Sumi um pouco, prezado leitor, porque ainda estou prisioneira de uma forte gripe que me afastou da sala de aula, mas não me impediu de acompanhar a abundância do noticiário local e nacional. No cardápio informativo diário as minhas antenas ligadas à educação ficaram vibrrrraaaaando durante os últimos dias, porém não de felicidade, mas sim de preocupação, assentimento e indignação – e você quer saber os porquês desses sentimentos?
A PREOCUPAÇÃO – Os dados divulgados ontem pelo INEP evidenciam a situação do professor brasileiro. Os resultados do perfil paranaense, portanto, são de interesse do leitor; confira na reportagem PR tem 7 mil professores sem formação exigida, de Tatiana Duarte (GP, 29 / 5). Não deixe também de acompanhar o infográfico que ressalta os números preocupantes do perfil do professor brasileiro.
As razões do colapso educacional– Será que o leitor já parou para pensar nas causas desse colapso educacional? Quem formou, selecionou e contratou a maioria dos profissionais do ensino que está na ativa? Quem oferece um salário pouco atrativo aos que optam pelo magistério público? Quem autoriza a construção de escolas sem as mínimas condições de segurança aos que nela estudam e trabalham? Quem e quem?
O ASSENTIMENTO – Professores de História, cientistas sociais e pesquisadores da história da educação brasileira saberão explicitar tecnicamente melhor do que eu, mas a famosa democratização do ensino, lá pela década de 70, foi o início dessa derrocada na educação nacional e jogou no chão a qualidade do ensino que vinha sendo oferecido nas escolas públicas, antes lugares de prestigio e orgulho aos que nelas estudavam ou lecionavam; adotou uma reforma mirabolante e deu um nome diferente ao que eu denomino de muleta didática. Tirou assim a autonomia do professor criterioso e responsável e entregou a direção das salas de aula à multidão de profissionais despreparados, egressos das licenciaturas aligeiradas e da explosão das faculdades particulares.
Abram a cortina, historiadores brasileiros– O jovem leitor com menos de 30 anos infelizmente não sabe, mas sem o preparo conveniente o magistério foi entregue a um profissional inseguro, despreparado, porém com um livro didático na mão e um iminente desequilíbrio escolar para administrar com giz e saliva. Um quadro mais preciso poderá ser visto com apoio centrado na explosão demográfica e outros índices sociais que explicam o inchaço da população nos ambientes escolares públicos. O resultado está ai: gerações que não sabem compreender o que leem e nem mesmo expressar as ideias na elaboração de um texto no seu idioma. Corro infelizmente o risco da generalização- e lamento, porque os colegas idealistas que fazem a diferença no ensino são certamente poucos.
O bê-a-bá e o 2 + 2 – O que mais os pais desejam quando matriculam uma criança na escola? Que saiba ler, escrever e fazer as operações matemáticas sem embaraços – e por que nossa criança e nosso jovem não apresentam essas autonomias? A situação mostra que os pequenos, mesmo aqueles de famílias abastadas, não têm quem os oriente com segurança, nem na família e nem na escola – e as gerações futuras correm riscos gravissimos diante das ausências e do descontrole das instâncias educativas.
A INDIGNAÇÃO – Ontem li na Folha on-line que diante de uma platéia disposta a aplaudir sem refletir o presidente brasileiro declarou que a deteriorização da escola pública é culpa da classe média, pois alega que os que detinham maior poder aquisitivo tiraram os seus filhos da escola do governo e passaram a pagar, nas particulares(leia aqui os detalhes). Falta ao nosso chefe da nação uma conversa elucidativa com historiadores desvinculados de qualquer partido político. A escola pública está do jeito que a concebemos hoje por culpa da omissão, do despreparo dos que agiram em nome do governo. Não gosto de clichês, mas este vem de encomenda à situação: sucatearam a escola pública – e o professor de hoje não é o culpado pelos desatinos da administração pública, mas sim um produto da desatenção educacional.
A radiografia da crise educacional-Convém refletir calmamente sobre as notícias decorrentes das pesquisas; quando elas aparecem o senso comum já intuiu há séculos o que o escore aponta. Nossas crianças e jovens da escola pública merecem professores formados adequadamente, estes também precisam receber o tratamento condigno e estabelecer com a família, a sociedade e o estado a responsabilidade de levar adiante a educação das crianças e jovens, mas quem deseja ser professor e precisar, de vez em quando, apelar às greves para ver o seu salário, ainda indigno, aumentar um pouquinho? Os atrativos à carreira docente, infelizmente, não fazem brilhar os olhos dos meus jovens alunos.
Por que, por que, por que parou? O leitor já se perguntou: por que antes a escola dava a conta do recado? Caso ainda não tenha pensado nessa questão, por favor, dedique-lhe uma sincera reflexão e faça a sua parte; não compactue com mediocridades, nem remendos educacionais, questione, exija explicações. Quantidade e qualidade não são relativas quando o assunto é a educação, pode acreditar.
Sugestões para treinar a escrita
Proposta 1– Examine o infográfico RETRATO(GP, 29 de maio) e faça uma descrição objetiva do que lê; não opine, apenas relate o que os dados numéricos indicam. Cite a fonte, o tema e objetive as informações.
Proposta 2– Por que você estuda (ou) em escola pública ou particular? Argumente; expresse a sua opinião fundamentando seus argumentos em exemplos, comparações, enumeração de motivos.
Até a próxima!