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Mundos distantes
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Hoje (terça-feira, dia 22), com o nosso carro extremamente pequeno, decidimos ir ao Kruguer Park. Ajustamos o GPS para estradas sem pedágios e depois de duas horas e meia de um tapete de estrada, paramos em Wtibank, uma cidade muito pequena para abastecer e almoçar em um supermercado.

Fomos interpelados por uma moça muito simpática que trabalhava ali, que nos perguntou o que fazíamos por aqueles lados, onde iríamos, e de onde éramos, além de querer saber se estávamos gostando da África do Sul. Após a refeição, fomos a um bar no mesmo complexo, um Pub, para usar o banheiro. O rapaz que nos atendeu, que também era o dono do Pub, fez as mesma indagações da moça. Qual seria então a diferença das duas situações? A moça, que era negra, trabalhava no mercado. O rapaz estava em um Pub e só havia um negro trabalhando ali.

Eu sei que já toquei neste assunto, mas hoje viajando pelo interior do país consegui vislumbrar um preconceito ainda mais forte do que aquele que havia presenciado em Joburg.

Para exemplificar como isso se torna maior no interior, nessa “road trip” aconteceu o improvável por duas vezes. Tivemos 2 pneus furados. Inicialmente em uma estrada vicinal que o GPS nos mostrou. Paramos na estrada e um moço negro nos deu carona até Hendrika, a cidade mais próxima, para arrumarmos os 2 pneus do lado direito. A viagem nos custou 200 rands e o conserto 10 rands (Rand a moeda daqui e equivale a 25% do real aproximadamente). Importante notar que os únicos brancos na cidade que vi fomos eu, Marcílio e o dono da loja de pneus.

Cerca de duas horas depois os dois pneus do lado esquerdo também se foram por conta de uma falha na pista. Já era noite, no meio do nada, quando cerca de 100 metros adiante vimos uma casa. Ao chegarmos mais perto vimos que era um outro Pub e pedimos por ajuda a um senhor que era o dono do local. Ele nos ajudou prontamente levando o Marcílio e o Diego até a cidade de Badplaas para encontrar um borracheiro conhecido seu para nos atender.

Enquanto eu e o Sérgio esperávamos no bar, foram chegando os fregueses do local, que estava todo enfeitado por bandeiras de times de Rúgbi. Isso já nos deu uma dica que o bar era de brancos. A conversa com os fregueses foi muito agradável com trocas de gentilezas sobre a seleção brasileira e os Brooksprings (nome da seleção sulafricana de rúgbi). Até o momento em que perguntei a um rapaz que trabalha em uma mina próxima o que ele pensava do Mandela.

Gustavo Botelho

Partindo desse ponto a conversa foi para um nível que somente vi nos documentários sobre o Hitler e no museu do Apartheid. Ainda não consigo crer que em 2010 existam pessoas educadas, simpáticas e agradáveis que possam sustentar um ideal de supremacia baseado na cor de um ser humano. Quando ouvi do mesmo rapaz que negro não tinha cérebro, chamei meus amigos e educadamente nos retiramos sem ver o final do jogo da Espanha que assistíamos.

Quando vínhamos para um resort, que era o único em Badplaas, o Diego levantou a seguinte questão: se nós fossemos negros será que seríamos tão bem tratados neste bar? A propósito o senhor não cobrou nada para levarnos até a borracharia mas o mesmo conserto custou 150 rands.

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