Um dos quase 100 shows da nova turnê mundial do Angra, a “OMNI World Tour 2018”, desembarca em Curitiba dia 20 de julho, na Live. A banda que já vendeu mais 5 milhões de cópias, chega para divulgar o álbum OMNI, e apresenta o mesmo show que será gravado no dia seguinte em São Paulo, para um DVD. Dá para considerar o show de Curitiba como o ensaio geral para a gravação do DVD.
Buscando sempre equacionar a medida de peso e conteúdo, Rafael revelou ao blog Música Urbana o que entende ser os alicerces para essa relevância do Angra no cenário internacional. Um exercício diário de cruzamento de ideias e coincidências alimenta sua criatividade. Assim como o nome Angra foi escolhido por significar “deusa do fogo” na mitologia tupiniquim, todos os trabalhos do grupo passam por esse processo detalhado de formas e significados.
Em um bate-papo descontraído, Rafael Bittencourt, guitarrista fundador e líder do Angra, contou sobre como funciona a construção das músicas, falou sobre a vibe da banda, e a grande fase em que se encontram no momento. Contou detalhes sobre o novo disco, OMNI que segundo ele, é a tradução de todos esses sentimentos por qual o grupo está passando. E também como aconteceu o convite para cantora Sandy participar do álbum.
A turnê OMNI está mexendo com o ânimo dos caras. Todos curtindo muito essa turnê, em um momento marcante para a banda.
Confira a entrevista!
Rafael, a impressão que tenho de seus discos é que você não tem apenas o objetivo em “produzir músicas”, você parece pensar no projeto de uma forma diferente, mais conceitual, uma maneira de contar histórias através do disco. Como funciona o seu processo de criação?
Eu utilizo um método que chamo de “cruzamento de ideias”. Tenho uma mania de produzir qualquer impressão que tenho no dia-a-dia em produtividade. Tudo é aproveitado. Por exemplo, se eu vejo um guarda de trânsito multando, ou uma senhora idosa atravessando a rua, eu absorvo estas pequenas experiências e converto em material para minha música.
Outra mania é observar coincidências e tentar encontrar a relação entre os fatos, desdo os mais distantes de mim até os mais íntimos, como um atentado na Faixa de Gaza, uma notícia política ou algum assunto relacionado à família e tento cruzar estes eventos.
Na tentativa de encontrar semelhanças e pontos de encontro, vão nascendo algumas ideias que eu vou colecionando. Eu anoto tudo em um caderno e vou selecionando os pontos que formam outras percepções. Consequentemente, também acabo abstraindo minhas experiências com a banda, que é uma coisa muito importante na minha vida, e cruzando estas experiências com eventos externos que acontecem no mundo, no bairro, na família ou com amigos, e através deste “”sisteminha” vou encontrando pontos de união para amarrar uma ideia a outra. Inclusive estou mencionando esse método em um curso online chamado “A espada do Artista”.
Mesmo depois de ter todas estas ideias e conceitos amarrados, a formatação do disco não deve ser um processo tão simples.
Não é muito simples. Inclusive eu não tinha tanta prática, isso nasceu da necessidade, porque muitas vezes alguns discos nasceram sob pressão. “Tem que fazer um disco”, a gravadora espera o material para a data x. Isso foi colocando minha cabeça para funcionar, e me socorrer da falta de material.
Eu já ouvi isso de muitos artistas. Hiatos de criação, pode acontecer com qualquer um. Mas você acha que essa técnica que você desenvolveu te ajudou a suprir esses momentos de menor inspiração criativa ?
Essa técnica melhorou, inclusive ela foi necessária, por conta de alguns hiatos que eu também já tive.
Como foi o desenvolvimento e criação do novo álbum OMNI? Qual foi a Gênese?
Omni, foi o seguinte: Eu já tinha uma ideia que seria um romance de ficção científica, há aproximadamente seis anos já. Mas o sistema onde começou essa ideia foi na época em que estávamos gravando o segundo disco Holy Land em 1996, com uma musica do álbum chamada Z.I.T.O. Ali eu pude sofrer um pouco pela falta de ideias e também encontrar um caminho dentro dos meus métodos de observação das coisas.
Na verdade o artista tem que procurar um método dentro do seu sistema natural de observação das coisas, e eu fui me aprimorando com o tempo.De uma história que eu queria que fosse um romance, depois eu pensei em ser uma história em quadrinhos, acabou virando o tema do disco.
Imaginado que você sempre tenha um conceito na produção dos discos, na transição entre os álbuns Secret Garden e OMNI, houve algum elo de ligação?
Sim, até porque estávamos escrevendo OMNI enquanto fizemos Secret Garden, então eles se entrelaçam de alguma maneira em alguns assuntos e temas. Até que eu percebi que eu consegui desenvolver o meu estilo, por assim dizer. Eu escrevo sobre muitas coisas, gosto de cruzar pensamentos teológicos com pensamentos científicos e filosóficos, puramente artísticos. E nesses encontros tão diferentes, de perspectivas científicas até o punk, eu fico procurando o caminho de união, e o caminho de união é o método em si que tem muito a ver com Secret Garden.
Esse tempo entre os dois discos foi muito difícil porque o Kiko Loureiro saiu no mês da promoção do álbum e foi para o Megadedh. Tivemos que repensar muitas coisas, inclusive reconquistar o ânimo, porque toda vez que sai um membro é tudo muito difícil. Precisamos repensar a banda. Precisávamos de um novo cara e reapresentar a banda com esse novo cara. Isso foi muito difícil, então o OMNI, que significa literalmente “o todo” com o sentido diferente de que tudo envolta todas as coisa.
Quando conversei com você, foi exatamente na fase da saída do Kiko. Acompanhei e ouvi de você essa dificuldade naquele momento, mas imagino que hoje já esteja superado.
Ah sim… graças a Deus! Bem superado. Estamos em um dos grandes momentos da banda, até muito melhor do que na fase do Secret Garden com o Kiko. Estamos fazendo uma turnê de 100 shows pelo mundo…
Eu vi a agenda de shows de vocês, e achei impressionante. Turnê mundial com 97 shows agendados . Como está a expectativa da banda para pegar a estrada?
A banda está coesa, muito animada. O baterista Bruno Valverde, por exemplo tem a idade da banda, 27 anos. Os dois nasceram no mesmo ano. Ele tem muita garra, muita vontade, sempre animado e com tesão de tocar. O Marcelo Barbosa, apesar de ser um guitarrista muito experiente, ainda está muito empolgado e muito encantando com o fato de estar tocando na banda. Então o que vem deles me alimenta também. Estou desde o começo, vai fazer 28 anos, mas estou muito animado por conta do momento em que estamos vivendo e com a animação deles.
Em nossa última conversa, há aproximadamente 2 anos, tínhamos conversado sobre a possibilidade de um projeto da banda que seria uma Ópera Rock, até pelas histórias contidas nas letras da banda. Você ainda tem isso em mente, ou a ideia seria o OMNI visto de outra forma?
Muitos dos temas que iriam, certamente, para essa Ópera Rock já estão em OMNI. Agora eu preciso de um tempo para organizar esse material e criar essa ópera. Eu tenho agora a ideia de criar uma com músicas do Angra que já existem. Mas antes, preciso definir isto.
Seria realmente uma peça teatral com vocês tocando?
Exato. Eu tenho textos para peça e musical infantil, mas tudo isso são só rascunhos. Eu preciso realmente parar, pra me dedicar inteiramente, não consigo fazer “de leve”, e com esses 100 show pela frente, vai demorar um pouquinho. Quero fazer mais um CD e acho que Ópera Rock vai ter que esperar um pouco mais.
É bom saber que o projeto Ópera Rock está vivo, e uma pena saber que vai demorar. Acredito muito na ideia.
Outra coisa que percebo é que a banda tem uma relação muito próxima aos seus fãs . Os fãs da banda são reconhecidos pela fidelidade. Como você gere isso?
Olha, tem alguns fãs que são tão próximos que eles passam a ser amigos. Alguns tem até o meu contado de Whatsapp, e tal. São realmente próximos, gostam de conversar e me ajudam, de certa forma, em momentos de dúvidas. Eles são sempre contrários ao que abanda vai fazer, mas também não entram em um acordo entre eles, não existe um consenso entre o que eles acham que a banda deveria fazer. Uma coisa curiosa!
E esses fãs mais próximos me ajudam a discernir um pouco o que a gente deve ignorar. O fã na verdade, é tão apaixonado e ele quer se evolver, mas ele não consegue ver a banda da perspectiva de quem está dirigindo a banda. Por exemplo, da perspectiva de um avião que está em curso. Eles acham que o avião tem que dar a volta, mas é um pouco mais complexo, simplesmente dar a volta, esse avião pode colidir com outro avião, pode pegar uma tempestade, eles não tem toda essa noção. Eles vêem o lado romântico da coisa, e não o objetivo. Mas essa proximidade com os fãs acaba me dando suporte para receber essas opiniões, que são bastante fortes.
Mesmo quem não acompanha o Angra tão de perto, consegue perceber essa proximidade entre fã e banda, e isso é um diferencial muito grande, pra quem está vendo de fora.
Sim, é muito importante. Na verdade no começo da banda nos anos 90, o heavy metal era muito divulgado através dos fanzines, que eram os jornaizinhos que corriam de mão em mão, distribuídos em show de rock. Nós tivemos o nosso próprio fanzine, o Reaching Horizons, que era o meio como nos comunicávamos com os fãs e no meio desse caminho veio a internet, que facilitou nossa comunicação. A cultura do fanzine já existia, apenas migrou pra internet.
Você conseguem manter fãs no mundo inteiro, 97 shows são muitas cidades em muitos países. Como você faz essa gestão internacional com os fãs?
Nós temos alguns fãs que representam os fãs-clubes. Nós temos Fã-clube na França, que ajuda a comunicação tanto no França como em toda a Europa, e temos um fã-clube na Itália que também faz a mesma coisa, e um no Japão. Os brasileiros, consequentemente, acabam se comunicando mesmo em português , com toda a América Latina.
A escolha da Sandy para participar do OMNI, foi uma escolha bastante inusitada. Como aconteceu?
Bom, teve mais uma coincidência aí. Eu sou muito amigo do Amon Lima, irmão do Lucas Lima, esposo da Sandy. Existe uma proximidade, já fizemos muitas coisas juntos, já tocamos juntos. Inclusive a Sandy já assistiu um show do Angra. Então existe uma proximidade familiar. E aí veio a história da música Black Widow’s Web, em que eu queria uma voz angelical para contrastar com a voz do “inferno” da Alissa White-Gluz, e a primeira voz angelical que me veio a cabeça foi a da Sandy. Eu acho que não tem alguém com todo o prestígio, com uma voz tão doce e tão suave quanto a dela.
Ela é uma diva do Brasil. Um ícone. E pra gente foi uma grande honra poder trabalhar com ela, gravar o clipe foi muito legal, muito mágico porque rolou realmente uma sintonia artística entre ela e nós. O nível de profissionalismo dela é uma coisa impressionante. Observar a performance dela de perto, de uma pessoa que nasceu praticamente no palco, o nível de preparo que la tem é um negócio extraordinário.
Rafael, vocês fazem o show aqui em Curitiba, e no dia seguinte tem a gravação do DVD do show OMNI com a participação da Sandy, é isso mesmo?
Isso aí, a gente vai gravar no dia 21 aqui em São Paulo um DVD com a participação da Sandy, no Tom Brasil. E graças a Deus os ingressos estão quase esgotando, e vai ser um momento pra gente celebrar mesmo essa formação atual, celebrar todas essas conquistas, celebrar o sucesso desse CD e nos prepararmos para mais uma fase internacional que serão 30 shows nos EUA, e mais uns 6 pela Ásia.
O show que vocês apresentarão em Curitiba, você diria que é o mesmo que será gravado no dia seguinte? Obviamente sem a Sandy.
Exatamente. A gente vai tocar o disco OMNI na íntegra e mais alguns sucessos que foram escolhidos pelos fãs. Fizemos uma promoção no Facebook, onde os fãs escolhiam as músicas, e nós vamos tocar as mais votadas. É um trabalho em conjunto.
Falando sobre seus projetos paralelos, gostaria de saber como está seu projetp o “Bittencourt Project”.
No ano que vem, eu quero dar continuidade a esse projeto. em 2017 eu lancei um DVD, que foi o primeiro que teve incentivo do povo e do governo através do Crowding Funding onde as pessoas, público e fãs, investiram no meu trabalho. Pois como os recursos não haviam sido suficientes, eu consegui esse apoio do ProAC da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, pra terminar o financiamento disso. O governo e o povo financiaram pela 1ª vez na história um DVD que foi o “Bittencourt Project” o Brainworms Live in São Paulo.
Informações:
Local: Live Curitiba
Hora: 00h30
Data: 20/07/2018
Onde comprar
» Call Center Disk Ingressos (41-3315-0808) Segunda a sábado: 9h às 22h Domingo: 9h às 18h
» Quiosques Disk Ingressos (Shoppings Mueller e Estação) Segunda a sábado: 10h às 22h Domingo: 14h às 20h
» Loja Disk Ingressos (Shopping Palladium) Segunda a sábado: 11h às 23h Domingo: 14h às 20h
» Site Disk Ingressos (www.diskingressos.com.br)
Formas de pagamento: Aceita dinheiro. Aceita cartões de débito e crédito Visa, Mastercard, Dinners e RedeShop. Não aceita cheques.
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