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Letra ilegível não é ” letra feia”
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O projeto de um deputado paranaense ” prevê punições para médicos que emitirem receitas e prontuários ilegíveis” conta certamente com a simpatia de todos, mas é conveniente rever alguns pontos para não cometer uma injustiça. A reportagem ” Garranchos com os dias contados“, de Cecília Valenza ( GP, 15 de nov.), explicita as razões e o trajeto do assunto – e vale certamente a leitura integral do texto, assim como uma reflexão sobre as causas desencadeantes da famosa ” letra de médico”.

Rodolfo Bührer/Gazeta do Povo
Receitas manuscritas podem desaparecer: a solução seria o uso de documentos impressos assinados pelos médicos

A experiência com a redação manuscrita

O prezado leitor já sabe que trabalho com a escrita manuscrita e são vários os problemas que vejo na redação dos estudantes – e o conjunto de condições que tornam um texto legível tem sido a causa de muitas dificuldades para quem avalia a produção escrita.

O curioso é que nas séries iniciais do ensino fundamental a professora bem orientada costuma incentivar as crianças para o capricho no traçado das letras – o que legitima, inclusive, a adoção imprescindível dos cadernos de caligrafia, coadjuvantes que não diminuem em nada o mérito das orientações escolares envidadas nessa direção, mas, a partir da 5ª série, quando o número de professores aumenta , lamentavelmente o cuidado com a escrita manuscrita é negligenciado. Começa o ” vale tudo ” na redação, tanto da parte dos meus colegas , quanto dos estudantes.

Não conheço infelizmente o texto integral do projeto do parlamentar, mas a raiz do problema que o deputado tenta solucionar não está na punição aos médicos, mas sim na educação da escrita escolar. Tem sido lamentavelmente uma prática comum examinar e punir o efeito causador do problema sem analisar a sua raiz. Observar os fatores desencadeantes de qualquer situação é uma atitude de lógica.

Arquivo  cel. / Encontros Marcados com a Redação / 2008
As vantagens de treinar a escrita ultrapassam as do vestibular

Já fiz comentários em outra ocasião sobre o assunto- e se o leitor estiver disposto a revê-los poderá avaliar com maior critério as dicas para solucionar o problema da falta de condições à leitura, em razão do traçado da letra.

Ponderações necessárias

1- É necessário revisar o conceito de ” ilegível” para não ser injusto com as pessoas que escrevem sem harmonia do traçado das letras.

2- Para evitar queixas em situações futuras , pois que se incentive na escola a manutenção dos sempre bem-vindos cadernos de caligrafia, úteis e de sucesso comprovado. Quem fez uso desse material geralmente exibe uma caligrafia legível, com traçado harmônico das letras e uma visualização agradável do texto manuscrito.

3- Segundo a reportagem há uma lei similar em Brasília, que estabelece a digitação e impressão de receitas médicas no computador, no momento da consulta. Santa ignorância da geografia social brasileira! Alguém já viajou pelas regiões pobres desta pátria? Já observou as condições do exercício da medicina rural? Computador e impressora nas grandes cidades é fichinha, mas nas áreas de carências múltiplas são materiais raros. É preciso escrever, colocar a munheca para agir com harmonia.

Tenho um quinteto infalível para educação da escrita manuscrita. Quer conhecer?

1- O bom exemplo de letra legível dos professores , tanto no quadro quanto nas anotações das correções nos cadernos e provas.

2- Adoção de cadernos de caligrafia aos estudantes que escrevem e não permitem condições de leitura, de interpretação, em razão do descomprometimento caligráfico.

3- Elaboração obrigatória do rascunho, também chamado de borrão.

4- Extremo cuidado na versão final do texto.

5- Reescrita , quando conveniente.

Se o quinteto acima pudesse ser implementado nas séries iniciais e contasse com a adesão dos colegas professores dos níveis subsequentes não teríamos nem jovens vestibulandos às voltas com as dificuldades para mostrar condições legíveis da escrita, nem profissionais de quaisquer áreas que estivessem sujeitos a pagamentos indenizatórios, respaldados pela lei, em razão dos ” garranchos”, ora tão comuns.

Se os médicos brasileiros escrevem com condições ilegíveis devem sim merecer advertências rigorosas do Conselho Regional de Medicina dos estados, mas é possível evitar garranchos futuros nos receituários: com a educação da escrita e maior exigência da escrita manuscrita nas escolas brasileiras. Mais exercício caligráfico e maior solicitação de produção de textos escolares, independente da destreza com o teclado do computador.

E você, meu prezado leitor, tem algo a considerar? Participe, interaja, afinal a educação é tópico que deve estar na mira de todos.

Até a próxima!

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