Em 23 de maio deste ano, Elliot Rodger, de 22 anos, se tornou mundialmente conhecido por ter matado seis pessoas e a si mesmo no que ficou conhecido como o Massacre de Isla Vista, perto do campus da Universidade da Califórnia, em Santa Barbara, nos EUA. As vítimas eram duas mulheres e quatro homens.
Logo após o tiroteio, que deixou ainda várias pessoas feridas, a polícia e a imprensa começaram a revelar quem era Rodger: um jovem que se ressentia por, aos 22 anos, ainda ser virgem, que em cartas e vídeos dizia odiar as mulheres, vistas como interesseiras, vadias, desprezíveis, degeneradas, irracionais e inferiores, que planejava matar as colegas de universidade por não darem atenção a ele, e que havia feito parte de um grupo relativamente desconhecido chamado de Pick Up Artists, ou PUA.
Tal grupo basicamente tem como objetivo ensinar os homens a conquistar e a fazer sexo com mulheres por meio do que chamam de técnicas psicológicas sofisticadas e sutis. O jovem Rodger, durante algum tempo, acreditou que o grupo poderia ajudá-lo a transar com mulheres, e participou ativamente de discussões na internet sobre como alcançar o objetivo. Depois, revoltou-se com o grupo, uma vez que não atingia o que queria. Desertou do grupo e passou a fazer parte de comunidades de odiadores do PUA, os PUAHaters.
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Após o massacre, o grupo ficou sob o radar da polícia e da imprensa norte-americana, mas negou veementemente ter influenciado Rodger em seus pensamentos misóginos e depreciativos sobre as mulheres, vistas como objetos sexuais à disposição dos homens. Muitos de fato acharam que a relação entre o assassino e o grupo era um exagero, e logo o grupo saiu dos holofotes.
Esta semana, o PUA está novamente em evidência e sob a mira de alguns movimentos de direitos humanos – em especial o feminista e o movimento negro -, da polícia e da imprensa. Isso porque um de seus mais ilustres representantes, o americano Julien Blanc, foi expulso da Austrália após intensas manifestações. O motivo: começaram a pipocar na internet vídeos de palestras feitas por Blanc em que ele ensina homens a constranger, humilhar e atacar psicológica e fisicamente mulheres desconhecidas na rua. Blanc está em turnê pelo mundo ensinando os truques. O nome da turnê? “Choking Girls All Around The World” (Estrangulando Meninas pelo Mundo), em que ele ensina técnicas como: se aproximar de uma mulher apertando seu pescoço e sufocando-a; em seguido, deve-se dar nela uma chave de braço, afastá-la de seus amigos, mantê-la assustada, ofendê-la e atacar sua autoestima, forçar a cabeça dela até seu pênis, não lhe dar a oportunidade de negar consentimento e ignorar se ela conseguir dizer “não”.
E não é só isso. Em posts no Instagram, Blanc posta dicas de como impedir que uma mulher saia do seu controle, como usar de intimidação (fazê-la ficar com medo, jogar suas coisas fora, usar armas ou machucar seus animais de estimação), de abuso emocional (deixá-la para baixo, xingá-la, dizer que é louca), isolamento (controlar o que ela faz, quem vê e com quem fala), abuso econômico e de crianças, entre outros. Ações descritas como violência doméstica não só pela Lei Maria da Penha, mas por várias outras legislações mundo afora, inclusive a americana.
Em um dos vídeos em que ensina os homens a sufocar e a constranger mulheres sexualmente, Blanc comenta que “se você é branco, pode fazer o que quiser”. A plateia ri e Blanc parece se sentir uma estrela. Como se não bastasse, um colega de Blanc, Owen Tyler, também consultor na empresa Real Social Dynamics, que organiza algumas das palestras, comentou recentemente em vídeo (que foi retirado do YouTube a pedido da empresa) como estuprou uma mulher tailandesa. Diz Tyler no vídeo:
“Ela era um tailandesa, uma stripper. Eu simplesmente odiava aquela vadia. A última vez que eu a fodi, era de manhã, ela estava no chuveiro. Eu acho que ela não queria fazer sexo de novo. Mas eu simplesmente a joguei na cama. Eu me lembro, eu meti nela. Eu mal conseguia fazer isso (penetrá-la) porque ela estava totalmente fora do clima. E eu estava simplesmente pensando “que se foda”, eu nunca mais vou ver essa puta, que se foda”. Um episódio de estupro comentando com naturalidade e alvo da risada e de aplausos dos homens presentes no curso dado por Tyler.
Com base nestes episódios, e após uma petição ter sido assinada por mais de 40 mil australianos, o ministro da Imigração da Austrália, onde Blanc se apresentaria este mês, afirmou que havia cancelado a permissão dele para permanecer no país. No Reino Unido, onde ele deve dar palestra em breve, há manifestações e protestos no mesmo sentido encaminhados ao governo. E agora Blanc, que teve várias palestras canceladas por hotéis e centros de eventos que não querem associar sua imagem a ele, ao PUA e à sua empresa, quer vir à América Latina e ao Brasil.
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