Que vinho beber, que rótulo escolher? Pergunta que assalta desde o iniciante até um consagrado bebedor, com muitas décadas e milhares de garrafas de experiência. No fundo, é uma santa pergunta. Longe de ser um dilema inibidor, estimula a imaginação e revela uma dádiva, pela grande diversidade de vinhos existentes, em qualquer faixa de preços. Como me orientar em relação à garrafa que vou comprar – ou que já tenho na adega – e beber?
Desde que iniciei pelas artes do vinho até hoje, faço como os navegadores na orientação de suas rotas: uso a bússola. Com os quatro pontos cardeais ajustados para: produtor, região, casta e safra. Funciona em qualquer gama de preços. Ao Norte, quem faz o vinho, o produtor, a personificação do trabalho e da arte humana, seja no trato do vinhedo, seja na faina da adega. Leste e Oeste, percurso da trajetória do sol, casta e região, com o conceito de terroir que faz parte desses dessa linha luminosa. Ao Sul, a safra. Os três último refletem a mais pura natureza, a base natural dos vinhos.
Esses quatro fatores combinados propiciam o gosto do vinho: a personalidade e o caráter próprios de um determinado rótulo. Por exemplo, uma uva: Cabernet Sauvignon; uma região: Chile; uma safra: 2016; um produtor: Concha y Toro, Errazuriz, Santa Carolina, Montes, Ventisquero ... e outros que o leitor se lembre. Mesmo assim, o vinho de Cabernet tem sua personalidade própria, diferente de um com a Syrah. Além disso, um chileno é diferente de um argentino, californiano, brasileiro ou francês com a mesma uva.
Então é fácil de se orientar. Escolho um dos pontos cardeais, qualquer um. A partir daí passo ao segundo, ao terceiro e ao quarto. Muitas vezes, essa operação se resolve em um átimo de segundo, quase um impulso. Ah, quero um vinho tinto alentejano que não custe muito. Passo ao produtor, safra, ou vice-versa, e até ao tipo de castas no vinho, para as diversas nuances. Compro e bebo. Gostei, fica na memória e repito no futuro. Não gostei tanto, procuro ver qual ou quais dos fatores não deram muito certo e corrijo na próxima vez. Assim, a memória gustativa forma e expande seu banco de dados, ajudando nas escolhas futuras.
E as pontuações? São referenciais de qualidade, patamares de qualidade, outra coisa. Falaremos delas em outro artigo. A seguir, breves comentários acerca de cada um dos quatro pontos cardeais da bússola do vinho.
Produtor
Este é o Norte. Bons produtores fazem vinhos melhores e mais completos. Maus produtores fazem vinhos piores e desinteressantes.
Além disso, cada produtor tem sua arte, com abordagem peculiar no trato das vinhas e na elaboração do vinho. Tipo de vinificação, de leveduras. Estágio por mais ou menos tempo. Micro oxigenação, pré-fermentação a frio, pigeage, malolática, battonage, mais ou menos marcado pela madeira, uma infinidade de fatores, como um pintor diante de sua palete de cores.
Um bom vinicultor, como um artista, imprime nuances próprias ao vinho, sem destruir, antes, valorizando as características das uvas que entraram na adega. Cada vinicultor, por sua vez, mantém seu padrão, o estilo da casa, através dos tempos. Por isso a escolha do produtor é um norte, como que garantia da qualidade e personalidade do vinho.
Região
Emprego aqui o termo num sentido bem amplo. Pode ser um país ou uma região dentro de um país, demarcada ou não; ou ainda sub regiões, ou mesmo um vinhedo específico.
A origem confere personalidade própria ao vinho, em função dos solos e clima próprios.
Quanto se tratar de vinho com denominação de origem oficial, dita controlada (doc ou aoc), é garantia de que a bebida foi elaborada apenas com as castas regionais admitidas, dentro de certo perímetro geográfico e com padrões mínimos para manter sua personalidade. Por exemplo. Se falo Borgonha tinto, a casta será Pinot Noir.
A região diz muito da personalidade e tipo de vinho. Se o leitor pensar, por exemplo, num Chianti, num Rhône ou num Malbec argentino, já percebe as diferenças e personalidade de cada qual. E vê logo uma orientação para a escolha.
Castas
Com a entrada em força dos vinhos do Novo Mundo, a partir da década de 1980, a designação da casta, predominante naqueles rótulos, passou a ser novo e relevante fator de identificação. O rótulo destaca a uva: Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Syrah, Pinot Noir, e assim por diante.
As diferentes castas viníferas em todo planeta devem ir ao milhar ou mais. A diversidade constitui uma grande riqueza natural. As mais empregadas limitam-se a cerca de umas 50 a 100, grosseiramente, entre tintas e brancas. Sejam usadas isoladas ou em corte, cada qual confere ao vinho características muito peculiares e próprias.
Se pensar na Sangiovese ou na Pinot Noir, já percebo a diferença de saída. Idem com as brancas, por exemplo a Chardonnay, a Sauvignon Blanc ou a Gewurztraminer.
Safra
A safra molda o mesmo vinho, de um mesmo local e castas, de forma diferente a cada ano. Safras mais calorosas dão vinhos mais alcoólicos, cheios, mais opulentos, muitas vezes com laivos confeitados, taninos menos ostensivos e, no pior, chatos e sem vida. Mais frias, nubladas, uvas menos alcoólicas, mais adstringentes, mais acidez, mais profundidade, maior austeridade e, no pior, duros e insípidos. As colheitas superiores são as mais equilibradas e que permitem a melhor maturação fenólica das uvas.
A safra pode ser a diferença entre um vinho mais duro e difícil ou excessivamente rico e sem vida; e outro, do mesmo rótulo, charmoso e encantador. Nos países do Novo Mundo, de latitudes mais baixas em geral, o fator safra não costuma ser tão crítico. Já com os vinhos europeus, faz toda diferença. Não se assuste: há diversas tabelas de safras na internet, fáceis de consultar gratuitamente.
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