Depois de uma longa ausência – pela qual peço muitas desculpas -, volto ao blog com um novo post sobre um assunto que, infelizmente, exige conscientização constante, todos os dias, haja vista a quantidade de comentários em sites e demais espaços – públicos ou privados – minimizando o estupro e culpando as vítimas pelo ato. Nesta quarta, foi publicado um post maravilhoso, sensível e super informativo que ajuda a desmistificar e a combater a cultura do estupro no BuzzFeed. Compartilho com as leitoras e os leitores. Como está em inglês, tomei a licença de comentar os pontos abaixo. Por favor, comente e ajude a aperfeiçoar o debate. Quais outros comportamentos e atitudes ajudam a reproduzir a cultura do estupro? Toda colaboração é muito importante!
Veja o post do BuzzFeed: What is Rape Culture
Curta a página do blog no Facebook
– Achar que estuprador é só aquele cara desconhecido que ataca uma mulher no meio de uma rua escura, às 2h da madrugada. A maioria dos estupros ocorre entre familiares e amigos. Não sei se você sabe, mas embebedar uma amiga ou amigo e depois fazer sexo com ela ou com ele é estupro. Estupradores não são doentes mentais. Não são somente aqueles homens vistos como maus. Podem ser pessoas que admiramos, pessoas próximas. Não entender isso é uma armadilha que ajuda a perpetuar a impunidade e a cegueira em relação ao problema.
– Achar que existe um meio-termo quando se trata de estupro. Em inglês, isso seria chamado de ‘grey rape’, um meio caminho entre negação e consentimento. Não há. Esse termo é uma fantasia, pois quando se trata de violência sexual, não há como se falar em estereótipos. Aí voltamos à primeira atitude. Se não há consentimento expresso, é estupro. Ponto.
– Romantizar a conquista a qualquer preço e achar que um ‘não’ pode significar um ‘sim’ se ele não é dito com ênfase. Nem todo mundo irá dizer não com convicção. Por outro lado, só há consentimento se o sim é dito com convicção. Todo o resto é um sinal de que não se deve avançar o sinal. Por isso, não basta trabalhar em prol do ‘não é não’, mas sim do ‘só ó sim quer dizer sim’.
– Culpar a vítima e praticar ‘slut-shamming’. Dizer que as vítimas têm responsabilidade pelo próprio estupro é cruel, mas muita gente parece não se importar. Comparar essas pessoas às mesmas pessoas que foram roubadas porque não trancaram a porta de casa é transformar pessoas em objetos e desumanizá-las. O mesmo vale pra quem compartilha vídeos e fotos de meninas em situações íntimas, ri delas e as trata como vagabundas. Quer dizer que uma vida sexualmente livre te faz merecedora de um crime cruel? Qual é a lógica?
– Cantadas de rua também ajudam a perpetuar a cultura do estupro. Como? Simples: ao tratá-las como algo normal, você passa o recado de que é OK um homem dizer a uma mulher o que ele gostaria de fazer com ela sem o consentimento dela, afinal, ela não pediu a opinião dele e não está disponível. Se um homem continua avançando sexualmente em relação a uma mulher, seja com palavras ou ações, sem que ela deseje fazer parte disso, isso quer dizer o quê?
– O mito de que a vítima pode evitar o estupro. Estupros acontecem porque estupradores cometem estupro. Porque veem uma mulher como objeto, esteja ela de saia curta ou de burca. Se ele não mudar o seu comportamento, e se a sociedade não fizer o mesmo, de que adiantam todas as precauções dela? Além disso, estupros acontecem tanto na rua quanto em casa, com mulheres jovens e idosas. Vamos ensinar os homens a não estuprar, ou vamos prender todas as mulheres em casa? Você prenderia tua mãe ou irmã em casa por que há homens que podem estuprá-las?
– Roupas e acessórios anti-estupro (e em alguns lugares, iniciativas de segregação como ônibus e vagões de metrô exclusivos para mulheres) são parte do problema. Além de passarem a mensagem de que a mulher é responsável pela atitude desumana de um homem, sabe-se que isso é ineficaz na hora do estupro – e pode levar a vítima à morte. No caso dos espaços exclusivos, segregam as mulheres enquanto os homens continuam livres para atacar as que estão nos espaços mistos – e em outros lugares, pois nos demais espaços, homens e mulheres continuarão a conviver, certo?
– Piadas de estupro. Desumano. Mostra a imbecilidade de quem sai por aí fazendo isso. É um atestado de insensibilidade e imaturidade. Se até muitos criminosos repudiam tal comportamento e a apologia a ele, o que dizer de quem conta piada de estupro e ainda se sente perseguido por receber advertência? Quando você conta uma piada, você passa a mensagem de que é normal você e seus amigos rirem de quem tem a vida destruída por isso. Bonito, né? E pra quem diz que isso não influencia nos índices de estupro: realmente, o estuprador vive em uma bolha, em uma redoma de vidro, e não é influenciado por nenhum tipo de discurso (sejam campanhas publicitárias ou piadas) a respeito de seu comportamento.
– Pickup Artists são reflexo e reprodutores dessa cultura. Acreditar que as mulheres são objeto prontos para serem conquistados num jogo, numa corrida por sexo, é contribuir para a objetificação e para o desrespeito ao consentimento. Quem segue as técnicas PUA acredita que pouco importa a opinião da mulher, você deve insistir até o limite para que ela faça sexo com você. Ela não tem vontades, tudo depende de você ir até o fim, até cansá-la. Você é um perdedor se não conseguir isso. O que significa?
– Medo de denunciar é algo normal numa sociedade que culpa as vítimas, não acredita nelas ou vê o estupro delas como algo menor – desde a polícia e o médico legista até a família, amigos e jornalistas. Mas é preciso romper o silêncio. Não cometer as atitudes acima é uma boa forma de ajudá-las e acabar com a estatística nefasta: apenas 3% dos estupradores são condenados. Ninguém é culpado até prova contrária, mas simplesmente não levar a sério uma denúncia de crime é um absurdo que deve ser combatido incessantemente.
– Falsas acusações de estupro também contribuem pra isso, pois invisibilizam e causam desconfiança em relação a quem realmente é vítima. Isso não é algo comum, mas é algo nefasto.
– Minimizar quando o estuprador é famoso. E ainda ajudá-lo com seu apoio. Isso ocorreu no caso do Kobe Bryant e do R. Kelly, e pode estar ocorrendo no caso do Woody Allen. É impossível separar uma coisa da outra. Claro que uma pessoa pode ser um estuprador e também um brilhante cineasta ou esportista. Mas você quer ajudar a enriquecer e a dar visibilidade social e até política a alguém que abusa de outras pessoas?
– Minimizar o estupro quando ele acontece com minorias. Estupro é estupro, e transexuais, travestis, prostitutas e mulheres casadas também podem ser vítimas. No caso de menores de idade, saiba que crianças e adolescentes não podem se prostituir, e sim são vítimas de exploração sexual. Não importa o quanto as pessoas berrem que eles sabiam o que estavam fazendo, eles não poderiam fazer essa opção conscientemente. E o mesmo vale para negras e indígenas, que sofrem duas vezes com o problemas, pelo machismo aliado ao racismo que as objetifica ainda mais e fazem com que fiquem mais vulneráveis aos crimes sexuais.
– Menosprezar o fato de que homens também são vítimas de estupro (embora isso seja menos comum) e a dor deles é a mesma das mulheres. Não faça piadas sobre sua orientação sexual, não diga que foram fracos por não conseguirem se defender, não diga que isso ‘não existe’. Não julgue a vítima, julgue o agressor. Sempre.
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS