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Uma noite especial escutando Eagles em Nova York
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Time Out New York

Time Out New York

Até alguns anos atrás, a primeira coisa que eu fazia ao chegar em uma grande cidade no exterior era — ainda no aeroporto — procurar uma banca de revistas e comprar a “Time Out” (hoje em dia, ela é virtual ou distribuída em lugares específicos): uma revista com todas as dicas culturais  — e principalmente agenda de música — que qualquer visitante ávido por novidades iria adorar folhear.

Era setembro de 2000, eu estava chegando para passar uns dias em Nova York e já explorando minha revista quando, de todas as dicas de shows na cidade naquele período, uma em especial me chamou a atenção e me deixou realmente ansioso. O texto não era claro para mim, mas entendi com facilidade que, entre outras atrações, o evento anunciado teria a participação da banda Eagles — o que já seria suficiente para eu não economizar esforços para conseguir o ingresso, uma vez que a banda estava há muitos anos separada.

O anúncio fornecia um telefone para maiores informações sobre o evento (uma situação que não era normal, pois geralmente todas as dicas já constavam nos anúncios). Chegando ao hotel, antes mesmo de desfazer as malas, eu já estava ligando para o telefone informado, e do outro lado da linha, uma gravação explicava que o concerto que aconteceria no Radio City Music Hall seria fechado: apenas os grandes doadores do Partido Democrata para a campanha de Al Gore à presidência dos Estados Unidos (contra George Bush) e convidados teriam acesso.

Fiquei um pouco desapontado. Achava que estava perdendo uma oportunidade única de assistir a apresentação de uma das bandas mais cultuadas da América e, quem sabe, ouvir dos próprios autores a emblemática “Hotel California” — que sozinha, para mim, daria um excelente roteiro de cinema: já imaginei muitas cenas desse filme imaginário.

Como, a princípio, minha intenção não seria bem-sucedida, desencanei (pelo menos por um tempo) e tratei de curtir a cidade. Tive ótimos dias de viagem, até que chegou a hora de arrumar as malas pois, no dia seguinte, voltaríamos para casa. Porém, essa véspera da volta também era o dia do show que eu tanto queria ver, então convidei a todos que estavam comigo para irmos até a porta do teatro e tentarmos a sorte, vai que dava certo.

Estávamos em seis pessoas, mas ninguém acreditou na possibilidade de conseguirmos realmente comprar o ingresso para o show, então eu fui sozinho para tentar o que parecia ser quase impossível. Antes de chegar ao teatro, não tinha ideia do que iria encontrar. Mas chegando lá, constatei que minha missão seria realmente muito difícil:  segurança reforçada e pessoas nervosas se agitavam por todos os lados (até quem possuía o convite tinha certa dificuldade de chegar à porta do teatro) mas, como eu já estava lá, comecei a perguntar às pessoas que pareciam estar com o mínimo de tranquilidade para escutar o papo de um brasileiro atrás de ingresso.

Devo ter abordado umas oito pessoas e as respostas variaram entre a indiferença e o desestímulo. A confusão foi diminuindo e chegou o horário do evento. Meia hora depois do horário marcado, já não havia mais ninguém ali fora e, apesar de ser sempre otimista, nessa situação eu estava jogando a toalha. Por sorte, apareceu uma senhora com uma aparência mais humilde, porém não menos determinada em seus atos, então decidi perguntar mais uma vez. A resposta foi tão surpreendente que eu tive que pedir para ela repetir. Ela me respondeu com outra pergunta: se eu queria conseguir ou comprar o ingresso pois, se eu quisesse comprar, eu poderia fazer a doação mínima do partido — 120 dólares — e me sentaria no lugar de alguma autoridade que, apesar de ter confirmado, não compareceu.

Banda Eagles

Banda Eagles

Sem dúvida eu tive muita sorte, essa senhora me acompanhou até meu assento e cheguei a tempo de ouvir as palavras finais do último discurso (Hillary Clinton) antes de iniciar os shows. Sentei na quinta fila da plateia central, exatamente duas filas atrás de Al Gore e ao lado de Salma Hayek -que também seria apresentadora do evento -, e enfim começou um dos shows mais inesquecíveis da minha vida.

Passaram pelo palco excelentes artistas e bandas icônicas: Jon Bon Jovi, Sheryl Crow, Lenny Kravitz, K. D. Lang, Jimmy Buffet, Bette Midler, Crosby, Stills & Nash, Paul Simon e os lendários Eagles — Don Henley, Glenn Frey e Timothy B. Schmit -mas que apesar de apresentarem ótimas canções , não tocaram as músicas que eu tanto estava esperando.

Os apresentadores dessa festa foram Julia Roberts, Michael Douglas, Jessica Lange, Harrison Ford, Matt Damon, entre outras estrelas -parecia que eu estava na festa de entrega do Oscar pois as celebridades saiam das poltronas próximas a mim para subir ao palco e depois voltavam para seus lugares.

Glenn Frey

Glenn Frey

Contei toda essa história e meu esforço para conseguir esse ingresso para demonstrar minha admiração pelos Eagles e a tristeza que nos deixa a perda de um de seus fundadores, Glenn Frey -cantor e guitarrista da banda -, que vai fazer muita falta. Tive a oportunidade de assistir à mais uma apresentação deles em Nova York, há três anos no Madison Square Garden: o show “History of Eagles”. Dessa vez, com a banda completa, tive a felicidade de escutar “Tequila Sunrise” e “Hotel California”, como eu sempre sonhei.

Dedico esse post ao músico Glenn Frey.

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