Sempre gostei muito de Legião Urbana. Acho que deve ter sido a banda que mais escutei em minha adolescência, e lembro com riqueza de detalhes os momentos que antecediam a compra de cada novo CD lançado por eles, era um misto de euforia, ansiedade e até receio. Digo receio porque eu achava tudo que eles faziam tão bom, que me causava dúvida se eles conseguiriam manter aquele nível tão alto no novo disco (e como eu torcia para que conseguissem). Mas eles nunca me decepcionaram, pelo contrário: a cada música nova que eu escutava, gostava ainda mais da banda.
Achava (e continuo achando) as letras de Renato Russo preciosidades, mas, no início, tenho que admitir: eu as interpretava apenas no todo e, não prestando atenção em detalhes, acabava perdendo muito da sutileza das entrelinhas. Perdia assim, talvez, o que a música tivesse de mais genial!
Quando que eu percebi isso? Ouvindo uma das melhores bandas que Curitiba já teve, Beijo AA Força, na música “Diário de um Palestino” (autoria de Marcos Prado e Sérgio Viralobos), com os versos “A violência é tão fascinante/Queria ter dito isso antes/Não fui eu que inventei o terror/Nada me impede de ser um mostro”. Ou seja, toda a letra surge em torno de uma pequena frase que está na música “Baader-Meinhof Blues”, do primeiro álbum da Legião. A frase simples era: “A violência é tão fascinante”. Esse fato me levou a um novo olhar, muito mais atento sobre a obra de Renato Russo e Legião Urbana, pois se uma frase curta como essa tinha tanto a dizer, eu tinha muita coisa ainda a explorar.
Colecionei todos os seus discos, mas acompanhei a banda de longe, nunca estive em um show com Renato Russo no palco. E um dia tão esperado, que seria do show do AC/DC em Curitiba, na Pedreira Paulo Leminski, teve um gosto amargo para mim e para todas as pessoas que admiravam o trabalho da Legião. Foi o dia que Renato morreu, em 11 de Outubro de 1996.
Apenas no dia 29 de Dezembro do ano passado (2015) tive a chance de assistir pela primeira vez minha banda nacional favorita de todos os tempos. Finalmente estava frente a frente com a Legião Urbana. O show aconteceu no Café Curaçao, em Guaratuba.
Criei uma grande expectativa acerca do cantor escolhido para acompanhar a banda nessa turnê (o ator e cantor André Frateschi) e, após a apresentação, saí com a impressão que essa escolha não poderia ter sido melhor. André parece ser um fã da banda que, por seus dotes artísticos e vocais, teve a sorte de ter sido escolhido para essa nobre função — a qual ele agarrou com todas as forças . Ele canta com emoção e reverência a toda a história da banda e principalmente a Renato Russo.
Frateschi tem uma ótima presença de palco (sem tentar imitar Renato Russo) e voz firme. Acompanhado dos Legionários originais, Dado Villalobos e Marcelo Bonfá — que também cantam algumas músicas — além de músicos de apoio, a banda ganha uma vitalidade incrível, parecendo um grupo em início de carreira, que aposta todas suas fichas em sua performance ao vivo — mas, com a experiência de muitos anos de estrada, entoando hinos de uma geração. O show contou também com a participação de dois jovens cantores, que souberam dar seu recado: Marina Franco, que cantou a música “dezesseis”, e Jonatta Doll com “Fábrica”.
Para minha alegria a Legião parece estar mais Rock’n Roll do que nunca. A primeira parte do show foi todo dedicado as músicas do primeiro disco, que está fazendo 30 anos. Após isso, inicia uma coletânea de outros grandes sucessos da banda que o público acompanhava cantando junto todo o tempo. Se é que posso destacar um momento apenas desse show marcante, vou escolher a interpretação de “Pais E Filhos”, com a galera cantando junto do começo ao fim e onde pude observar diversas famílias,”pais e filhos” abraçados e emocionados cantando juntos os mesmos versos.
Agora chegou a vez de Curitiba assistir essa turnê histórica, a banda se apresentará no Spazio Van no dia 18 de Março. Espero que o show seja tão contagiante e emocionante como o que assisti em Guaratuba. Tem tudo pra ser!
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