Neste sábado (23), Curitiba recebe o cantor e compositor pernambucano Lenine, com seu novo show “Em Trânsito” no palco da Ópera de Arame. O show acontece às 21h30 com apresentação única.
O consagrado cantor, com mais de 30 anos de carreira, está em turnê pelo Brasil divulgando seu 13.º disco de carreira, que leva o mesmo nome do show: “Em Trânsito”.
Em entrevista ao Blog Música Urbana, o cantor falou sobre o esforço da equipe para a elaboração desse trabalho, a forma como fez a combinação entre músicas inéditas e músicas já conhecidas, e sua relação com Curitiba.
Como foi a decisão de fazer uma gravação de um álbum ao vivo logo na primeira apresentação? Sendo que o usual nesses casos seria gravar o álbum ao vivo apenas quando o show já estivesse maduro?
Como meu filho Bruno Giorgi já havia feito alguns trabalhos comigo, resolvi chamá-lo para produzir o que seria um “novo formato de show”, isso foi no início do ano no Rio de Janeiro, e no momento de fazer esse show, tive a ideia de gravar tudo. Não abrimos para o público, apenas para amigos mais íntimos. Posteriormente estas gravações acabaram interferindo positivamente e serviram como percepção para adequarmos diferentes tipos de programação, seja com música mais analógica ou digital, mas tudo partiu da premissa do show “Em Trânsito” gravado.
Como foi a escolha das músicas não inéditas para entrar nesse espetáculo? E se de alguma forma você queria dar outra leitura a essas canções escolhidas?
Quando a gente fala do show, que na verdade foi o início de tudo, sim, foi um adepto, assim como deve ser um show. Pelo menos pra mim, o repertório de um CD homônimo, que tinha entre nove e 11 canções, passou a ter o dobro de canções com 1/3 de inéditas e 2/3 de outras canções, adequadas ao tipo de releituras das sonoras já criadas. Fazer um show, sempre foi assim pra mim. O que nós pensamos, dentro dessa percepção foi: “vamos fazer este primeiro show, como se fosse a versão sem corte, e definitiva do diretor”, porque hoje em dia quando a gente pensa em diversos formatos, falando do universo digital, cada ser humano pode fazer sua própria narrativa. Executa como quer, não tem sequência, pode até ser randômico. E esse primeiro show, seria justamente a versão do diretor, sem corte. Neste sentido o projeto também foi bacana, porque eu pude focar, e chamar várias pessoas. Os músicos que trabalham comigo ao longo desses quase 30 anos, adaptaram os CDs que eu fiz, para o palco. Nessa ocasião, eu pude mostrar a canção. A primeira versão das inéditas, foi feito com essa banda, que me ajudou a fazer essa assinatura coletiva. A escolha das canções não inéditas foi muito em função de composições que de alguma forma se conectassem com o conjunto.
Seu filho Bruno Giorgi, já fez alguns trabalhos com você, neste show além de diretor musical ele é também o guitarrista de sua banda.
Sim, ele inclusive nesse espetáculo, tem várias culpas maravilhosas. Escolhi todas as cações que dialogavam com esse segmento de urgência de mudança de movimentos. Por outro lado, nessa distopia que vivemos também, a seleção de cada música tirada de cada disco, tinha esse cuidado de adequação “contorcida”, digamos assim, que o projeto “Em Trânsito” tem, o inverso à todas estas adaptações, tinge o espetáculo.
Falando especialmente desse show, quando você estava no processo de criação, você pensava em como o público receberia o trabalho? Ou apenas no que lhe soava bem como artista?
Tem um primeiro momento que há uma situação muito centrada em mim mesmo, que é o “fazer canções”. Então, há um universo, uma atmosfera estimulante em mim enquanto criador, que conta títulos de um romance, escrevendo sua relativa sonora. Esse momento é muito solitário! Por mais que eu tenha os parceiros comigo nas canções, por mais que tenham os músicos a serviço dessas canções, por mais que eu tenha meu filho como diretor, eu tenho esse momento mais íntimo meu, trabalhando com as minhas palavras e com as minhas notas.
O fato do grande sucesso atingido com a turnê Carbono te causa alguma responsabilidade maior em repetir novamente um resultado positivo? Ou você nem pensa nisso?
Eu penso sim, até porque, tudo na vida é segmentado, no meu caso foi segmentado, nunca fui um “balão de gás” pra estourar, fui fazendo e refazendo, e as canções foram repercutindo. É lógico, têm sempre uma canção que exige mais, como “Paciência”, “Hoje eu quero sair só” ou “Jack Soul Brasileiro” por exemplo, tem umas canções que se expõem mais, que voa mais lugares, e que frequentam mais universos diferentes. É natural! Como um pai, que não diz que que um filho é mais bonito que o outro, você só vai dar atenção à quem precisa mais.
Como foi a transição entre o término da tour de Carbono e o início do projeto desse novo show? Como foi o desapego da turnê anterior?
Veja bem, é fase! Eu acho que até existem aquelas coisas que são fáceis, mas isso é uma grande exceção. Eu acredito na coisa suada que dá trabalho, que tem que correr atrás, que tem que pensar muito, e pra mim sempre foi assim. Noventa por cento das coisas do que eu faço é fruto de muito sacrifício e muita entrega. É uma constante, e eu faço isso há mais de 30 anos, portanto, é natural em alguns momentos, ter sensação de tensão, quando isso acontece, eu tento desconstruir, e construir tudo novamente, pra poder de alguma maneira, manter esse tipo de frescor que me mantém estimulado. Num momento profundo, eu sei realmente que eu quero fazer outra coisa, e de outra forma, até chegar em uma nova fórmula, que tem a ver mais com o espetáculo, como fiz no início do ano quando gravei, por exemplo.
Você já conhece a Ópera de Arame, já cantou lá?
Sim, já conheço a Ópera, mas nunca tive a oportunidade de tocar lá.
Qual sua ligação com Curitiba ? Você conhece bem a cidade?
Sim, muito. Um dos benefícios que a música que eu faço me dá, é a permanência, ganhar outras culturas, ganhar outros amigos e me apropriar, de alguma maneira, de alguns lugares. Retornar a esses lugares é sempre carregado de emoção, ao rever amigos, ao ir uma vez naquele restaurante que eu gosto, ao ter aquele “prossiga” para a gente conversar, recordar da vez que estive na Ilha do Mel, é sempre também um retorno de memórias carinhosas e afetivas que eu tenho de cada lugar. Ah! Já estou preparado para o frio que deve estar em Curitiba, quando vou para o sul, sempre levo muito agasalho, mas espero que a gente consiga esquentar o clima na Ópera de Arame.
Uma característica que sinto muito forte em suas apresentações ao vivo é a força sonora de sua banda. Seu som bate no peito do público.
Espero que nesse show esteja mais evidente essa conotação de banda, porque justamente no “Em Trânsito”, as canções inéditas eu não gravei primeiro, mostrei para cada um da banda e tive uma preocupação de mostrar sem o instrumento. Eu queria exercitar a canção sem o hábito do meu violão. Esse show especialmente é bem coletivo, e é bem a minha turma. É som de banda, cara!
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