Hello darkness, my old friend
Because a vision softly creeping
Left its seeds while I was sleeping
And the vision that was planted in my brain
Still remains
Within the sound of silence
O impeachment concentra a atenção das pessoas. Não poderia ser diferente. Mas, com ou sem o impedimento da Presidente (e/ou do Vice) algumas questões permanecerão. Qual é o papel do Estado? A autonomia do mercado é ilimitada? Como podemos melhorar nossa sociabilidade? Em suma, como uma sociedade deve se organizar para ser justa e solidária?
A resposta a estas perguntas parece ter se perdido na emergência do presente, por meio de um raciocínio simplório. O problema do país é a corrupção do PT. O PT é a esquerda. Logo, a esquerda é corrupta e imprestável. A solução? A direita!
As coisas não são tão simples assim, isto porque “direita” e “esquerda” não são as únicas opções do espectro das teorias modernas e contemporâneas da justiça.
A já antiga distinção entre “direita” e “esquerda”, certamente, facilita a compreensão das diferenças entre os pontos de vista entre aqueles que priorizam as liberdades individuais (direita) ou formas de igualdade mais substancial (esquerda). Os livros “Direita e Esquerda” e “Igualdade e Liberdade” de Norberto Bobbio ilustram, didaticamente, a discussão.
Priorizar um valor, não significa erradicar outro. Os liberais não abdicam da igualdade jurídica (isonomia). Tampouco, os igualitários recusam a preservação de alguma esfera de liberdade. A direita não se restringe às visões tradicionais de Locke e Kant. Da mesma forma, a esquerda não resume a Marx e Gramsci.
Existem novas direitas, como o neoliberalismo de direita (libertarismo), de Robert Nozick, Thomas Nagel, Frederich Hayek e Milton Friedman, além do neoliberalismo de esquerda (igualitário ou político), de John Ralws e Ronald Dworkin.
A nova esquerda apresenta-se na forma de um socialismo liberal (Norberto Bobbio e Boaventura de Sousa Santos) ou, na vertente, comunitarista, nas concepções de Charles Taylor, Michael Sandel, Alasdair MacIntyre e Michael Walzer.
Para além de direita e esquerda, há o republicanismo moderno de Jean-Jacques Rousseau, mas, também republicanismos contemporâneos, como os de Jurgen Habermas, Philip Pettit e Quentin Skinner.
Há um utilitarismo clássico, na versão de Jeremy Bentham e Cesare Beccaria, mas, também reformulações como as de John Stuart Mill e novos utilitarismos como os de Amartya Sen e Peter Singer.
Há ainda teorias que partem da análise de questões específicas, mas, que espraiam suas proposições para os vários aspectos da vida privada e das relações sociais, a exemplo dos feminismos (Carole Pateman, Susan Muller Okin, Seyla Benhabib e Nancy Fraser) e dos ambientalismos, os quais podem se amoldar mais a esta ou àquela corrente (liberal, igualitária, republicana ou utilitarista).
Estas correntes podem apresentar-se em forma de democracia, de guardiania (autoritária) ou de anarquia (Robert Dahl, em “A democracia e seus críticos”).
Das combinações entre as teorias da justiça e os regimes políticos surgem modelos como a ultradireta (liberalismo autoritário), a extrema esquerda revolucionária (igualitarismo autoritário), o anarco-liberalismo, etc.
Tais teorias têm pontos de proximidade e de discordância e mostram que as questões sobre o futuro de qualquer sociedade democrática não são facilmente resolvidas.
Por este motivo, o debate público sobre as futuras reformas econômicas, políticas e sociais no país, não pode se resumir a uma percepção maniqueísta sobre a Justiça.
Nesse sentido, a leitura de textos como os de Will Kymlicka (Filosofia Política Contemporânea), Álvaro de Vita (A Justiça Igualitária e seus Críticos) e os vídeos de Michael Sandel (Justiça: o que é fazer a coisa certa), são bons pontos de partida para quem pretende enriquecer o repertório com bons argumentos, sejam eles de direita, de esquerda, republicanos, utilitaristas, feministas ou ambientalistas.
Há algo mais a ser discutido do que “direita x esquerda”, “PT x Anti-PT”, “Coxinhas x Mortadelas”, “luta de classes x laissez faire“.
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