Você certamente acompanhou a panorâmica reportagem da equipe do Caderno Vestibular – e se por acaso ainda não fez isso aproveite agora, pois aplicada a prova de Conhecimentos Gerais da UFPR, quero aprofundar algumas ideias com você, leitor. Será que está disposto?
BLOCOS ESTANQUES? – Agora a conversa é outra. Recorde que maioria de nós, mais velhos do que essa garotada inscrita nos vestibulares de hoje, aprendeu na escola informações conceituais em blocos estanques, denominados matérias ou disciplinas, assim conhecidas: Português, Matemática, Física, História, Inglês, etc., mas na prova de Conhecimentos Gerais, enfrentada ontem, embora as questões mantenham a sua especificidade, elementos interdisciplinares conduziram o o raciocínio do candidato, egresso do ensino médio convencional. É um fato incontestável; só não vê quem não quer.
O PREPARO ESCOLAR – A mistura bem temperada entre as diversas disciplinas do currículo escolar resulta na interdisciplinaridade, atitude antiga encabeçada por Freinet, Montessori, Decroly, entre outros precursores educacionais, mas nem todos os professores são capazes de produzir questões desafiantes que avaliem as evidências indiscutíveis de conhecimentos gerais, exceto os que aprenderam a estabelecer convergências conceituais específicas em prol de uma questão que estabelece resoluções amparadas por múltiplas informações dos conhecimentos desta ou daquelas disciplinas escolares. Um ponto discutível na formação profissional dos educadores de um modo geral.
A COBRANÇA ÀS AVESSAS– O jovem estudante/candidato a uma vaga nas universidades públicas também sente dificuldades em concatenar dados diversos, mas é aprendiz e se enturma – ou disfarça o travamento reflexivo e entra no jogo quando percebe a sua inanição de conteúdos e dificuldades para estabelecer conexões conceituais. Os cursinhos, sempre atentos objetivamente às lacunas da má formação e orientação de conteúdos no ensino médio, dispõem de apostilas arregimentadas por essa maneira de auferir a aferir conhecimentos gerais. Quem concluiu o ensino médio convencional e tenta fazer o vestibular sem cursinho sabe aquilatar a dificuldade; o tema é instigante para quem avalia as contradições entre o que é oferecido na escola básica e para todos e o que a universidade pública exige nos vestibulares.
O QUE FAZ A UNIVERSIDADE DIANTE DESSA EXIGÊNCIA? Não tenho dúvida de que instruir e treinar os colegas professores para o entendimento da estrutura e da composição das questões interdisciplinares, presentes nos vestibulares, é uma obrigação das universidades ou faculdades que formam novos profissionais para o ensino, ou seja, as licenciaturas. Quanto aos professores que já estão na ativa e improvisam ou se apoiam no que está feito cabe reciclar os conhecimentos metodológicos em cursos de capacitação anual, abertos à comunidade, semelhante ao preparo oferecido pela Unicamp em direção ao seu vestibular. O que você acha da ideia, leitor?
VOCÊ SABE SE A…? – Alguém tem notícia se as universidades públicas paranaenses, no intuito de compartilhar saberes e técnicas com a comunidade, abrem os seus portões para receber docentes da rede pública e particular e a estes oferecer uma reciclagem quanto à elaboração das questões multidisciplinares? Penso que já é hora de oferecer um treinamento aos que fora do ambiente oficialmente acadêmico atuam e colocam a mão na massa diariamente nas escolas, sobretudo as públicas.
COMO FUNCIONA E POR QUÊ? – Para entender bem a composição das questões sugiro que você não deixe de examinar o link acima sobre a prova de ontem e constate que invariavelmente os desafios trazem uma plataforma específica centrada em uma disciplina, mas jogam charme para as demais, assim deste modo:
> Lançam um problema.
> Listam afirmativas ou referências analógicas através de ilustrações diversas- entre cinco alternativas objetivamente indicadas.
> Pedem para assinalar a resposta correta.
E A COERÊNCIA DA FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA? – Eu visito muitos edublogs, leio bastante sobre a produção acadêmica e é possível avistar alguns colegas professores em concerto de âmbito multidisciplinar no que escrevem e articulam, mas se há uma cobrança de interdisciplinaridade para entrar na universidade é evidente que para sair dela e bem ensinar também deve ser uma exigência – e enquanto não se ajuda oficialmente na reciclagem metodológica dos professores na ativa, algo precisa ser feito com urgência, caso contrário aquele ditado “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço” desautoriza a confiança nos potenciais educativos de uma instituição de nível superior. Penso nisso aflitivamente todos os dias.
QUESTÕES PARA PENSAR E COMENTAR POR ESCRITO
> Aproveite para reler Os movimentos educacionistas(GP,Opinião 27/11), assinado pelo professor e senador Cristovam Buarque? A partir do que ele explica é possível discordar de algum ponto? Comente; argumente.
> Quais as maiores dificuldades que você encontrou ou ouviu sobre os simulados de conhecimentos gerais aplicados no colégio ou cursinho ou mesmo na prova de ontem pela UFPR? Argumente.
GOSTOU DO TEMA? Sugestões para aprofundamento:
> A interdisciplinaridade ao alcance da escola, de Delcio Barros da Silva, da UFSM.
>Interdisciplinaridade: Educação, História da Cultura e Hipermídia, de Sérgio Bairon.
> Visite a página do Professor Sandro Viégas – e veja como um edublog de física, matemática e estatística pode bem reunir informes multidisciplinares. Gostei bastante.
Até a próxima!