Shopping aberto em Xangai: com máscara, vida volta ao normal na Ásia| Foto: Divulgação
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São complexas, variadas e controversas as razões que levaram um país a ter mais casos e mortes por Covid-19 que outros. É possível contestar a veracidade dos números divulgados, a estratégia de testagem e até questionar os atestados de óbitos. Apesar de tudo, é impossível negar o óbvio que ulula à nossa frente: os países asiáticos, em particular a China, triunfaram sobre o vírus. O Ocidente fracassou.

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Na lista das dez nações mais atingidas, só dois estão na Ásia, e um deles nem tanto. Falamos de Índia e Turquia. Todos os demais são europeus, além de nós – as duas maiores populações das Américas, EUA e Brasil, no topo mundial dos piores países do mundo para se estar nesta crise, os campeões em casos de infecção.

Na China, epicentro primeiro da doença, com a maior população do mundo, havia tudo para epidemia ser um genocídio. Morreram 4 mil pessoas, menos que no estado de São Paulo. Há um mês, ninguém morre de Covid por lá. Há um mês, não há um único caso novo em Pequim.

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O segredo do sucesso foi o uso de ciência, dados e disciplina. Toda população aderiu às máscaras, que são usadas até hoje. Por geolocalização de smartphones, sabe-se a rota dos infectados, avisa-se quem teve contato com eles. Em Wuhan, 6,5 milhões de pessoas foram testadas, uma a uma.

Alguém dirá que tal resultado só é possível com a supressão de liberdades, que a China é malvada e antidemocrática. Tome-se o Japão e Coreia do Sul, democracias ao estilo Ocidental, atingidos desde o dia 2 pelo vírus. Óbitos mínimos. Somados, os dois países não dão um boletim de terça-feira do Brasil.

Na Europa, a doença custou a ser levada a sério. Ingleses incrivelmente imaginaram ser possível manter as crianças indo às escolas, até que alguma universidade local convenceu Boris Johnson de que a “imunidade de rebanho” custaria milhões de mortos. O isolamento tardio custou dezenas de milhares de vidas humanas a italianos, franceses e espanhóis. No caso dos britânicos, quase custou a vida do próprio Boris Johnson.

O cenário mais trágico é o das Américas, que mesmo podendo assistir à tragédia na China e na Europa, viu seus líderes desdenharem da crise. Trump, uma dezena de vezes, minimizou a gravidade da doença. Inacreditavelmente, chegou a discutir com cientistas a ingestão de desinfetante (!!!) como método de profilaxia. É negacionista, insiste em teorias conspiratórias, como o “vírus chinês”, insinuando que o Covid foi criado em laboratório, bem como nega outras bases do conhecimento humano, como o aquecimento global.

Agora, declara tomar preventivamente hidroxicloroquina, uma medicação a respeito da qual há muitas coisas publicadas, menos um estudo científico respeitável que ateste sua eficiência para Covid.  Contam-se mais de 100 mil mortos no país de Trump e 1,7 milhão de infectados.

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O Brasil, segundo pior país do mundo em número absoluto de infectados, não tem sequer ministro da Saúde. Não usamos máscaras corretamente. Dia sim, outro também, cidades em quarentena registram jogos de futebol e bailes funk. No município de São Paulo, o mais atingido do país, raras foram as vezes em que o “isolamento” atingiu 50% de seus habitantes, índice obviamente insuficiente para conter a transmissão da doença.

O negacionismo científico grassa por aqui também. Nos grupos de WhatsApp, circulam informações de que o número de mortes por Covid é falso, que a cloroquina já curou milhares e que as notícias que vemos na TV são, na verdade, uma ficção terrorista.

Ao vírus, não interessa muito quem mente ou diz a verdade. As doenças não cedem a argumentos de WhatsApp. Logo, enquanto os países asiáticos que usaram a ciência, os dados e razão para orientar suas políticas recuperam suas economias e voltam à vida, digamos, do “novo normal”, toda economia da União Europeia, Brasil e Estados Unidos sofrerá retração ruinosa. Além, é claro, das perdas que não se podem contar em células de papel, os cadáveres vítimas de nosso egoísmo, obscurantismo e negacionismo.