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Essa não é a primeira crise que passo e provavelmente não será a última. Estamos todos em quarentena por conta dos impactos da Covid-19 e, consequentemente, os negócios estão efetivamente parados. Apesar da gravidade, eu consigo olhar situação por outras perspectivas, e não posso deixar de enxergar as oportunidades.
O primeiro ponto que nos abateu foi a grande onda da pandemia na saúde, à qual ainda estamos lutando e nos adaptando. Mas não podemos ignorar a segunda onda, que é relativa à economia: de fato, empresários e investidores estão se sentindo incomodados e assustados com o tamanho do estrago e com o que ainda vem pela frente.
Economistas alegam que o alongamento do confinamento matará mais negócios do que pessoas, e isso porque muitas empresas não estavam preparadas para o lockdown e não tinham caixa para segurar a operação parada por três meses, tendo como reflexo o desemprego e a recessão.
Acontece que, no mundo das startups, muitas estão "surfando" (no bom sentido) nessas duas ondas do coronavírus. Na onda da saúde, diversas soluções de startups foram apresentadas à sociedade através de iniciativas colaborativas como a #StartupsVsCovid19 e a SOS Covid 2019, que estão ajudando na sobrevivência das pessoas.
Outras startups já estão surfando também a onda da economia, atendendo e ajudando diretamente as pessoas e os negócios a não se afogarem e continuarem operando - seja com delivery, com e-commerce ou com diversos serviços digitais, ferramentas ou plataformas.
No geral, esse é um bom momento para as startups porque elas estão acostumadas a ambientes de extrema incerteza. Os empreendedores brasileiros são resilientes, seus modelos de negócios são enxutos, digitais e escaláveis, no geral eles já trabalhavam em espaços colaborativos e home office, fazendo muito com muito pouco. Por isso, o impacto das mudanças está sendo bem menor nessas empresas.
Acredito que as ações e os resultados das startups durante a crise serão reconhecidos como soluções mais acessíveis, eficientes, baratas e também consistentes. Como consequência, sairão desse período com a imagem consolidada como um tipo de empresa mais segura, de impacto social e uma opção mais clara de investimento. Para reforçar o meu argumento, sugiro a leitura de um antigo e famoso artigo de 2008, de Paul Graham: Why to start a startup in a bad economy ("Por que começar uma startup com a economia em baixa", em tradução livre).
No mundo dos investimentos e de venture capital, sem dúvidas o impacto da Covid-19 e o alongamento do confinamento deixou o mercado mais apreensivo e, obviamente, mais lento. O foco mudou para o apoio ao portfólio e um cuidado redobrado com as startups investidas. No entanto, não podemos negligenciar a oportunidade do bom momento para investir em startups.
Na Bossa Nova Investimentos, por exemplo, estamos agindo na direção de continuar investindo. Somente neste mês de março, mesmo após a quarentena, fizemos seis novos investimentos em startups, como a FrameFy, Repassa, Wellbe, Numenu, Trakto e 4 Student. Temos mais quatro investimentos em andamento para concluir até o final do mês. Claro, isso só é possível porque somos bem equipados tecnologicamente e a nossa estrutura de backoffice funciona normalmente em home office.
Um levantamento com alguns investidores anjo da entidade Anjos do Brasil apresentou uma tendência de postergar investimentos. Mas, apesar desta tendência e de um suposto recuo nos investimentos em startups relatado pela Cbinsights, a Bossa Nova vai na contramão e continuará acelerando. Por quê? Porque apesar de sermos estruturados, prudentes e diligentes, somos empreendedores que investem e, principalmente, somos pró-mercado. Nesse sentido, vamos continuar investindo rápido mesmo durante a crise. Mais do que isso, acreditamos que teremos uma ressaca positiva pós-crise e um 2021 maravilhoso com vários EXITS acontecendo.
Tenho conversado com muitos empresários e investidores, e as opiniões sobre o tema são diversas. Existe no mercado muito medo e desinformação, mas tenho mostrado a eles meu apetite e minha disposição de ser mais ativo e ágil nos próximos 12 meses do que fui ao longo dos meus 11 anos de experiência como investidor de startups.
E não estamos sozinhos nessa linha de pensamento. No último domingo (29), em uma simples pesquisa em um grupo de WhatsApp, quase 60 investidores relataram e reforçaram o interesse de continuar investindo em startups mesmo durante a quarentena.
São eles: ACE, Allan Costa, Alexia Ventures, Anjos do Brasil, Banco BV, Baita, Benício Filho, BMG Uptech, BzPlan, Bossa Nova, Caravela, Cassio Spina, Cedro Capital, Core Angels Atlântic, Curitiba Angels, Distrito, DOMO Invest, Ebricks Ventures, EquityRio, Fábio Koreeda, Fran Abreu, Fernando Lemos , Gávea Angels, Gear Ventures, Gilmar Pertile , GooDz Capital, G2 Capital, HBS Angels, Honey Island Capital, IndicatorCapital, Ipanema Ventures, Iporanga Ventures, Italo Nogueira, Janguê Diniz, Jupter, KPTL, LM Ventures, Marco Poli, Mauricio Trezub, MSW Capital, Neuron Ventures, PARALLAX Ventures, Plataforma Capital, RD2 Ventures, Riverwood, The Next Company, SP Ventures, Sirius VC, Smart Money Ventures, Startupi, SuperJobs Ventares, Thiago Oliveira, TM3 Capital, TrivèllaM3, Verus Group, Wayra , Wow Aceleradora, Yves Nogueira, 42K Investimentos, 100 Open Startups, LAAS, Samba Investimentos, Jorge Rocha Baltoro Group, BR Angels, Blocko Ventures, Marcos Semola.
Muitos ficaram de fora desta lista apenas porque não tiveram tempo de participar da pesquisa ainda no domingo, mas essa relação já é suficiente para mostrar que o mercado de venture capital não parou.
Se investir em startups no Brasil já era um ótimo caminho que muitos estavam seguindo, agora com as bolsas oscilando e caindo, taxa Selic menor, dólar subindo e mercado muito incerto em todos os sentidos, investir em negócios inovadores que resolvem problemas existentes e urgentes se tornou definitivamente uma ótima oportunidade de investimento neste momento. Na minha opinião, postergar investimento agora só pelo argumento do medo é sinônimo de perder os melhores deals e oportunidades.
É hora de investir sem pânico em startups. Além da pouca volatilidade, é também uma forma de ajudar o pequeno negócio, ser solidário e manter o mercado ativo. Sentar em cima do seu caixa e segurar seus investimentos por receio do futuro não vai te levar a múltiplos retornos interessantes no médio e longo prazo, nem vai te trazer retorno social no curto prazo, estimulando o pequeno empreendedor e o mercado. Claro que isso não é uma garantia ou uma promessa: por isso mesmo que, caso você seja um investidor qualificado e não sabe como investir, é melhor procurar e seguir um líder com track record.
Acredito que como os investimentos nos estágios anjo e pré-seed são feitos com valores e aportes menores, pulverizados em grande parte por investidores pessoas físicas que têm mais disposição ao risco, com independência de decisão e também mobilidade financeira é mais simples e rápido voltar a alocar agora os investimentos para as startups.
Se fosse possível investir através de uma corretora e se eu fosse um analista de investimentos, essa seria minha recomendação e justificativas para direcionamento e alocação de investimentos para startups em relação a este momento e aos impactos da Covid-19:
- As startups possuem negócios mais resilientes em momentos de incertezas;
- Ativos de capital intangível tendem a apresentar performance melhor;
- O ciclo de jornada de uma startup (do zero ao bilhão) é em média 8 anos. A exemplo da 99, Gympass, Nubank, Stone, Uber e Zoom, entre muitas outras;
- Menor competição considerando especificidades dos serviços e empresas de base tecnológica;
- Pela disseminação da cultura de uso em detrimento da posse, tanto no segmento corporativo como de pessoa física;
- Baixo endividamento, baixo custo e alta performance;
- Alta aderência a conexões, integrações, adaptações ao mercado;
- Modelos de negócios enxutos, digitais e escaláveis;
- Já adaptadas a trabalhar em home office;
- Promovem o impacto social e resolvem problemas urgentes;
- Muitas startups com soluções para combate a crise e ao Covid-19;
Disclaimer: não sou analista de investimentos e não faço recomendações. Essas informações refletem apenas a minha opinião pessoal e não são nenhuma garantia de retorno futuro. Esses tipos de investimentos envolvem altos riscos e variam de caso a caso, onde a rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e podem ensejar perdas, inclusive da totalidade do capital investido. Antes de investir procure entender as regras e regulamentos da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Minha recomendação para os empreendedores de startups é que eles devem continuar em fundraising, só que de maneira também mais seletiva, tomando cuidado com propostas indecorosas de redução drástica do seu valuation. É hora de escolher bem melhor seu investidor, sem pressão e de forma mais humanizada também.
O dinheiro existe e precisa ser alocado com mais segurança nesse momento, porém cabe a cada startup mostrar essa segurança e a oportunidade de investir agora no seu negócio, e claro, as possibilidades realistas de ganhos e saídas futura.
A minha resposta é SIM, essa é a hora de investir em startups.