O Festival Desert Trip aconteceu em dois finais de semana na Califórnia, entre 7 e 16 de outubro, mais especificamente na cidade de Indio, em pleno Coachella Valley. O evento ficou conhecido como o Festival dos Festivais, devido ao “line up” único, formado apenas por estrelas, que seriam atrações principais em qualquer festival mundo afora.
O time estrelado era formado por nada menos que: Bob Dylan e Rolling Stones no primeiro dia, Neil Young e Paul McCartney no segundo e no último dia, pra fechar com chave de ouro, The Who e Roger Waters.
Sim, acerta quem se refere a esse encontro musical como não sendo apenas mais um festival. Nele estavam representadas grande parte das músicas mais tocadas nos últimos 50 anos, e apresentadas por seus autores originais. Músicas e músicos que ajudaram a mudar o mundo. E se acharem que estou exagerando, tenho convicção de que no mínimo ajudaram a mudar o modo das pessoas enxergarem o mundo. Foi sem dúvida um encontro histórico.
Eu tive a sorte de estar presente no segundo final de semana de apresentações. Apesar de não ter conseguido comprar as entradas quando do início das vendas, (pois os ingressos esgotaram em algumas horas), e eu já estar conformado que não conseguiria ir. Faltando apenas alguns dias antes da data de início do festival, para minha grata surpresa entrou um lote novo de ingressos. Resumindo: além do ingresso consegui um passe para o concorrido “Pit”, lugar privilegiado com muitas comodidades, além de ser exatamente embaixo do palco, o que dava uma visão do show quase inacreditável em se falando de um evento para aproximadamente 70 mil pessoas por noite.
Esse “Pit” era tão concorrido e estrelado quanto o palco. Para vocês terem uma ideia do que estou falando, ao meu lado também estavam assistindo ao show algumas das maiores estrelas atuais de Hollywood ou das passarelas, como as tops Alessandra Ambrósio (foi aos 3 dias) e Irina Shayk, com seu namorado, o ator Bradley Cooper (“Sniper Americano”, ” O Lado Bom da Vida”), a socialite internacional Paris Hilton, a atriz Emma Stone (namorada do Homem Aranha no filme), que compareceu aos 3 dias, e também Woody Harrelson (Truque de Mestre 1 e 2). Fico aí para falar das personalidades que eu reconheci, se contar que me considero péssimo fisionomista. Devia ter muitas outras mais.
A organização do evento foi primorosa, sem falhas. Os estacionamentos apesar de gigantescos eram bem organizados e próximo das entradas do evento. Oferta de alimentação e bebidas variadas e sem filas para comprar, banheiros suficientes e limpos. Em toda a área próxima ao evento, pessoas contratadas dando informações e auxiliando o público que chegava. Os shows começaram exatamente no horário programado que tinha como definição o “sunset”, ou seja o por do sol. Ao final de cada dia a surpresa ficava por conta da capacidade de escoar todas essas pessoas que compareceram no evento. Tudo fluía rápido e com facilidade, em pouco tempo já estavam todos se dirigindo a suas casas ou hotéis.
Quanto aos shows, apesar de quase todos excelentes tenho minhas preferências pessoais, que vou dividir com vocês:
Bob Dylan, o herói de uma geração, dono de músicas emblemáticas e agora agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura – ele, que por sinal está dando uma esnobada no prêmio, permanecendo em silêncio absoluto. Dylan parece não se importar muito em agradar o público. Cantando músicas pouco conhecidas de trabalhos mais recentes ou então mudando completamente o arranjo de outras que todos gostariam de escutar na versão original, tornando-as quase irreconhecíveis. Mas ok, ele pode. Afinal estamos falando de Dylan, mas que ele poderia fazer um show mais tradicional, isso poderia. Ah, pelo menos nesse segundo final de semana tocou “Like a Rolling Stones” (ele foi muito criticado por não ter tocado no primeiro, nem que fosse apenas como homenagem aos Stones que tocariam em seguida).
Rolling Stones: Show de hits praticamente do começo ao fim, tendo espaço para tocar o blues
“Ride ‘Em On Down”, (música que vai estar no novo disco da banda, “Blue & Lonesome” que deve sair em dezembro). Diferentemente de Dylan, os Stones pegam na veia, fazem show para ninguém reclamar de nada. Grandes hits e energia impressionante no palco que contagia a galera. A imprensa criticou bastante Keith Richards por sua performance no show do primeiro final de semana, mas no segundo foi muito legal, pelo menos na minha opinião. Só a presença de Keith já é meio hipnotizante pra quem gosta de rock. Só não esperem muita afinação vocal dele, aí já é querer demais. Afinal pra que servem as backing vocals ?
Neil Young: Show perfeito, mesclando músicas de todas as fases do artista e acompanhado de músicos fantásticos da banda Promise of the Real. Neil conseguiu fazer o público não desgrudar os olhos do palco com uma apresentação irretocável. Escutei de várias pessoas ter sido o melhor show do final de semana, elevando seu “rock rural” a máxima potência e fazendo me redimir de uma situação a qual me arrependia muito. Certa vez em Nova York, no Festival “Farm Aid” (que inclusive tem Neil Young como um dos organizadores), saí antes da sua apresentação, que seria a última da noite, para assistir ao show de Tony Bennett no Radio City. Assim passaram muitos anos e eu nunca tinha conseguido assistir a um show de Neil. Pronto, dívida paga, assisti a um grande show dessa lenda.
Paul MacCartney: Para mim o show mais esperado. Paul, do alto de seus 74 anos, mesclou sucessos dos Beatles com algumas músicas de sua carreira solo. Logicamente que quando tocava Beatles a temperatura do público subia, principalmente quando tocou “Eleanor Rigby” e “Hey Jude”. Assim como aconteceu no primeiro final de semana, Paul chamou Neil Young ao palco para juntos cantarem três canções, inclusive a emocionante “Give Peace a Chance”, fazendo deste um dos momentos mais memoráveis do festival.
E a grande surpresa da apresentação de Paul foi quando ele chamou ao palco a cantora Rihanna, para juntos cantarem “Four Five Seconds”. Não faltaram os fogos de artifício em “Live And Let Die”, e após mais de duas horas e meia, Paul terminou a apresentação deixando o público ainda pedindo mais.
Assisti ao show de Paul praticamente ao lado de sua filha Stella McCartney, e não vi ninguém na plateia terminar o show mais emocionado que ela. Com os olhos vermelhos e enxugando o rosto molhado por lágrimas, ao final saiu amparada por Emma Stone em direção aos camarins. Emocionante!
The Who: Assim como disse do Neil Young, também nunca tinha assistido a um show ao vivo do The Who, e não me desapontei. Roger Daltrey continua girando seu microfone de forma frenética e Pete Townshend mantém firme sua coreografia com os braços ao tocar sua guitarra, como sempre estiveram em meu imaginário. Completando o The Who, além da dupla original, quem tem a dura missão de substituir Keith Moon (talvez o melhor baterista de rock de todos os tempos, falecido em 1978 por overdose) na bateria é Zac Starkey, filho de ninguém menos que o Beatle Ringo Star e afilhado de Moon. Zac esta na banda desde 2008, depois de ter tocado por 4 anos no Oasis.
Em um show de duas horas cantaram seus principais hits, e como era de se esperar o público foi a loucura com “My Generation” e “Pinbal Wizard”. Não vi como aconteceu, mas Toenshend terminou a apresentação com a testa, logo acima do olho, sangrando. Será que foi atingido pelo microfone de Daltrey? Pior que assistindo a vídeos de shows da banda, sempre me perguntei se isso nunca tinha acontecido.
Roger Waters: Escutei muito Pink Floyd na adolescência! Talvez por isso Roger Waters, além de Paul MacCartney, eram os shows mais aguardados por mim durante o festival (apesar de já ter visto ambos por duas vezes). Em um show de pouco mais de duas horas, Roger Waters tocou praticamente todos os clássicos do Pink Floyd, como “Time”, “Money”, “Us and Them”, “Whish You Where Here” e “Comfortably Numb”. Mas foi enquanto apresentava a música “Pigs” que o concerto tomou um viés totalmente político, nesse momento surgiu nos telões gigantes o rosto de Donald Trump com a palavra “Charade” (Charada), e logo depois a tela mostrava a frase “Trump é um porco”, ou outros adjetivos como racista, ignorante, mentiroso entre outros também nada elogiosos. Apesar disso foi um belo show, fechando de maneira inesquecível um fim de semana com a melhor música do planeta.
Esse festival de artistas com de idade média de 72 anos mostra a dificuldade de renovação do rock mundial, e ao mesmo tempo a força e influência do rock inglês, pois com exceção de Neil Young, que é canadense, e Bob Dylan, como o único representante dos Estados Unidos, todos os outros eram ingleses.
Para quem não conseguiu ir, existe a esperança do festival se repetir, dificilmente com os mesmos artistas, mas pelo cuidado com que foi desenvolvido essa primeira edição, tenho certeza que caso realmente essa possibilidade aconteça, as novas atrações não vão decepcionar. Pelo contrário, na minha opinião temos tudo para ter grandes surpresas ainda.
Que venham os próximos!
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