Este ano, completam-se 40 anos da revista norte-americana Ms. Para quem não conhece, esta foi a primeira revista dirigida, escrita e publicada por mulheres, numa época em que publicações destinadas ao público feminino eram dirigidas, escritas e publicadas somente por homens, e cujos temas giravam em torno de receitas, roupas, maquiagem, maternidade e casamento – não que estes não fossem temas interessantes; o problema é que eram os únicos assuntos que os editores achavam dignos de serem lidos por suas leitoras.
Assumidamente feminista, a revista, no título, já era revolucionária. Recusava os termos Miss e Mrs., que dividiam a mulher em solteira e casada, como se o casamento fosse o único divisor de águas na vida de uma mulher e o único status que lhes importasse fosse o marital. Com o Ms., as mulheres puderam optar por uma terceira forma de se identificarem – nem solteiras que ainda eram propriedades do pai, nem casada e propriedades do marido.
Mas a revista foi além disso: foi a primeira a trazer a suas leitoras temas como assédio sexual no trabalho, violência doméstica, estupro conjugal, direito ao aborto e ao planejamento familiar, participação política e igualdade de gênero perante a lei, remuneração justa, patrocínio para atletas mulheres e homossexualidade. Foi a primeira vez que muitas leitoras ouviram falar em termos como “sexual harassment”, “equal pay” ou “domestic violence”.
Passados 40 anos, a revista continua sendo uma voz importante nos EUA – principalmente num momento em que a direita republicana tenta restringir os direitos das mulheres, tanto os já adquiridos quanto aqueles que ainda lhes são negados. A má notícia é que, após tanto tempo, poucas são as revistas que seguiram o mesmo caminho. O Brasil é um exemplo: impossível citar uma revista dirigida ao público feminino que tenha as mesmas características.
As que estão aí são uma versão moderna daquelas de 40 anos atrás: concentram –se em dar dicas de como achar o homem-príncipe perfeito, além de reproduzirem um padrão de beleza irreal em seus editoriais de moda e fingirem-se de liberadas com “manuais do sexo” que mais colaboram para a frustração do que para a realização sexual de suas leitoras. Sem falar que muitas – as lésbicas, as negras, as gordinhas – quase nunca são lembradas. Faltam mais Ms. por aí.