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Além das aulas de redação, transformadas em autênticas oficinas de leitura e escrita, trabalho como corretora de textos o que permite, através dessa prestação de serviço, estabelecer um reforço ao meu orçamento mensal. Atualmente corrijo redações de alunos de um pré-vestibular de Curitiba, no entanto, cada vez que abro um pacote com centenas de redações fico entristecida com o grau de deficiência interpretativa -e a incapacidade de expressar por escrito sobre o que é solicitado aos jovens vestibulandos, tais como resumo e textos de opinião entre outros modelos.

Na correria atual poucos são os que refletem acerca das reais dificuldades apresentadas pelos jovens prestes a concluir o ensino fundamental ou o ensino médio e, prioritariamente os vestibulandos, quando o assunto é escrever com clareza e adequação às contingências da comunicação. Diante do que ouvimos dos jovens quase sempre os comentários apreciativos são breves e monossilábicos – e expressam as limitações do vocabulário, tais como “legal” e “massa” ou ainda “só…”. Quem é observador atento percebe a raiz do problema: o desconhecimento das DEZ PALAVRAS BÁSICAS que orientam os conhecimentos de morfossintaxe, essencialmente requisitados nos vestibulares e na prática efetiva das atividades profissionais.

O que é isso?

A prática docente permite perceber, logo de cara, as limitações dos alunos quando o assunto caminha para o resgate dos nomes que as palavras têm, sob a tutela da Morfologia. Costumo checar esse conhecimento para conferir as condições – e o resultado não me surpreende mais. A moda desenfreada que assolou nossas escolas com “o texto pelo texto” baniu o conteúdo teórico essencial e extirpou a Sintaxe em nome de um modernismo inconseqüente.

Os vestibulandos nem sabem que são indiretamente cobrados acerca dos conteúdos morfossintáticos, que incluem necessariamente os domínios semântico, morfológico, sintático e lexical – e, se soubessem teriam raríssimas dificuldades para escrever com clareza e eficiência. Em geral, meus colegas professores de língua portuguesa, preferem dourar a pílula e afastar conteúdos mais exigentes, em nome de um vulnerável, fraco e fraudulento agir pedagógico, simulador de orientações que subtraem a necessária compreensão da teoria para lidar com os fatos lingüísticos.

Não saber o significado das palavras, desconhecer-lhes a forma e as funções que exercem na elocução efetiva entre amigos, no trabalho, na intertextualidade que nos rodeia com jornais, revistas, internet, televisão, panfletos, publicidade, entre outros são condições infelizes para ler e escrever – será que alguém com mais de trinta anos de idade duvida disso?

Fazer o quê?

Aproveito jornais, revistas e panfletos – materiais geralmente desprezados pela maioria. Este é o meu ponto de partida. Entrego a cada vestibulando um exemplar de um jornal ou revista para que o examine. Observe-lhe o tamanho das letras, a presença das fotos, os créditos de autoria, a temática dos artigos, a presença marcante dos níveis vocabulares e dos estilos. Sugiro que atente para o número de parágrafos utilizados por este ou aquele articulista. Destaco a presença da diversidade lingüística e a constatação que faz é imediata: existem modos de escrever, mas a exigência é a mesma, ou seja, a clareza e a novidade no que dizem.

Quais são as palavras básicas?

A primeira palavra básica que sugiro resgatar nesse material de apoio são os VERBOS e presencio equívocos nessa escolha, confundida com outras categorias morfológicas. Distinções e especificidades? Não sabem fazê-las! Parece ser pedir demais. A segunda palavra que devem localizar são os SUBSTANTIVOS. É uma confusão, um caos! A palavra que dá nome aos seres parece ter sido banalizada e transformada em qualquer outra, menos substantivo. Partimos atrás dos ADJETIVOS e a troca continua até encontrarmos os PRONOMES. Faço comparações, indico-lhes pistas, uma vez que eles substituem os nomes, mas não tenho sucesso. Não sabem. Arrisco agora os ARTIGOS e um ou outro os conhece e, apontam muitas vezes envergonhados com a escassez de certezas. Respiro fundo e procuramos os ADVÉRBIOS. A maioria entreolha-se e ouço um o outro dizer que “é algo ligado ao tempo”. Salve! Respiro aliviada!

Desta vez vou mais longe e peço que circulem as CONJUNÇÕES. Avivo-lhes a memória com a advertência de que “viram este tipo de palavra na sexta série”, mas não adianta. Está ai a causa das incoerências e dificuldades coesivas que tanto atordoam o vestibulando na redação.

Sem disfarçar a preocupação sugiro que encontrem as PREPOSIÇÕES e neste ponto há confusão entre os conectivos e outras palavras já identificadas. Digo-lhes que o uso efetivo e bem planejado das preposições afasta as dificuldades relacionais, coesivas,mas nada parece me surpreender agora. Peço-lhes que apontem os NUMERAIS e um aluno mostra a palavra “segundo” em função condicional, o que exibe a confusão e o desconhecimento da função sintática da palavra.

Desta vez partimos em busca das INTERJEIÇÕES e esse pedido é uma “cacetada” nos participantes. Eles não sabem, por mais que tentem. Eu dou risada, não para fazer pouco, mas para mostrar que eles usam as interjeições em todos os momentos, mas isso não adianta, eles não compreendem.

As palavras básicas são tão ausentes na bagagem dos nossos estudantes! Quem recebeu informações teóricas e aliou esses conhecimentos à prática efetiva sabe que não estou brincando, mas sim denunciando uma grave lacuna na formação lingüística dos estudantes dessas últimas gerações. Minha preocupação é muito séria – e ainda bem que as questões discursivas vieram desestabilizar a maré mansa do ensino da língua portuguesa. Quem duvidar experimente perguntar a um vestibulando ou concluinte do ensino médio se ele está seguro para “encarar” as questões discursivas. Ouça-lhe a resposta e reflita sobre os comentários que fiz.

A postagem sobre morfossintaxe continua…;aguarde!

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