por titulação ou por aclamação acreditam ser salvadores da Nação. Quem os segue é do “bem”. Os outros são do “mal”.

Na vida real, cada um de nós combina estas posições (passionais) em maior ou menor grau. Esta é uma das razões de termos olhos e ouvidos seletivos.

Reconhecer esta suscetibilidade humana (para a “des-razão”) é o primeiro passo para que as reivindicações, manifestações e indignações ocorram de acordo com as regras institucionais, para que as críticas ou os apoios a esta ou aquela posição sejam dirigidos contra/a favor do Governo e não em relação às pessoas em geral. Se cruzarmos esta linha de respeito recíproco caminharemos para as sombras dos conflitos e dos ressentimentos insuperáveis. Nestes tempos conturbados, a lucidez, a serenidade, a temperança e, vez ou outra, o silêncio (eloquente) devem ser exercitados.

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