As reflexões sobre a prova de redação da UFPR já ganharam a adjetivação de antigas, mas creio ser oportuno trocar em miúdos alguns itens ligados aos desafios da leitura e da escrita, afinal 2010 já está perto e os propósitos deste Na Mira do Leitor continuam.
Por que as crianças e os jovens escrevem bem ou mal? – É hora para rever os equívocos e comemorar a administração bem sucedida dos nossos empenhos; no meu caso, sempre envolvida com oficinas de redação e correções textuais diversas, alimento um plano para 2010: estabelecer maior proximidade com a primeira série do ensino fundamental e a primeira do ensino médio convencional e também do técnico.
Questões essenciais – Quero saber o que é feito hoje tecnicamente no interior das salas de aulas; quem sabe encontro as justificativas para as minhas hipóteses com relação às deficiências da formação docente e suas implicações no resultado final junto aos alunos em idade escolar? Quando recebo vestibulandos cheios de inseguranças com relação às habilidades da leitura e da escrita fico muito preocupada. Triste realidade anual.
A base negligenciada – Os fundamentos de uma programação educacional eficiente com a leitura e a escrita certamente fincam os seus esteios nas teorias da linguagem e seus desdobramentos – e a escola, em tese, é um espaço espetacular para comprovar as possibilidades comunicativas, pois alia variadas manifestações lingüísticas, uma vez que as crianças e jovens surgem de todos os lugares. Oralidade e escrita comandam as ações escolares – e o colega professor, quando bem preparado, poderá acompanhar o turbilhão de expressões infantis ou juvenis com a certeza de que este é o reflexo dos diversos contextos vivenciais dos seus alunos.
Por que não oferecer o suporte teórico e prático? A formação universitária com relação à formação docente precisa ser repensada. Quem é que, na condição de professor, consegue estabelecer questionamentos teóricos acerca da língua e da linguagem, sem titubear ou revelar inconsistências da formação acadêmica recebida?
“Sou licenciada em Letras pela UFPR e parabenizo o caderno Vestibular pela reportagem sobre as licenciaturas (13 de outubro). Sugiro uma nova matéria, para mostrar aos futuros licenciandos que muito do que é necessário na carreira docente não é visto nos bancos da academia: os currículos não dão conta de todos os conteúdos e a maioria das disciplinas “pedagógicas” é estritamente teórica, não permite que o licenciando tenha contato real com a escola. Mais do que pensar em “áreas carentes de professor”, parece-me fundamental pensar em áreas que têm professores pouco preparados para ensinar.” ( Fabiana da Cunha Medeiros, por e-mail., GP,27/10/2008
As fábricas de professor – as licenciaturas parecem fabricar professores em série e estão espalhadas aqui e ali pelo Brasil afora. Dominar referenciais teóricos e ser capaz de compreender os diversos fenômenos da linguagem são requisitos essenciais e presumíveis nos egressos dessa formação universitária, mas e a realidade é assim?
“Os professores têm de saber ensinar matemática, ciência, estudos sociais, porque os professores das séries iniciais trabalham com todas essas áreas do conhecimento. E ele vai aprender isso no curso de pedagogia e o instrumento de avaliação do curso olhará isso. Então, se isso não estiver no currículo ou, se coloca no currículo, mas na biblioteca não tem livros de referência isso, nós vamos cobrar. E aí, se a nota do curso for muito baixa, merecerá um acompanhamento muito mais próximo do ministério.” ( leia mais em Formação de professores será alvo de…., GP, 20/5/2009)
Seleção rigorosa para atuar como professor de disciplina básica – O leitor pode até achar que estou equivocada, mas penso que para ser, por exemplo, professor de língua portuguesa o colega deveria passar por um rigoroso teste, afinal o desempenho medíocre dos milhares de estudantes brasileiros diante de uma folha em branco é comprometedor à categoria. Idêntica exigência deveria ser aplicada aos colegas professores, egressos do curso de Pedagogia, pois estes legalmente recebem a incumbência de
orientar a leitura e a escrita nas séries iniciais do ensino fundamental.
Corrigir/orientar/ apontar ajustes na escrita – Quem corrige textos sabe é preciso uma série de requisitos para avaliar o desempenho interpretativo e de expressão das ideias na redação escolar. Quais as orientações linguísticas recebidas no curso de Pedagogia ou nas licenciaturas em Letras? Quando este colega professor escreve e demonstra efetivamente o domínio que tem sobre as exigências do bem escrever?
Domínio linguístico consolidado – Universitários de Letras e Pedagogia precisam, antes de receber o diploma e assumir uma sala de aula, mostrar eficiência nas manifestações linguísticas, porque se estes não compreendem os mecanismos da leitura e da escrita, como é que poderão intermediar essas práticas junto aos seus alunos?
Sugestões:
> Caso tenha em casa ou conheça uma criança matriculada na primeira série do ensino fundamental ou um jovem no ensino médio, experimente examinar o caderno de língua portuguesa utilizado pelo estudante em 2009. Avalie a qualidade das orientações registradas quanto à escrita. Qual o tipo de apoio material utilizado pelo professor? Apostilas? Livro didático, anotações esparsas no caderno sem uma sequência lógica? Alguma observação interessante?
> Releia “Coitado(a) quer ser professor(a), apesar de...”( GP, Na Mira do Leitor, 4/2/ 2009) e Chance de formação é ignorada( Paola Carriel,GP, 22/7/2009)
>Examine Portos de Passagem, de Wanderley Geraldi, Martins Fontes, 1991 – leitura imperdível aos interessados em temas ligados à educação, ensino da língua e linguagens.
Anote : Cursinhos gratuitos correm risco de fechar( Tatiana Duarte, hoje na GP)
Até a próxima!