Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo

A radiografia da crise na educação pública

Sumi um pouco, prezado leitor, porque ainda estou prisioneira de uma forte gripe que me afastou da sala de aula, mas não me impediu de acompanhar a abundância do noticiário local e nacional. No cardápio informativo diário as minhas antenas ligadas à educação ficaram vibrrrraaaaando durante os últimos dias, porém não de felicidade, mas sim de preocupação, assentimento e indignação – e você quer saber os porquês desses sentimentos?

Fotos: Albari Rosa/Gazeta do Povo
Rodrigo Siqueira mostra os pilares comprometidos da escola: “Um telhado novo sobre uma estrutura velha de nada adiantaria”

A PREOCUPAÇÃO – Os dados divulgados ontem pelo INEP evidenciam a situação do professor brasileiro. Os resultados do perfil paranaense, portanto, são de interesse do leitor; confira na reportagem PR tem 7 mil professores sem formação exigida, de Tatiana Duarte (GP, 29 / 5). Não deixe também de acompanhar o infográfico que ressalta os números preocupantes do perfil do professor brasileiro.

As razões do colapso educacional– Será que o leitor já parou para pensar nas causas desse colapso educacional? Quem formou, selecionou e contratou a maioria dos profissionais do ensino que está na ativa? Quem oferece um salário pouco atrativo aos que optam pelo magistério público? Quem autoriza a construção de escolas sem as mínimas condições de segurança aos que nela estudam e trabalham? Quem e quem?

O ASSENTIMENTO – Professores de História, cientistas sociais e pesquisadores da história da educação brasileira saberão explicitar tecnicamente melhor do que eu, mas a famosa democratização do ensino, lá pela década de 70, foi o início dessa derrocada na educação nacional e jogou no chão a qualidade do ensino que vinha sendo oferecido nas escolas públicas, antes lugares de prestigio e orgulho aos que nelas estudavam ou lecionavam; adotou uma reforma mirabolante e deu um nome diferente ao que eu denomino de muleta didática. Tirou assim a autonomia do professor criterioso e responsável e entregou a direção das salas de aula à multidão de profissionais despreparados, egressos das licenciaturas aligeiradas e da explosão das faculdades particulares.

Abram a cortina, historiadores brasileiros– O jovem leitor com menos de 30 anos infelizmente não sabe, mas sem o preparo conveniente o magistério foi entregue a um profissional inseguro, despreparado, porém com um livro didático na mão e um iminente desequilíbrio escolar para administrar com giz e saliva. Um quadro mais preciso poderá ser visto com apoio centrado na explosão demográfica e outros índices sociais que explicam o inchaço da população nos ambientes escolares públicos. O resultado está ai: gerações que não sabem compreender o que leem e nem mesmo expressar as ideias na elaboração de um texto no seu idioma. Corro infelizmente o risco da generalização- e lamento, porque os colegas idealistas que fazem a diferença no ensino são certamente poucos.

O bê-a-bá e o 2 + 2 – O que mais os pais desejam quando matriculam uma criança na escola? Que saiba ler, escrever e fazer as operações matemáticas sem embaraços – e por que nossa criança e nosso jovem não apresentam essas autonomias? A situação mostra que os pequenos, mesmo aqueles de famílias abastadas, não têm quem os oriente com segurança, nem na família e nem na escola – e as gerações futuras correm riscos gravissimos diante das ausências e do descontrole das instâncias educativas.

A INDIGNAÇÃO – Ontem li na Folha on-line que diante de uma platéia disposta a aplaudir sem refletir o presidente brasileiro declarou que a deteriorização da escola pública é culpa da classe média, pois alega que os que detinham maior poder aquisitivo tiraram os seus filhos da escola do governo e passaram a pagar, nas particulares(leia aqui os detalhes). Falta ao nosso chefe da nação uma conversa elucidativa com historiadores desvinculados de qualquer partido político. A escola pública está do jeito que a concebemos hoje por culpa da omissão, do despreparo dos que agiram em nome do governo. Não gosto de clichês, mas este vem de encomenda à situação: sucatearam a escola pública – e o professor de hoje não é o culpado pelos desatinos da administração pública, mas sim um produto da desatenção educacional.

A radiografia da crise educacional-Convém refletir calmamente sobre as notícias decorrentes das pesquisas; quando elas aparecem o senso comum já intuiu há séculos o que o escore aponta. Nossas crianças e jovens da escola pública merecem professores formados adequadamente, estes também precisam receber o tratamento condigno e estabelecer com a família, a sociedade e o estado a responsabilidade de levar adiante a educação das crianças e jovens, mas quem deseja ser professor e precisar, de vez em quando, apelar às greves para ver o seu salário, ainda indigno, aumentar um pouquinho? Os atrativos à carreira docente, infelizmente, não fazem brilhar os olhos dos meus jovens alunos.

Por que, por que, por que parou? O leitor já se perguntou: por que antes a escola dava a conta do recado? Caso ainda não tenha pensado nessa questão, por favor, dedique-lhe uma sincera reflexão e faça a sua parte; não compactue com mediocridades, nem remendos educacionais, questione, exija explicações. Quantidade e qualidade não são relativas quando o assunto é a educação, pode acreditar.

Sugestões para treinar a escrita

Proposta 1– Examine o infográfico RETRATO(GP, 29 de maio) e faça uma descrição objetiva do que lê; não opine, apenas relate o que os dados numéricos indicam. Cite a fonte, o tema e objetive as informações.


Veja o perfil do professor brasileiro, segundo o censo do MEC

Proposta 2– Por que você estuda (ou) em escola pública ou particular? Argumente; expresse a sua opinião fundamentando seus argumentos em exemplos, comparações, enumeração de motivos.

Até a próxima!

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.