Obedecer sem questionar é regra geral; obedecer e desejar encontrar sentidos é privilégio da minoria, infelizmente. Veja o caso da escrita; não há quem ignore as dificuldades da maioria para seguir os ditames que regem a expressão escrita. A pendenga vai longe, exige discussão, investimento, reformas e qualificações, mas não é o caso para analisar agora. Quero hoje destacar dois pontos básicos: por que escrever e por que atender às convenções da escrita – está a fim de ler? Acompanhe.
Por que escrever?
Oralidade e escrita são duas instâncias bem distintas. A primeira é como um cavalo desembestado, sem sela e cavaleiro atento, cuidadoso. Está interessada unicamente em comunicar e permite de qualquer jeito, aceita omissão de palavras, tolera esquecimento de pormenores e incluí piscadas para o interlocutor, mãozinha no ombro dele e volta para consertar, ajeitar qualquer equívoco ocorrido. Falar é uma proeza , uma aventura espetacular, sujeita aos tropeços naturais. Não há, entretanto, quem não se curve diante de uma boa conversa, gerenciada pela comunicação efetiva.
Escrever é outra coisa, muuuito diferente, exige técnica, disciplina, estilo e muito exercício – e não é por menos que muitos se quivocam quando pegam o lápis, a caneta ou se utilizam do teclado do computador para expressar idéias. Escrever requer reflexão, atenção apurada e objetivos claros. É intento para poucos, lamentavelmente. Não é de hoje que muitos declaram que não sabem escrever, mesmo tendo um diploma universitário.
É imprescindível lembrar a todos que cada instância tem os seus recursos próprios; no caso da escrita: vocabulário, legibilidade, pontuação, uso dos verbos, conectores de sentido, etc.; enquanto na fala o ilimitado uso de recursos da oralidade: tom de voz, expressão do olhar, hesitações lingüísticas calculadas, etc.
Falar e escrever em língua portuguesa ou em outro idioma obedece distinções e ponto. Será que vale a pena discutir sobre duas coisas diferentes? Não. Vale sim tentar entender e promover os ajustes convenientes- e age assim quem sabe discernir contradições, inclusive lingüísticas.
Por que atender às convenções da escrita ?
A escola infelizmente não tem preparado a criança e o jovem para a escrita; esquece que a palavra decisiva é ADEQUAÇÃO. É preciso que os professores que trabalham com o ensino da língua portuguesa sejam bem formados, inclusive lingüísticamente; assim eles poderão nutrir as aulas com questões de aparente insubordinação às regras, mas terão suporte teórico para explicar que o idioma se manifesta de diferentes modos. Há um jeito ajustado e próprio a cada situação, contigência ou contexto, entendeu meu amigo leitor? Quer uma comparação? A escolha da roupa, sempre adequada ao clima e às necessidades do contexto. Lá em Belém, onde morei a maior parte da minha vida, nunca usei roupa de lã, afinal a minha saudosa capital paraense o clima é sempre quente,em pleno verão anual, enquanto aqui, em Curitiba e no Sul do pais nos ajustamos às diversas variações climáticas, não é mesmo?
O jovem vestibulando precisa, por força da exigência de um processo seletivo, mostrar que conhece as várias formas de se comunicar, inclusive pela escrita convencionalmente aceita na sociedade letrada. Qualquer insubordinação aos ditames da escrita formal – bem cuidada, que atende às exigências próprias – desatenderá às solicitações da comissão que elabora provas em concursos, afinal, o Vestibular é um processo competitivo.
Há uma contradição, no entanto, nos vestibulares concorridos: os jovens estudantes não aprenderam a usar os vários modos da linguagem escrita na escola – e são cobrados duramente nessa familiaridade.É querer extrair leite da unha do pé. A comissão que elabora as provas pressupõe que a moçada domina as regras da escrita e que entende as variações entre oralidade e escrita. Os candidatos sofrem , portanto, para escrever em consonância com as regras, convencionadas, deliberadamente arbitrárias, mas sempre aceitas na universidade , no mundo do trabalho e na vida de relações profissionais que estabelecerão vida afora. Para corrigir distorções -….ah…meu Deus !! – é preciso uma vontade política daquelas…
Escrever resumos, expressar opinião em textos argumentativos, dissertar sobre temas diversos, analisar infográficos, dar continuidade aos textos, elaborar transposições lingüísticas, interpretar textos poéticos , inferir idéias advindas em tirinhas, charges e outras tipologias estão na mira dos vestibulandos , mas elaborar todos esses modelos de textos requer, antes de tudo, a compreensão, o entendimento dos porquês das suas exigências. Será que alguém explicou aos estudantes? Será que sem entender os objetivos dessa cobrança possibilita atender os ditames da escrita, assim, ” na boa ” ? Eu duvido.
Sugestões de mais leitura e escrita
> Examine o texto do cronista ( e premiadissimo !!) Cristovão Tezza e redija um comentário à Coluna do Leitor; limite-se a 6 linhas.
> Participe da proposta interativa do Caderno do Vestibular e ofereça sugestões de pauta às próximas edições; mantenha objetividade expositiva e apresente motivos a cada item da sua lista; não exceda as 7 linhas.
Até a próxima!