O ano do rato mal começou e a China já é o tema central do noticiário internacional. Está nas capas das principais revistas do mundo e é o assunto mais quente das mesas redonda e programas de variedades na TV. No centro das discussões, o coronavírus.
O tema logo tornou-se motivo de fake news, majoritariamente espalhadas por WhatsApp, revelando imagens de chineses que caem mortos nas ruas, sofrem convulsões no transporte público ou simplesmente se alimentam de cobras e morcegos crus, facilitando sua contaminação por microrganismos silvestres. Quase tudo falso, fora de contexto ou distorcido.
Até as notícias positivas sobre o país, como a habilidade de execução de grandes projetos, demonstrada na construção de novos hospitais em Wuhan em só 9 dias, tornaram-se tema de controvérsia, como o suposto uso de mão de obra escrava para acelerar as obras. Embora seja evidente que não há escravidão em Wuhan, bem como não existe ainda nenhuma comprovação sobre a origem exata do novo vírus, as informações parecem já ter convencido boa parte da opinião pública brasileira. Uma clara demonstração do baixo nível de conhecimento que temos sobre o país que é o maior fenômeno econômico dos últimos cem anos.
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Nas últimas três décadas, a China tirou 400 milhões de pessoas da pobreza, levou 300 milhões de camponeses para centros urbanos, multiplicou seu PIB por uma dezena de vezes, plugou 1 bilhão de pessoas na internet e tornou-se o país que mais transaciona bens e serviços em todo o mundo. Em 2021, o país deve declarar-se livre da miséria, com 0% de seus cidadãos vivendo abaixo da linha da pobreza. Segundo dados do Banco Mundial, até 2032, o PIB nominal chinês será o maior do mundo, superando a economia americana.
Tal fenômeno, fez acadêmicos, jornalistas, empresários e pesquisadores de todo o mundo, notadamente ingleses e americanos, debruçarem-se para compreender o fenômeno asiático. Tristemente, a nova geração de sinólogos conta com poucos, ainda que brilhantes, brasileiros.
A má compreensão pelo Brasil e sua elite econômica e intelectual do que é a China, seu modo de pensar e fazer negócios certamente irrita os chineses, que passaram os últimos dias queixando-se da xenofobia brasileira, alegremente demonstrada nas caixas de comentários dos portais. Para nós, no entanto, o despreparo custa bem mais que incômodo e desgosto ao ler notícias online.
Desde 2009, a China é a principal parceria comercial do Brasil e um dos 5 maiores investidores estrangeiros no país. Em 2019, o saldo nas relações bilaterais entre os dois países foi de US$ 24 bilhões, a favor do Brasil. Também no ano passado, foram as estatais chinesas que salvaram o leilão do pré-sal, garantindo investimentos mínimos.
Não se trata aqui de adular a China e submeter-nos a seus interesses. Mas compreender a importância deste parceiro estratégico e preparar-se para negociar com eles é, além de demonstração de inteligência, um ato de patriotismo e de amor ao Brasil. A leitura errada ou superficial do potencial da relação bilateral empurra nosso país para uma posição de dependência, má negociação e, em última análise, uma inserção comercial subalterna, apoiada na venda de recursos naturais com pouco ou nenhum valor agregado.
Se nas últimas décadas o Brasil optou por seguir exemplos americanos e ingleses, deveria fazê-lo mais vez, observando o exemplo destas nações anglófonas que priorizam os estudos de China. A nova década que se inicia aponta para a óbvia ascensão chinesa, uma novidade para a qual, ainda, estamos pouco preparados.
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