Neste último sábado, mais uma vez o deputado federal e ex-presidente da Assembleia Legislativa do Paraná Valdir Rossoni (PSDB) esteve envolvido em um episódio de violência verbal de cunho sexual contra a mulher. A professora de História Adriana Sobanski afirmou em sua página no Facebook que após discutir com Rossoni a respeito dos desmandos do governador Beto Richa, recebeu na sua caixa de mensagens privadas um insulto de Rossoni, que a chamou de “biscate”.
Pesa contra o deputado um histórico de insulto às mulheres, como quando chamou, pelo Twitter, uma estudante de mal-amada, e quando chamou, dentro da ALEP, e na condição de presidente da mesma, uma servidora de nervosinha, dizendo o seguinte “imagina o que essa mulher faz com o marido em casa”. Porém, o deputado afirma que foi hackeado. Uma vez que hackear dispositivos e cometer um crime por meio dele – a injúria, no caso – é crime, vamos esperar pra ver se o deputado irá tomar providências, como realizar um BO e pedir a responsabilização dos supostos hackers.
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Já escrevi aqui no blog sobre a mentalidade machista de Rossoni quando chamou a estudante de mal-amada, reproduzindo uma ideia muito comum de que mulher que se coloca publicamente, debatendo e fazendo política, é uma mulher que precisa ser amada por um homem, porque certamente isso a acalmaria e a mostraria qual é o seu verdadeiro lugar. Prestemos atenção nessa (i)lógica: mulher que faz política – dentro de partidos, sindicatos, movimentos sociais etc. – não está em seu habitat natural, que é o da casa, cuidando e sendo protegida por um homem. Ela precisa encontrar o homem que vai fazê-la cair em si e abrir mão de um papel que não é o dela: o de uma mulher que faz política e ocupa o espaço público. Ela precisa voltar para o lar, lugar de afeto e intimidade – outra ideia errônea, visto que o lar pode ser um espaço de violação de direitos e de desigualdades.
Quando Rossoni disse que a outra mulher era nervosinha, também reproduziu a ideia de que mulher deve ser um ser dócil, domesticado, que fala baixo – falar alto, se colocar, se impor, é prerrogativa e privilégio de homens. Homem que se impõe é algo natural, mas mulher que se impõe e não aceita o autoritarismo de outros homens é… histérica, nervosa, fora do padrão. Dizer então que a mulher deve ser ruim para seu marido é tentar associar a mulher ao espaço doméstico, como se ela devesse se lembrar de que seu papel é o de boa esposa. Se ela é assim, nervosa, é porque não cumpre com o estereótipo de mulher amável, logo, deve ser uma pessoa terrível para quem está próxima dela, em especial, o marido, a quem ela deve obediência.
Se for verdade que Rossoni chamou a professora de “biscate”, mais uma vez o deputado tenta rebaixar mulheres que se colocam publicamente, desta vez se valendo de um termo que sempre foi usado para humilhar, calar, marcar e amedrontar mulheres – o da biscate, vadia, puta. É este o argumento que usam contra Dilma quando não têm argumentos melhores para criticar seu governo. É o argumento usado contra mulheres que ousam sair das normas e estereótipos. Já foi usado contra cantoras, atrizes, mulheres que trabalhavam fora de casa, e é usado contra políticas, advogadas. Na verdade, é usado contra as mulheres como tentativa de mantê-las no lugar determinado a elas pelo machismo. Afinal, quem quer ser chamada de biscate? Para evitar o termo, quantas mulheres deixaram de cultivar seus interesses e objetivos, suas paixões e sonhos? Quem quer ficar mal-falada? Melhor se calar, para não dar o que falar.
O episódio, caso se prove verdadeiro, é ainda mais lamentável quando nos lembramos de que a bancada feminina na Câmara dos Deputados não chega a 10%. Ou seja, além de a política ser um ambiente hostil com as mulheres e predominantemente masculino, ainda há pessoas usando da sua tribuna no Parlamento para ofender as mesmas.
Espera-se que o deputado esclareça a história de que seu Facebook foi invadido por hacker, provando que foi isso o que aconteceu, uma vez que o insulto partiu de seu Facebook, de seu perfil oficial, e ele deve esclarecimentos à professora e aos paranaenses, seus eleitores ou não, pois representa a população do estado, e mesmo quem não lhe deu o voto se envergonha diante dessa ação, caso seja real. Diante desse histórico de não ter melhores argumentos e apelar para a sexualidade e para a intimidade das mulheres, Rossoni precisa se esforçar para esclarecer tudo. Ele deve isso aos paranaenses, sobretudo às paranaenses.
Em tempo: a repórter de Vida Pública da Gazeta do Povo Amanda Ferné Audi procurou Rossoni para comentar o fato, mas ele não atendeu os telefonemas. Estamos esperando o pronunciamento do deputado, que sempre diz se envergonhar da política em Brasília.
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