Uma das tarefas da escola é indiscutivelmente ampliar as experiências culturais dos aprendizes – e se ela não cumpre esta prerrogativa o seu público paralelamente busca outras alternativas, a partir da liberdade inerente ao leitor, o que confere um papel importante às diversas mediações de leituras advindas da família, dos amigos, dos jornais, revistas e páginas especializadas.
Quem já leu algo obrigado ou livremente sabe a diferença, mas quem já leu algo obrigado, mas entendeu as relevâncias conservou maior receptividade à obrigação, não é mesmo meu prezado leitor? Minha filha, ainda no 1º ano do ensino médio, é leitora voraz, mas neste final de semana leu obrigatoriamente um livro, entre outros indicados pela escola – e está entediada com o que encontrou. Dou-lhe razão, afinal ainda está imatura para a diversidade das reflexões ali reunidas. Examinei a obra, de caráter filosófico e de extrema contribuição à formação do indivíduo, mas precocemente indicada para alunos do 1º ano do ensino médio. Uma irresponsabilidade do colega professor, da coordenação de área e da escola, que permite administrar um elemento cultural sem os devidos cuidados.
Gosto muito da idéia de uma grade de livros clássicos dentro da escola, mas todos devidamente bem orientados pelo colega professor, que deverá tê-los lido com olhos de especialista, observando-lhes as contra-indicações e propriedades coadjuvantes à cultura escolar. Se o colega professor é amadurecido conseguirá contagiar seus alunos para quaisquer títulos e seus respectivos autores. Arranjará argumentos teóricos centrados no apuro literário, no estilo dos autores, no tema e nas inter-relações que a obra estabelece com o seu trabalho junto aos alunos. Se apontar racionalmente os objetivos da leitura os alunos acolherão às orientações do professor e farão da dificuldade um exercício de superação dos limites, até do enfado.
Milhares de vestibulandos têm neste ano pela frente uma batalha sem trégua: as leituras obrigatórias para o próximo vestibular. Estão no edital e têm que ser lidas obrigatoriamente, mas por que não lê-las, aos poucos, desde o 1º ano do ensino médio? Está ai uma prova inconteste da desarticulação entre o que é exigido na prova do vestibular e o que é realmente oferecido durante os anos do ensino médio, o que não inclui certamente os “achados” da leitura de um professor irresponsável, de uma coordenação omissa e de uma direção bonachona.
A lista de leituras obrigatórias pela UFPR já está já está disponível; elas deverão fazer parte do universo de leituras do aluno do 3º ano ou que está fazendo cursinho – e por que não mantê-los na pauta também dos alunos do 1º ano do ensino médio? Meus colegas professores, ao contrário da irresponsabilidade na orientação, deviam ficar cientes de que a cobrança, feita não apenas no vestibular, mas na vida em geral, pede maturidade e equilíbrio em tudo.
1-Muitas vozes, de Ferreira Gullar
2-Dom Casmurro, de Machado de Assis
3-Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antonio de Almeida
4-Como e por que sou romancista, de José de Alencar
5-Leão-de-chácara, de João Antonio
6-O pagador de promessas, de Dias Gomes
7-O santo e a porca, de Ariano Suassuna
8-Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles
9-São Bernardo, de Graciliano Ramos
10-Felicidade Clandestina, de Clarice Lispector
Sugiro costumeiramente aos pais, amigos e estudantes não apenas a leitura integral, mas a discussão, a crítica, as correlações e os desdobramentos das indicações escolares. Quem de nós costuma avaliar a pertinência dessas obras? Entregamos à escola a tarefa de colaborar na educação das crianças e jovens, mas é preciso, igualmente, manter a fiscalização no que ela oferece. Nem mais, nem menos. A escola e a família são instâncias complementares com direitos e deveres. Ler as obras consideradas clássicas? Sim e sim; embora nem sempre interessantes, mas pontuadas na cobrança que nossos filhos terão pela frente e racionalmente dentro do equilíbrio que deve pautar a vida em todas as suas instâncias.
Recomendo:
> A reportagem Prova não favorece quem lê as obras , de Marcela Campos (GP, Caderno Vestibular, 9 de março).
Sugestões de escrita
1- Pense no livro que mais o empolgou nos últimos dois anos e justifique o porquê, sem esquecer de citar o título e autoria; limite-se a 10 linhas (caso elabore no caderno ou os 500 caracteres da caixinha de comentários).
2- Você tem um ou todos os livros da lista acima? Já leu algum? Elabore uma apreciação sobre o tema neles encontrado, a linguagem empregada e as associações do contexto histórico feitas com a realidade atual; não exceda as 12 linhas ou aos dois blocos de 500 caracteres da caixinha de comentários.
Serviço:
Você conhece alguém ou está interessado em ler, refletir e elaborar um resumo de cada uma das obras acima? Participe das minhas oficinas COMO ELABORAR UM RESUMO, programadas para todas as segundas-feiras, a partir de 23 de março.
Até a próxima!