Um homem que havia perdido seu machado suspeitava do filho de seu vizinho. O menino andava como um ladrão, se parecia com um ladrão, e falava como um ladrão. Depois de alguns dias, o homem acabou achando seu machado, perdido no meio de um bosque em que havia trabalhado recentemente. Quando reencontrou o filho do vizinho novamente, ele andava, se parecia e falava como qualquer outra criança. (Tradicional conto alemão)
Tenho falado bastante sobre propriocepção em algumas reuniões recentes (propriocepção = sensibilidade própria aos ossos, músculos, tendões e articulações e que fornece informações sobre a estática, o equilíbrio, o deslocamento do corpo no espaço), mas no sentido da auto-percepção, da consciência e interpretação que temos sobre nós mesmos e os outros, suas ações e reações.
Afinal, como na estória alemã descrita acima, temos uma lente sobre nossa percepção: o que achamos de nós mesmos, das pessoas com quem convivemos, das situações, sejam elas pessoais ou profissionais. Essa lente pode estar sintonizada com a verdade para mais ou para menos, refletindo o que queremos enxergar ou o que ocorre, de fato.
Posso ter uma ideia muito clara sobre mim, mas a forma como os outros me enxergam pode ser bem diferente. Posso me achar acessível, mas passar uma imagem dura, de soberba. Posso perceber o outro como alguém que tem algo contra mim, mas na verdade esta tinta existe somente na minha interpretação. E assim por diante…
Agora levemos esta rápida análise para o trabalho, e para nossas relações profissionais. Começando com o velho princípio da comunicação efetiva (emissor e receptor), a chance para confusão e ruído já é grande quando pensamos nas palavras, e nas diferentes formas de expressão. Se somarmos a correria e excesso de informações de hoje em dia, a coisa se complica. Se somarmos as lentes da percepção de cada um, temos um verdadeiro palco pronto para desalinhamento.
Indo adiante, a questão da verbalização é fundamental. Não posso achar, tenho que checar. Se faço isso com informações de mercado ou dados de relatórios, por que não fazer com mensagens não muito claras de pessoas com quem trabalho? Por que preciso que meu chefe me chame para resolver certas situações de ruído e conflito, se eu mesmo posso fazer isso ao adotar uma postura mais proativa? Por que dou como verdade o que percebo ou ouço falar, se posso verificar diretamente com a fonte? Logicamente que me refiro a pratos limpos, e não confronto.
Por fim, a curva de experiência. O que vivo hoje deve ser acumulado de forma consciente no meu funcionamento e modo de agir. Se passei por um ruído ou problema com alguém hoje, como posso fazer para que isso não aconteça de novo? “Colocar tudo por escrito” não é uma boa resposta, pois me refiro a relações pautadas em aprendizado e confiança, fundamentais para o desenvolvimento de equipes e execução de estratégias das empresas.
E o que isso tem de ligação com o stress? Muito, muito mesmo.
Melhor comunicação, maior auto-conhecimento, sensação de pertencimento e confiança no time de trabalho são condições muito mais propícias para o controle do stress, para mais produtividade.
E então, alguém aí perdeu o seu machado e anda buscando culpados??