Após uma longa pausa, este blog volta à ativa para dar parabéns e homenagear de forma singela uma das maiores feministas vivas e uma grande inspiração para várias gerações de mulheres: Gloria Steinem, que hoje completa 79 aos.
Em mais de 50 anos de atuação como jornalista, teórica de gênero e ativista, Gloria contribuiu de forma poucas vezes igualável para a emancipação e o empoderamento da mulher, não apenas nos EUA, seu país natal, mas em todo o mundo.
Nascida uma pequena cidade do Ohio, Gloria tinha o sonho de cobrir política e ser uma jornalista de sucesso, mas era sempre preterida pelos chefes, que davam a ela temas mais ‘softs’ que achavam propícios a uma jornalista mulher, como moda, decoração e maternidade. Era difícil para ela emplacar alguma matéria na editoria de política.
Também não eram incomuns comentários machistas e desagradáveis sobre sua aparência – que, inclusive, foi muitas vezes usada contra ela, inclusive por algumas feministas,como se uma mulher tida como bonita não pudesse ter ideias nem ser politizada.
Naquela época, uma mulher não podia alugar um apartamento ou ter um cartão de crédito ou de uma loja de departamentos em seu nome, as vagas de emprego eram separadas por gênero e não havia leis que punissem a discriminação sexual nos EUA, e ela ajudou a mudar esse estado de coisas.
Foi a primeira mulher a fundar, dirigir e publicar uma revista – a revolucionária Ms. Magazine, lançada em 1972 -, e pautar nas páginas de uma publicação temas como direito ao aborto, violência doméstica, contracepção e assédio sexual no trabalho.
Também foi co-fundadora de uma série de associações de mulheres, cujas lutas iam pela maior representatividade feminina no Congresso estadunidense e por equidade salarial até pelos direitos civis das negras e por maior participação feminina na mídia.
Gloria também ficou famosa por desvendar a exploração sexual e trabalhista das coelhinhas da Playboy na reportagem “Eu fui uma coelhinha da Playboy”, onde relatava os exames humilhantes de admissão das moças para trabalhar nos clubes da empresa, o assédio dos clientes e a falta de direitos básicos como hora-extra e seguro de vida.
Por conta do artigo, ela foi atacada de todos os lados: por uns, era vista como uma feminista ranzinza e mal amada. Por outros, como uma ‘vagabunda’ por ter trabalhado no clube, embora ficasse claro que seu objetivo era jornalístico – vale lembrar que a ideia não era julgar as moças por seu trabalho, mas mostrar as péssimas condições de trabalho impostas por Hugh Hefner, o fundador da famigerada revista.
Hoje, Gloria continua ativa. Um de seus últimos trabalhos envolve mulheres vítimas de estupro – o projetos cataloga as histórias de violência e as publica e discute, como uma forma de dar voz às vítimas e ajudar outras mulheres.
Li Gloria pela primeira vez aos 14 anos. O livro, ‘Memórias da Transgressão’, está disponível no link abaixo. Ele, assim como outros textos escritos por ela, mostra que, décadas depois de publicado, continua mais atual do que nunca. E prova que atitudes de mulheres como Gloria continuam sendo muito necessárias.
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