Hoje, quando o país relembra os 50 anos do Golpe Civil-Militar que sufocou o Brasil por 21 anos, este blog relembra e reverencia as mulheres que lutaram contra a Ditadura Civil-Militar. Porque mesmo entre as vítimas, igualmente dignas de respeito e de admiração, há algumas mais invisibilizadas do que outras.
Sã as mulheres, que assim como na Revolução Francesa, foram esquecidas pela História. As que não apenas eram torturadas, mas também assediadas e estupradas pelos militares – muitas delas grávidas ou no puerpério – caso de Ieda Seixas, Ana Maria Aratangy e Amélia Teles. Que sofriam abortos ou ficavam estéreis após dias e meses de espancamento e tortura, como Nádia Nascimento. Que padeciam de tortura psicológica com as ameaças de desaparecimento, tortura e morte de seus filhos, tal como Criméia de Almeida. Que muitas vezes foram reduzidas a “musas”, “companheiras” e “amantes” dos militantes de esquerda, e não como protagonistas da resistência, em todas as suas fases, caso de Iara Iavelberg e Clara Charf, entre tantas outras. Que foram até o fim pelo direito de saber onde estavam enterrados seus filhos, familiares e amigos – com algumas, inclusive, morrendo em decorrência disso, tal como Esmeraldina Carvalho Cunha, mãe de Nilda Cunha, e Zuzu Angel, mãe de Stuart Angel Jones. Que foram protagonistas da luta pela anistia, quando havia passeatas exclusivamente femininas nas ruas das capitais. Mesmo entre as mulheres, há as que são mais sub-representadas ainda. Onde está devidamente documentada e reconhecida a luta das mulheres negras – como Helenira Rezende de Souza Nazareth, Alceri Maria Gomes da Silva e Ieda Santos Delgado – durante a Ditadura?
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Hoje, 50 anos depois, quando tanto se fala em democracia, estado de Direito e luta pela liberdade e pela dignidade, é importante não esquecer que a mulher brasileira ainda não goza desses direitos em sua integralidade. Ainda acham que merecemos ser estupradas por conta de uma roupa. Ainda somos sub-representadas na política. Ainda ganhamos 73% do que ganham os homens pela mesma função e serviço. Pra nós, a democracia ainda não é plena. E falta reconhecimento.
Não permita que apaguem nossa luta.
Para saber mais sobre as mulheres que lutaram contra o regime, sugiro esta reportagem da revista Marie Claire, publicada em 2013. Um trecho da reportagem demonstra como era a violência cometida contra as mulheres nas prisões:
“Depois de nos colocarem nuas, eles comentavam a gordura ou a magreza dos nossos corpos. Zombavam da menstruação e do leite materno. Diziam ‘você é puta mesmo, vagabunda’”, afirma Ana Mércia. As violências que seguiam incluíam, em geral, choques nas genitálias, palmatórias no rosto, sessões de espancamento no pau de arara, afogamentos ou torturas na cadeira do dragão, cujo assento era uma placa de metal que dava descargas elétricas no corpo amarrado do prisioneiro. Mas com as mulheres era diferente. “Havia uma voracidade do torturador sobre o corpo da torturada”, afirma a psicóloga Maria Auxiliadora Arantes, cuja tese de doutorado sobre tortura no Brasil será publicada este ano. “O corpo nu da mulher desencadeia reações no torturador, que quer fazer desse corpo um objeto de prazer.”
Também deixo aqui o nome das mulheres mortas e/ou desaparecidas durante o período, de acordo com a lista oficial da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos. Se algum nome ficou de fora, por favor, forneça a informação nos comentários.
Alceri Maria Gomes da Silva
Ana Maria Nacinovic Corrêa
Ana Rosa Kucinski Silva
Anatália de Souza Melo Alves
Áurea Eliza Pereira Valadão
Aurora Maria Nascimento Furtado
Carmem Jacomini
Catarina Abi-Eçab
Dinaelza Soares Santana Coqueiro
Dinalva Oliveira Teixeira
Esmeraldina Carvalho Cunha
Gastone Lúcia Carvalho Beltrão
Gerosina Silva Pereira
Helenira Rezende de Souza Nazareth
Heleny Telles Ferreira Guariba
Iara Iavelberg
Ieda Santos Delgado
Íris Amaral
Ísis Dias de Oliveira
Jana Moroni Barroso
Jane Vanini
Lígia Maria Salgado Nóbrega
Lúcia Maria de Souza
Luíza Augusta Garlippe
Lyda Monteiro da Silva
Margarida Maria Alves
Maria Ângela Ribeiro
Maria Augusta Thomaz
Maria Auxiliadora Lara Barcelos
Maria Célia Corrêa
Maria Lúcia Petit da Silva
Maria Regina Lobo Leite de Figueiredo
Maria Regina Marcondes Pinto
Marilena Villas Boas
Míriam Lopes Verbena
Neide Alves dos Santos
Nilda Carvalho Cunha
Pauline Reichstul
Ranúsia Alves Rodrigues
Soledad Barret Viedma
Sônia Maria Lopes de Moraes Angel Jones
Suely Yumiko Kanayama
Telma Regina Cordeiro Corrêa
Therezinha Viana de Assis
Walkíria Afonso Costa
Zuleika Angel Jones