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Lições primaveris em terreno descuidado

Quisera que também a primavera educacional em nosso país estivesse assim, em tufos abundantes de flores e frutos, contaminados de ordem e progresso, no entanto a falta de cuidados emergenciais com a educação das crianças e jovens não condiz com a alegria contagiante trazida pela primavera.Confira comigo, o dia 21 de setembro ainda nem chegou, mas as flores desta Curitiba e região invadem os nossos olhos com esse colorido farto e emocionante. São jasmins, ipês, begônias, camélias e tantas flores a colorir a cidade. Elas buscam qualquer cantinho em praças, jardins particulares, sacadas ou em amostra vendável nas floriculturas e postos de jardinagem. Belo exemplo de resposta da natureza, sempre pródiga em lições para quem tem olhos para ver e sentimentos e cuidados para compartilhar.

Bato palmas constantes quando a Gazeta dá lugar na sua página nobre a essas visões de beleza e harmonia – e as fotos do Albari Rosa, um autêntico leitor da natureza, parecem trazer para as nossas casas toda essa expressividade.

O que tem uma coisa e a ver com a outra?

Greves no magistério, calendário interrompido, crianças sem escola, reprovações iminentes, professores sem atenção das autoridades, evasão escolar e tantos outros problemas transformam o cotidiano escolar, especialmente do ensino público, em programação sujeita a remendos anuais. Triste educação brasileira relegada a plano não emergencial. Educar é plantar e colher os frutos de trabalho dedicado, inteligente e bem assentado. Eu continuo sonhando e fazendo a minha parte – e sei que é possível estabelecer mudanças quando realmente se quer alcançar um objetivo. Sonhos coletivos não fazem mal a ninguém, ao contrário, embalam os nossos dias e as horas de dificuldades perdem a magnitude, porque avistamos as metas, próximas de alcance Quando um objetivo é urgente todos os esforços devem ser envidados. Veja os exemplos das campanhas de solidariedade. Quem ganha? Sem dúvida, todos os envolvidos.

A minha luta é com a melhoria das condições da leitura e da escrita para todas as crianças e jovens brasileiros, de norte ao sul, de sudeste ao nordeste e centro-oeste deste Brasil, tão grande, tão distinto e repleto de contradições na sua geografia educacional. Há, no entanto muitas barreiras a vencer e a primeira delas é reconhecer efetivamente que o ensino da leitura, da escrita e da contagem matemática requer atenção imediata, emergencial. Feito isto, tudo seria melhor – você concorda comigo?

O que falta?

Dar a palavra ao professor

Quando as autoridades – especialmente as que lidam com as políticas públicas – derem a palavra ao professor comprometido com a educação essas alterações serão perceptíveis. Desconfio dessas tomadas de atitudes em meio ao conforto dos gabinetes de Brasília. Fujo e abomino os discursos amparados por esse pedagogês que não conhece e ignora giz na cara, ônibus apertado, contas para pagar, indiferença da família do escolar, descrédito profissional e a falta de comprometimento do aluno para com os seus deveres.

Formação de mediadores educacionais

Quando a orientação é boa o resultado é positivo. Professores bem formados e competentes fazem a diferença – e quem duvidar disso nunca teve um bom professor ou não foi justo com quem lhe abriu as portas da informação qualificada. Não é qualquer um que serve para ser professor.Muitos são os licenciados – e a cada ano centenas de novos profissionais do ensino recebem diplomação – no entanto poucos conhecem o que pretendem e dizem ensinar.

Um projeto educacional estimulante

Minha filha estuda em uma das mais conceituadas escolas de Curitiba, mas nem por isso chega contente em casa com o que vivencia todas as manhãs. A escola é impositiva, a maioria dos professores usa o gogó estridente e ameaças diversas para manter disciplina e os conteúdos, desconexos, embora a propaganda da instituição divulgue um projeto pedagógico antenado com as últimas novidades do mercado educacional. Apenas três pontos ela faz questão de bater palmas: a convivência com os colegas de sala, os 20 minutos de recreio e as aulas do professor de filosofia. É pouco para quem espera mais de uma escola com tanta projeção.

Atendo também alunos da escola pública e a realidade apresentada por eles não difere. Tristeza é o que sinto ao ouvir e acompanhar os relatos dos poucos jovens que mantêm um projeto de estudos mais avançados. A propaganda do governo – atestando que tudo vai bem, obrigado, povo do Paraná – é apenas resultado do discurso político, na prática a situação é outra.
Se eu dependesse da escola pública de hoje para alcançar os conhecimentos que obtive com a escola pública de antes, da minha época de menina e jovem universitária, ficaria apenas sonhando e dando murro em ponta de faca.

É preciso gostar do que se faz para expressar entusiasmo, motivação e exemplo – será que alguém duvida disso?Eu não. Professor de História tem que amar a disciplina, o de Português precisa dar a vida pela leitura e a escrita e qualquer conhecimento é assim; é pelo exemplo e amparados pelo entusiasmo que um docente contagia seus alunos por essa curiosidade pelo conhecer mais e mais, sempre.

Educar integralmente nossas crianças e jovens

Quando se matricula uma criança na escola o que se pretende com essa atitude? Que aprenda a ler na própria língua, a escrever com prontidão e a trabalhar conscientemente com as quatro operações matemáticas, além de aprofundar as lições de respeito, de direitos e deveres. Isso é que se espera da escola. A formação de mulheres e homens de bem. O que se vê? Ensino fraco, sem conteúdos articulados e um descompromisso dos envolvidos com a educação. É quase uma batalha perdida…

Algumas tristezas que carrego

>Conviver com jovens que receberam ZERO em redações, pois não sabem expressar o pensamento com clareza na própria língua.

> Folhear o caderno de escolares e ver que eles escrevem pouco – e quando o fazem a correção feita pelo professor deixa aquela marca horripilante de “Visto”, visto o quê? Essa palavra não diz nada em termos de significação para o aluno.

> Tarefas de casa sem objetivos, sem desafio que justifique aquele tempo voltado a uma atividade obtusa, sem atrativos e absurdamente desconexa.

> Constatar o despreparo dos meus jovens colegas de língua portuguesa. Há um descompasso terrível entre mediar conhecimentos a partir de competência teórica e improvisar aulas, amparadas por apostilas ou livros didáticos.

Duas alegrias>

Ver tantos jovens lendo, mesmo que sejam esses “teenbusters” (livros que foram feitos de caso pensado para o público jovem). Com essa leitura eles exercitam a reflexão e aproveitam a boa tradução que essas narrativas receberam.

> Conhecer jovens vestibulandos e aspirantes à carreira universitária e que revelam acentuada responsabilidade social. Querem ser médicos, administradores, historiadores, odontólogos, agrônomos, publicitários e engenheiros para fazer a diferença no mundo. Esse convívio retroalimenta as minhas esperanças e dá sentido à minha luta diária com a leitura e a escrita.

Sugestão imperdível: leia urgentemente na Gazeta do Povo deste domingo a reportagem “Uma escola que mete medo”, de José Carlos Fernandes. Uma retrospectiva repleta de sentidos diante das taxas de reprovação e a força da cultura da repetência escolar.

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